Capítulo 8

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NOS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO NOSSO INÍCIO DE NAMORO , EU E MIKE acabamos adotando um estilo muito peculiar de comunicação. Bem, não peculiar, já que WhatsApp era usual e super na moda. E ainda usávamos as chamadas de vídeo para nos ver nos períodos da semana, quando ele ficava fora. Eu ia para a escola meio que amarrada. Posso dizer uma coisa bem claramente. Agora eu entendia porque muitas pessoas não incentivavam namoros de adolescentes durante o período escolar... tirava meio que o foco, a concentração. Eu me pegava várias vezes sonhando acordada, com o queixo apoiado na mão, enquanto a professora Carly declamava um poema nada a ver sobre a Revolução Russa. Cara... estávamos na América, o que eu tinha que saber sobre a poesia russa? Enfim... eu ficava perdida em pensamentos. Nas aulas de Biologia, Química, Matemática. Cara... eu ficaria admirada se conseguisse tirar notas suficientes para ingressar em uma faculdade ao final do ano.
- Sunny...
- Hummm...
- Sunny! - Tayllie chamou com um cutucão nada discreto ao meu lado.
- O que foi?
- Você está quase babando no caderno, anta. Ops... sério?
- O quê? - Está sonhando acordada de novo? Cara... você está hilária - ela disse e riu. Aquilo atraiu a atenção de Jamylle, à nossa frente.
- Sunny está apaixonadaaaaaaa... - Calem a boca! - Tentei silenciar as duas fofoqueiras. Eram minhas amigas, mas podiam ser mais fuxiqueiras que duas velhas da aula de tricô.
- Sério... como ele é na cama, Sunny? - Jamylle perguntou.
- Eu sempre imaginei que deve ser um gostoso total. Com aquelas coxas poderosas... ai, meu Deus. Acho que tive um pequeno orgasmo aqui. Quase enfiei meu lápis no olho de Jamylle. Aquilo era um pouco agressivo?
- Para, Jamylle!
- Sério... conta pra gente...por favorzinho!
- Eu não vou falar nada!
- Queridas, vocês estão falando sobre o trabalho? - a professora perguntou da mesa onde estava sentada imponentemente.
- Claro que sim, professora - menti descaradamente.
- Que bom, Sunshine - ela disse. - Fico muito feliz de ver seu empenho em
tentar colocar suas amigas no mesmo caminho. Ainda bem que eu caía na graça dos professores. Ou estaria muito lascada.
- Escuta, vai ter seletiva para equipe das cheerleaders dentro de uma semana - Tayllie falou. - Mandy disse que deveríamos fazer as inscrições hoje à tarde se quisermos disputar uma vaga. Okay. Aquele ali era um sonho que eu almejava. Enquanto Rainbow era compenetrada ao extremo e vinculava sua vida aos estudos, e sua bolsa da faculdade estava totalmente atrelada ao seu potencial de notas máximas, eu sabia que a minha poderia estar associada ao mundo artístico. O que eu poderia fazer? Éramos duas almas diferentes. Dançar sempre foi minha paixão, desde criança, então eu achava que poderia ingressar na equipe e conquistar um lugar ao Sol, e veja como isso combina com meu nome, fazendo parte das equipes que competiam pelo país nos campeonatos interestaduais de cheerleaders .Muita gente via aquilo como algo fútil, mas eu encarava com a mesma seriedade que um atleta dedicava a um esporte olímpico. Estava empenhada em conquistar uma vaga ali e tentar uma entrada na faculdade através disso também.
- Beleza. Depois da aula podemos ir lá. Quando a hora do intervalo chegou, eu e as garotas estávamos degustando um agradável lanche na cantina quando fomos interrompidas pela equipe de futebol americano que entrou a pleno vapor. Storm parou à nossa mesa e nos cumprimentou.
- Eca, Torm. Você está fedendo,sabia? Não dava pra ter passado pelo vestiário antes? - perguntei, cobrindo o nariz. Eu estava exagerando, mas adorava constranger meu irmão.
- Awn... assim você me magoa, Sunny. Veja bem, quando eu suo, eu exalo o cheiro do sabonete de ervas que a mãe faz, esqueceu?- ele disse e piscou para Tayllie e Jamylle, que quase desmaiaram em suas cadeiras. Idiotas.
- E o time todo veio direto pra cá, porque o treinador é um filho da puta assustador que quer nos aterrorizar. - Uau. Com o quê? - Treinamento de queima de caloria.
- Hummm... o quê?treinar de novo. - Storm, isso não vai fazer vocês passarem mal? - perguntei, tentando evitar mostrar minha preocupação. - Naann... somos machos.
- Imbecil, já ouviu falar em congestão alimentar?
- Bem, o treinador quer nos deixar aptos a assumir um jogo, mesmo que seja algo repentino e tenhamos acabado de sair de um lauto churrasco.
- Só você consegue usar a palavra lauto numa frase e ainda assim ficar sexy, Storm - Tayllie disse suspirando.
- Obrigado, Tay.Revirei os olhos. Aquelas duas assediavam meu irmão desde o ano passado. Ainda bem que ele não lhes dava corda, ou eu poderia colocar grilos na sua cama quando ele estivesse dormindo. Por acaso eu já disse que Storm tem pavor de grilos? Então...
- Okay. Vá, vá... seu odor de... ervas... está perturbando meu nariz.
- Sunny, seu amor fraternal enternece meu coração - ele disse e beijou minha cabeça. Quando se afastou, minhas amigas acompanharam sua figura caminhando pelo refeitório.
- Ai, meu Deus... Seu irmão é... lindo - Jamylle disse.
- Um gostoso.
- Eca. Vocês estão falando do meu gêmeo.
- E daí?
- E daí que não é de um cara qualquer que eu possa concordar e falar: Uau, é mesmo.
- Bom, você agora não pode fazer isso também. Está comprometida - Tayllie disse e piscou.
- Quem está comprometida? - Maxwell sentou-se ao meu lado e colocou o braço sobre meus ombros. - Sunshine. Essa mesma que você está assediando - Jamylle disse com um sorriso seco.Elas não gostavam de Max. Por alguma razão que eu desconhecia.
- O quê? Sunny... me diga que é mentira - Max se virou pra mim e os olhos negros imploravam que eu desmentisse a informação. - Não é mentira. Eu realmente estou comprometida- disse orgulhosamente. Era a primeira vez que eu admitia abertamente.
- Com quem?
- Com Mike Crawford - Tayllie respondeu por mim. Virei e lhe dei um olhar mortal.
- Mike? Mike que está na faculdade? Porra, Sunny! O cara é mais velho que você! Nossa. Aquilo me irritou. Cara, ele era o quê? Um ano e pouco, quase dois anos mais velho que eu, não vinte.
- Ele não é tão mais velho, Max. - Ele já está na faculdade.
- E daí? Ele saiu ano passado. Ano que vem seremos nós, já pensou nisso? - Era uma lógica tão clara que eu custava a entender por que as pessoas não enxergavam.
- Cara, o ritmo de faculdade é completamente diferente, Sunny. Meu irmão está em uma fraternidade na Universidade de Boston, e porra... quando ele volta pra casa, ele conta cada coisa sinistra - Max disse. - Tipo, as garotas lá... elas são totalmente afoitas e os caras não têm lei. Eles traçam geral. Você acha que seu Mike está fazendo o quê? Simplesmente estudando 24 horas por dia? Era um saco Maxwell colocar aquelas dúvidas na minha cabeça. Eram dúvidas que eu sentia, mas por uma coisa que eu precisava admitir: a droga da autoestima. A minha era até boa, obrigada. Eu gostava de mim, me achava bem legal e tudo mais. Não tinha longas crises de dúvidas quanto à minha aparência ou essas coisas que eram tão normais na adolescência. Só no período menstrual. Bem, mas no período menstrual acho que até a Gisele Bundchen devia ter crises com sua aparência. Devia se olhar no espelho e se achar um pouco inchada, com olheiras medonhas, o cabelo sem brilho. Devia sentir cólica, pelo amor de Deus. Por favor, me digam que aquela mulher é um ser humano normal e sente cólica... Enfim... mas eu não poderia dizer que nunca passou pela minha cabeça a dúvida infame sobre a certeza daquilo que nosso namoro supria ou não na vida de Mike.Eu não era estúpida. Já tinha assistido um milhão de filmes e seriados sobre a vida em universidades, então eu sabia como funcionavam aquelas merdas de gama, zeta, pi e o alfabeto grego do caralho. As fraternidades infames que funcionavam como miniputeiros e que desvirtuavam as almas dos jovens que deviam estar ali para estudar. Muitos jovens entravam na universidade já com a concepção de que ali era o lugar ideal para fazer todas as merdas que quisessem fazer antes de adentrarem para o mundo real dos adultos. Então era bem comum que, se você perguntasse a algum americano, cidadão do bem, como ele tinha levado a vida dele na universidade, pode ser que, mesmo ele sendo o senhorzinho gentil, diretor de alguma empresa bacana, ele dissesse: Uouuu... tempos selvagens. Enfim... daí eu tinha medo de que Mike quisesse esses mesmos tempos selvagens como ele proclamava que eu devia usufruir as etapas do Ensino Médio e suas bobeiragens, como festas e jogos de paqueras. Será que ele precisaria daquilo?

MIKE
Os treinos em Princeton, depois das aulas, eram um tormento. Mais por conta da horda de mulheres que ficava à espreita no campus , sempre que o time saía dos vestiários. Por várias vezes eu e Thomas tivemos que esperar lá dentro,meio que escondidos, até que o time todo fosse embora e, com ele, a leva de mulheres fáceis se dispersasse. Acabamos aprendendo a executar aquela saída de mestre. Os outros jogadores já estavam nos irritando com a enxurrada de convites para as festas de fraternidades e facilidade de mulheres disponíveis em aliviar o stress dos treinos árduos. Era tão estranho que quiséssemos apenas passar pelo nosso período de faculdade numa boa? Que já que estávamos ambos comprometidos com nossas respectivas garotas, quiséssemos apenas assistir às aulas, comparecer aos treinos e seguir para o dormitório, em paz? Naquela dificuldade que estávamos enfrentando em fugir das inúmeras festas que aconteciam no prédio onde nosso dormitório ficava, eu e Thomas estávamos pensando seriamente em alugar um apartamento próximo ao campus , mas fora do ambiente da universidade. Daquela maneira seria muito mais fácil escapar do assédio, tanto dos caras, quanto das mulheres. Cada dia que eu falava com Sunny eu podia senti-la um pouco mais grilada com as constantes dúvidas. Ela não forçava a barra, mas eu podia sentir que em seu coração batia o sentimento da dúvida sobre a certeza dos meus sentimentos por ela. Eu podia até entender. Juro que sim.
- Ei, Mikey - Thomas me chamou enquanto fechava a porta do armário do vestiário.
- O quê?
- Esta semana teremos jogo fora. No final de semana. Já avisei à Rainbow que não poderei ir pra casa. Estou puto com isso.Merda. Aquilo só poderia significar que eu deveria avisar Sunny também. Era uma forma sutil de ele me dizer. Eu estava em um relacionamento agora. Alguns protocolos eram necessários. O que eu precisava era deixar Sunny mais do que segura dos meus sentimentos, mesmo que eu não estivesse sempre presente, como havia prometido estar. Merda. Quando aquele semestre acabaria mesmo?

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