EU NEM SABIA POR ONDE COMEÇAR .Claro que com a minha irmã eu tinha liberdade para conversar sobre as coisas, mas nunca tinha revelado tão abertamente meu sentimento um pouco mais intenso e obsessivo pelo melhor amigo do namorado dela. Rainbow sempre soube que sou uma fuinha paqueradora que solta os rojões para todos os lados e nunca deixei às escondidas que sempre achei Mike um gato da melhor espécie já vista. Inclusive, em um dos jogos de futebol que chegamos a ir juntas, quando Thomas e Mike ainda estavam no Westwood Garden, cheguei a deixar abertamente claras minhas intenções de arrancar a jérsei de Mike e lamber ele todinho. Nossa, fui um pouco exagerada na minha descrição, levando em consideração o fato de que o rapaz em questão estava suado e fedendo mais do que um gambá de estrada, mas a ideia era a mesma. Ele sempre foi tão lindo e másculo, com aquela aura de menino calado e introvertido, porém com a quantidade de abdominais certos, capazes de fazer o sangue de uma garota fervilhar em fogo brando. Na verdade, se eu quisesse perturbar Storm, era só alegar que Mike tinha mais gomos nos seus músculos abdominais do que meu próprio irmão. Era bem capaz de Storm entrar em um ritmo louco de exercícios calistênicos só para tentar vencer o desafio de barrar a exuberância muscular do meu objeto de desejo.
— É isso. Eu estou muito a fim do Mike. — Soltei de uma vez só. Rainbow revirou aqueles olhinhos para mim e bufou. Quase na minha cara. Cadela.
— Sunny, que você está a fim dele eu já sei. Na verdade, você está sempre a fim de alguém, mas estou perguntando especificamente do Mike. Nossa, minha irmã fez com que eu me sentisse uma vadia.
— Olha, Rain… só porque eu sou assim, um pouco efusiva em meus cumprimentos ao sexo oposto…
— Pouco efusiva?
— Sim, tipo, só porque eu deixo às claras meus reais pensamentos quando vejo um garoto bonito e apetitoso passando na minha frente, não significa, necessariamente, que eu seja uma garota vulgar e fique vadiando, trocando de galho em galho, como muitas meninas fazem. — Eu não disse isso, Sunny. Apenas falei que nunca sei quando você está falando sério sobre um garoto ou não. Você não foi ao baile com o Tyson, mas ainda assim estava na dúvida com outro?
— Sim, e daí? Mas eu recebi dois convites simultâneos, melhor do que nada, ué. E mais, não é porque fui com Ty que signifique que me enfiei no banco de trás do carro dele — falei exasperada.
— Eu sei, Sunny. Você gosta de deixar todo mundo pensar que você é fácil, quando, na verdade, não é nem um pouco. Essas suas mensagens dúbias é que podem confundir um pouco. Tanto a mim quanto aos outros de fora. Eu sabia daquilo. Não precisava que ela me enfiasse a verdade goela abaixo. Eu só não poderia extirpar minha personalidade de uma hora para outra e fingir ser alguém que não sou.
— Eu sei — eu disse, enquanto passava as mãos pelos cabelos. Naquela manhã, especificamente, eles estavam uma desgraça louca. — Eu só não consigo explicar, mas gosto dele. Só não acho que eu valha todo o esforço.
— O quê? — Rainbow perguntou chocada. — Você está louca? Como assim você não acha que vale o esforço? Era difícil definir os parâmetros que meu cérebro estava delineando.
— Olha, eu só acho que o Mike é tipo, humm… muita areia para o meu pobre caminhão, entende?
— Você está completamente louca, Sunny? Usou drogas na noite passada? Bebeu ponche estragado? Batizado com alguma substância ilícita e alucinógena? — perguntou, e colocou a mão chocada sobre a boca escancarada. — Oh, meu Deus! Você comeu os cogumelos do papai! Comecei a rir loucamente.
— Não! Está louca? Está achando que quero morrer jovem sem experimentar as delícias da juventude, porra?
— Aí está minha Sunshine… — ela disse.
— Okay. Eu estou insegura porque o seguinte… Mike e eu ficamos uma vez, certo? Confessei e esperei que Rainbow pulasse três metros de altura, mas nada aconteceu.
— Certo. Imaginava que você fosse atacar o rapaz em algum momento quando ele estivesse desprevenido… Revirei os olhos, porque deu a impressão de que eu ataquei o garoto na surdina, quando, na verdade, é necessária a presença de dois dançarinos para dançar um tango. — Então, depois disso, eu realmente achei que até teríamos alguma espécie de relacionamento, mas ele nunca manifestou absolutamente nada — falei e suspirei. — Mike fingiu que nada aconteceu e me colocou na zona de amigos. A mensagem acabou ficando muito nítida e perturbadora, significava que aquele beijo havia significado mais para mim do que para ele, então resolvi fingir que estava tudo bem e me comportei como a amiga que ele queria.
— Okay
. — Então eles foram embora para Princeton e, nesse meio-tempo, nós meio que ficamos trocando algumas mensagens aleatórias — admiti, relembrando a doçura de algumas palavras. — E ficou por isso mesmo. — Certo.
— Rain, deixa de ser irritante. Você está parecendo uma terapeuta, que saco.
— Quem sabe não seja esse o curso para o qual me formarei, não é? Já tenho uma cobaia perfeita aqui em casa — brincou.
— Acho que com Storm você teria um doutorado garantido. Entender toda aquela prepotência incubada num mesmo corpo…
— Meu Deus, aí eu precisaria, obviamente, de um terapeuta para mim mesma, a fim de manter minha sanidade. Além de garantir uma equipe de advogados, para me defenderem no tribunal, no caso de eu matar meu próprio irmão, de acordo com as asneiras que ele revelasse. Rimos as duas, porque sabíamos que tudo poderia acontecer com Storm em pauta.
— Certo. Onde eu estava? — No “ficou por isso mesmo” — ela disse, enfatizando as aspas.
— Achei que estávamos na penumbra da amizade e tal. Mas daí, ontem, no baile, ele apareceu do nada, reivindicando seus direitos de namorado, que nunca antes tinha exposto querer ser. Isso me confunde. Mike Crawford me confunde. Rainbow levantou e pegou mais um pouco de água para si e para mim.
— Okay, vamos lá. Às minhas impressões, tá? Eu acho que Mike é muito tímido para admitir certas coisas no momento certo, mas, quando é instigado, acaba revelando sua verdadeira natureza. Thomas sempre diz que Mike é calado, mas revela basicamente tudo o que pensa através do olhar. Nem sequer precisa muito para que ambos se compreendam. Daquilo eu já sabia. Uma das coisas que mais admirava entre os dois era a amizade pura e verdadeira que mantinham desde a infância, além da facilidade de comunicação visual que os classificavam como uma dupla perfeita no jogo. Thomas apenas pensava em arremessar para tal lugar. Mike, como receptor, captava as intenções dele, como quarterback , e, através de uma linha exclusiva de comunicação pelo olhar, eles faziam a jogada perfeita. Era algo lindo de se ver. Não era à toa que ambos estavam configurados na mesma universidade. Os olheiros que os contrataram os viam como uma dupla imbatível.
— Mike é recluso, caladão, mas fiel e extremamente verdadeiro em seus sentimentos. Se ele veio até você ontem, é porque há um motivo forte para isso.
— Ele meio que disse que me quer para ser sua namorada, ou eu talvez tenha entendido que essas possam ser suas intenções, mas eu não sei, Rain… — Meu Deus! Quem é você e o que você fez com a espevitada da minha irmã? — ela gritou e bateu na minha cabeça com força desnecessária.
— Ai, porra!
— Saia, alien! Saia daí!
— Para! Sua louca! — Rain agora estava tentando sacudir minha cabeça, sentada no meu colo, na cozinha, quando a porta se abriu, para revelar ninguém mais, ninguém menos que Storm, com um punhado de batatas em mãos, Thomas, com uma caixa de bombons e Mike, com as mãos nos bolsos e um sorriso discreto no rosto.
— O que está acontecendo aqui? Basta eu sair um minuto e essa casa vira uma casa de loucos? — Storm falou, jogando as batatas na pia. — Ah, olha as batatas que você pediu, Rain. Rainbow parou o que estava fazendo, olhando para Storm.
— Eu não pedi batata alguma, Torm. — Pediu sim, tanto que peguei.
— Eu mandei você conferir o aspecto delas, não colher — ela disse, saindo do meu colo e partindo para um abraço caloroso no namorado.
— Ei, ei, ei! O que é isso? — Storm gritou.
— Estou aqui presente ainda, não percebeu?
— Sim, percebi. O que tem isso? — ela perguntou e eu olhei de rabo de olho para Mike, que mantinha a cabeça baixa e um sorriso no rosto.
— Nada de demonstrações públicas de afeto, pelo amor de Deus.
— Essa regra se aplica à escola e estabelecimentos públicos, Storm — intervim ajudando Rainbow.
— Fica quieta. Estamos em público. Não está vendo? Há um público aqui, vê? Eu, Mike, o infrator Thomas, você e a infratora, nossa irmã mais velha, que deveria dar o exemplo de bom comportamento. Isso é um público. Não tão amplo, nem nada. Mas já dá um agito e tal.
— Meu Deus, cala a boca, Storm. Quando eu penso que você não pode piorar, você vem e me surpreende. Tem certeza que dividimos o mesmo útero? — perguntei, rindo.
— Até onde sei, sim. Era sempre você que entrava na frente das minhas poses perfeitas na hora do ultrassom da mamãe.
— Storm? — Thomas chamou a atenção do meu irmão.
— Sim?
— Trouxe um novo jogo pra você ontem. Está na sala.
— Jura? — perguntou, desconfiado. — Aham.
— Qual?
— Madden 18.
— É essa uma tentativa ridícula de me comprar o silêncio ou minha retirada desta cozinha? Engasguei com a água. — Você acredita que estou te subornando?
— Sim.
— Pensou certo, mano.
— Cara, é por isso que gosto de você. Sua honestidade me comove — ele disse e bateu um cumprimento de macho com Thomas. Fez o mesmo com Mike e saiu, como se nada tivesse acontecido.
— Okay, Thomas, preciso te mostrar uma coisa lá em cima. — Revirei os olhos para a discrição da minha irmã. — Claro, gracinha… — ele disse e passou o braço pelo pescoço de Rainbow, puxando-a da cozinha, não sem antes lhe sapecar um ardente beijo no pescoço. Senti meu rosto corar diante da explícita demonstração de carinho entre os dois.
— Você está pronta? — Mike continuava com as mãos nos bolsos,olhando-me atentamente. Eu hesitava em me levantar da cadeira, com receio de não saber o que fazer. — Ahn, não. Mas porque eu sequer faço ideia de onde você pretende me levar — justifiquei.
— Isso importa? — perguntou com um sorriso lindo.
— Desde que a roupa é um importante apetrecho para o ambiente…
— Vamos ao lago, Sunny. Só nós dois. Então se prepare para nadar. Senti meus batimentos cardíacos acelerarem loucamente com o tom de sua voz. Era possessivo, era sexy e aqueceu todas as minhas entranhas de uma maneira engraçada. Lago? Nadar? Isso requeria uma roupa quase tão pequena quanto a íntima, certo? Okay, meu corpo era legal e estava alinhado no shape , então não havia medo ali. Claro que eu não era perfeita como as garotas de capas de revista, até mesmo porque não tinha o hábito de malhar loucamente como a maioria das minhas amigas. Eu me obrigava a fazer exercícios regulares, porque eu tinha um objetivo, que era entrar na equipe de líderes de torcida, então eu sempre mantinha minhas aulas de dança em dia, mas malhar e puxar ferro, como eu via muitas meninas fofocando nos vestiários? Naaaan… isso eu não fazia mesmo. Deixei a vergonha de lado e acenei afirmativamente com a cabeça, criando coragem para passar um dia fantástico na companhia de Mike Crawford.
— Okay. Eu volto em um minuto. Ou quinze — corrigi e saí rindo.MIKE
Quando Thomas me ligou naquela manhã, perguntando se eu tinha planos, disse rapidamente que sim. Iria pegar Sunshine para um passeio. Pelo tom de sua voz ao telefone e a risada escrota, já sabia que viria alguma piada dos infernos depois, mas deixei passar. Ele acabou me pedindo carona, mas eu sabia bem o que o idiota queria. Além de uma investigação minuciosa do que eu pretendia fazer com a irmãzinha de sua namorada, ele queria ser “largado” na casa de Rainbow, para que tivesse uma desculpa de permanecer lá por tempo indeterminado. Como se não existisse Uber na vida das pessoas.
— Okay, abra o bico — Thomas disse assim que entrou no meu carro.
— Eu não sou um pato para ter bico, idiota.
— Você entendeu e não se faça de desentendido. — Vou apenas levar Sunny para um passeio.
— Hum-hum. Passeio você diz passeio no sentido “passeio” mesmo, ou passeio daqueles que os caras gostam de dar nas garotas? Dei uma olhada irritada para meu amigo.
— Deixa de ser idiota.
— É uma pergunta válida, Mikey. — Vale um murro na sua cara, Thow. Você acha que vou o quê? Desrespeitar a garota pela qual tenho uma queda desde quando fiquei com ela ano passado, porra? Ele me olhou assombrado.
— Okay, eu sabia que vocês tinham ficado, mas não sabia que ela tinha ficado tão entranhada assim na sua mente — ele admitiu. — Você gosta da sua garota, Thow? — perguntei enquanto guiava pelas ruas que nos levavam à casa dos Walker.
— Óbvio. Eu amo minha garota.
— E ela foi fascinante e como um aditivo pra você desde o início, certo?
Revirando sua mente e fazendo você ficar completamente perturbado das ideias e sem saber o que fazer?
— Yeap. É uma definição interessante do meu período inicial com a Rain.
— Então talvez você compreenda um pouco o que venho sentindo desde o dia que fiquei com ela — admiti. Naquele momento chegamos à frente da casa de Sunshine, então nossa conversa deveria ser interrompida. Thomas olhou para mim e apenas disse:
— Uou.
— Yeap. Uou.
— E o que você vai fazer? — O que você fez em relação à sua Rainbow? — Eu a persegui até que ela me aceitasse ao seu lado. Olhei para meu amigo e apenas ergui a sobrancelha, de maneira que ele captasse a essência de sua própria resposta e minhas próximas intenções.
— Uooou. — Exatamente. Uou. Quando chegamos à frente da casa, Storm estava saindo pela lateral, carregando um punhado de batatas. — O que os caras estão fazendo aí? — Íamos tocar a campainha — Thomas disse o óbvio.
— E desde quando você toca a campainha? — perguntou ressabiado. — Venham por aqui e entraremos pela cozinha, manés. Assim a gente pode dar um susto de morte nas garotas. Ou ouvir o que elas estão fofocando. Quando Storm abriu a porta, a cena foi surpreendente. Rainbow estava sentada no colo de Sunshine, tentando bagunçar seus cabelos, que estavam mais desgrenhados do que o normal, mas ainda assim a deixavam linda. As duas riam loucamente, fazendo com que um sorriso surgisse imediatamente em meus lábios. Sunshine fazia jus ao nome que portava. Ela era como a porra de um raio solar direto na retina.
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Sunshine
Teen FictionEntre as irmãs Walker, Sunshine sempre foi conhecida como a mais descolada e de personalidade expansiva. Sempre se sentindo à sombra da irmã mais velha, Rainbow, tão certinha e centrada, Sunny fazia questão de manter uma imagem de que na verdade não...