A parede que existe entre nós

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Novamente seus corpos haviam sido separados, bruscamente, cedo demais. Antes que pudessem se entender, e parecia tão perto. Justamente quando faltava pouco.

Adrien foi interrompido por um grupo de pessoas que adentrou à sala. Ainda bem que não deu tempo de verem como estavam porém era claro o desconforto que se estabeleceu dentre os dois.

Marinette teve que sair às pressas. Não aguentou ficar ali no meio daquela gente falando ao mesmo tempo, quando a poucos minutos atrás, tinha a pessoa que mais importava em seus braços enquanto que tocava nele, o sentia quente, os músculos da sua carne contraírem e relaxarem a medida que ia desenhando, contornando tudo.

Tarde demais para ela. Já havia marcado na sua própria pele, na sua própria memória e isso iria dificultar ainda mais sua condição. Pois seus sentimentos iriam se intensificar, se é que já não estivessem a ponto de explodir. No limite total. Na linha de chegada.

Assim como para Adrien, que evitou em segui-la no mesmo tempo em que a viu sair depressa da sala. Teve que aguardar mais um pouco até conseguir uma brecha de sair sem ser percebido e com os passos apressados, vasculhou os corredores, tendo os olhos atentos, o andar inteiro atrás de Marinette.

Esse era o ponto final. Já estava louco, sedento, como um lobo que farejava sua caça, encontrava-se mais do que decidido: iria contar tudo. Aquela fora a segunda fez que praticamente se declarou para Marinette e já não poderia mais ignorar sua vontade. Ela era mais forte do que qualquer medo, do que qualquer obstáculo que tentasse impedi-lo.

Olhou por todos os cantos, mas não conseguia encontrá-la. Por fim, preferiu dar meia volta e seguir para a sala novamente até que ao retornar, avistou uma imagem na qual fez seu coração tremer. Finalmente havia achado Marinette, mas ela estava acompanhada. Por Kagami.

As duas conversavam bem próximas e pelo o que podia ver, Marinette segurava um ramalhete de rosas chá em suas mãos.

Adrien sentiu que deveria sair dali antes que a vissem, porém já era tarde demais, pois Kagami já tinha o visto da onde estava. Ela logo sorriu e acenou para que viesse ao seu encontro.

– Adrien!

Marinette olhou de relance preferindo manter-se sem muito contato visual. Em seu intimo, estava se preparando para vê-lo nos braços da sua amiga mais uma vez. Aquela imagem amarga que só a fazia sangrar.

- Oi Ka. – Adrien chegou-se próximo com um sorriso desconcertado. – O que ta fazendo aqui...?

Retribuiu o selinho dado pela japonesa, olhando logo para Marinette que mantinha a cabeça um pouco baixa.

"Não meu amor, não olhe pra mim, não olhe isso... você não entende..."

- Eu vim falar com a Mari! –Kagami sorria animada, completamente alheia da situação. – Lembra que eu tava um tempo pra vir aqui parabenizá-la? Hoje eu consegui dar uma escapadinha lá do escritório. E olha Adrien... não são lindas as flores que eu trouxe pra ela?

Ele retraiu os lábios confirmando em silencio enquanto que Marinette tentava se apresentar o mais tranquila possível, ainda que suas pernas tremessem.

- São lindas mesmo Ka, e foi muita gentileza sua trazê-las pra mim.

- Estou te desejando sorte! – Kagami pôs uma das mãos em seus ombros. – Sei que não deve estar sendo nada fácil trabalhar com esse cabeça dura aqui, mas vocês vão se dar bem. Afinal são amigos, a tanto tempo...

Marinette sorriu confirmando com a cabeça ao mesmo tempo em que Adrien se mantinha em silencio, com as duas mãos na cintura. Ambos carregavam um peso invisível em seus corações.

- Bom, já deu a minha hora. Eu preciso voltar. A gente se fala mais tarde hoje? – Kagami voltou-se para Adrien que logo mudou a postura, confirmando novamente sem palavras.

- Ta bom então, até mais tarde. Bom trabalho.

A japonesa dobrou a ponta dos pés para poder envolvê-lo no pescoço e trocar um beijo um pouco mais demorado. No mesmo instante, Marinette teve que fechar os olhos segurando-se às flores, para não cair de joelhos no chão.

Deus não poderia ser tão ruim assim. Fazê-la estar tão próxima daquele home que amava tanto a tão pouco tempo atrás – ainda podia sentir o calor do seu corpo dentre os dedos. E agora estar ali, parada feita um poste, vendo-o com outra. Enquanto esta usufruía de tudo o que desejava. Dos lábios dele, do calor dele...

Por fim, a tortura terminou assim que Kagami se afastou de Adrien, dando dois beijos em Marinette antes de se despedir e entrar no elevador.

Os dois tornaram a ficar sozinhos. Marinette virou-se sussurrando para que voltassem. Ambos caminharam lado a lado, mas quando chegaram à porta da sala, Adrien a segurou por um dos braços fazendo com que se virasse.

- Marinette, eu preciso conversar com você.

- Adrien... com relação ao que aconteceu agora mais cedo, sabe, eu quero que você me desculpe. Não quis tocá-lo daquele jeito, eu só fiquei preocupada quando vi sua cicatriz. – Marinette praticamente resmungava as palavras com os ombros retraídos. Ela já estava prestes a chorar e não poderia ficar ali mais um segundo.Se não poderia... ela poderia...

- Ei... por que seus olhos estão assim?

Inevitavelmente, Adrien percebeu a maneira que seu olhar se portava. Os olhos azuis já estavam tomados pelo marejar do pranto e ele não pode se conter em segurá-la pelos ombros, fazendo com que mirasse diretamente seu rosto.

- O que aconteceu? Me diz... fala pra mim Mari.

Marinette franziu a testa fechando a visão assim que ouviu seu nome sendo pronunciado de uma maneira tão preocupada e carinhosa. Adrien não deveria agir assim se não poderia ser mais do que um amigo. Era um sentimento egoísta de fato, mas se ele não poderia ser seu homem, então que não fosse nada!

- Não. Eu to bem...! É, é que eu fiquei pensando, agora que eu vi a Ka- a Kagami... – suspirou, fazendo uma pausa. As palavras mal saíam.

- Marinette, você acha que fizemos alguma coisa errada...?

- Não. – Novamente, ela tentou se afastar virando o rosto ao sorrir entristecida, mas os braços de Adrien a impediram. – É que eu fiquei imaginando...

- Não tem o que se preocupar. Eu e você não fizemos nada de errado....

Mirando o rosto levemente corado da mestiça próximo ao seu, Adrien sentiu seus lábios secarem por um beijo.

Ele então se aproximou perigosamente, deixando que a ponta do seu nariz cruzasse com o dela. Nesse momento, Marinette que havia parado no tempo pela embriagues do olhar dele, do roque, do cheiro apenas deixou-se levar e fechou os olhos aproximando o rosto...

...Até que ouviram a maçaneta da porta se abrir e mais uma vez, tiveram que se afastar. Por sua vez, Marinette foi rápida em dizer que estava sentido uma forte dor de cabeça antes que perguntassem o motivo do seu choro. Ela então caminhou para ir ao banheiro.

Já dentro da sala, Adrien sentou-se em uma cadeira, afastando os cabelos para trás. Ele tinha uma expressão séria e rígida no rosto. Já era o limite de tudo. Era o fim. Aquela maldita parede deveria ser quebrada de uma vez por todas.

Iria ter que conversar com Kagami e dar um ponto final na relação dos dois, não poderia mais enganá-la. E iria expor todos os seus sentimentos para Marinette. Ela o aceitando ou não.

Era o que precisava fazer urgentemente. Pois tanto ele quanto Marinette não sabiam, mas alguém havia visto os dois perto da porta.

Kagami teve que retornar, pois havia esquecido de entrar a Adrien um pequeno bolo que tinha comprado para ele em uma padaria. Mas quando estava chegando próxima da sala onde trabalhavam, o viu segurando Marinette e a conversa que tiveram.

Do que se tratava? Ela não sabia e nem queria saber. Mas infelizmente, entendia, que havia chegado o momento de encarar a verdade que sempre morou em seu coração.

Adrien não a amava.

Ela não tinha o seu amor.

E ele já estava se dando conta, de quem realmente seu coração pertencia.

O pedaço que falta em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora