Quebrada

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Para falar a verdade, aquele dia não conseguiu ser produtivo nem para Adrien quanto mais para Marinette. Ambos se mantiveram afastados, o que piorou quando ele teve que se ausentar no período da tarde não voltando mais para a empresa.

Enquanto tentava trabalhar, Marinette sentia-se horrível, como se tivesse ingerido um remédio amargo no inicio da manhã que havia estado presente o tempo todo. Ela sabia qual era o remédio, que fora o choque de realidade. Ver Kagami nos braços de Adrien, logo depois que passou suas mãos nele, no corpo do homem de outra mulher. Sendo ela mesma a mulher de outro homem.

Para si, não havia questionamentos, era sim o principio de uma traição. Aliás, desde o começo, enquanto via Adrien sendo tocado e beijado por Kagami, desejando estar no lugar desta.

Naquele ponto, no final da tarde, encontrava-se exausta, necessitando de um banho e descanso o mais rápido possível. Mandou uma mensagem para Luka para que ele ligasse assim que pudesse e dirigiu até seu apartamento, indo logo para o chuveiro depois de deixar cair as roupas que sufocavam pelo chão ao longo do caminho.

Enfiou a cabeça debaixo da água fria, limpando a maquiagem que foi ficando borrada à medida que passava seus dedos sobre o rosto gelado. Naquele lugar, dentre os cômodos silenciosos, sentia-se mais sozinha do que nunca.

O quanto desejava que Luka estivesse ali. Não iria se importar de deixá-lo entrar no banho consigo, para que pudesse lavar sua pele, sua alma, seu coração. Talvez até, os dois poderiam fazer amor de uma vez por todas. De fato, era esse o ponto que estava faltando no seu relacionamento com ele. Entregar-se completamente.

Mas como fazer isso?

Como fazer amor com Luka, enquanto seu coração estivesse clamando por Adrien?

Marinette sabia bem que não iria importar o prazer sentido nos braços do Couffaine, no fim, ela novamente olharia no espelho, e se veria como uma mulher imunda que dorme com um pensando em outro.

Saiu do banheiro mais acabada do que antes e despida com os cabelos desgrenhados, jogou-se na cama, tendo os olhos perdidos mirando o teto sobre si.

Era inevitável, irreparável. A imagem do corpo de Adrien... das suas curvas... não conseguiam sair da sua memória.

O calor dele... a presença dele por inteiro... quando a segurou pela cintura... quando olhou nos seus olhos... sussurrando palavras das quais não conseguia entender...

Ela foi fechando os olhos, relaxando totalmente sobre o fino lençol branco.

Aquelas sensações... Meu Deus...como seria?

Se ele estivesse ali ao seu lado, naquele exato momento? Se ele estivesse como mais cedo, apenas de cueca, deitado ao seu lado. Ou melhor, sobre si, trocando beijos com sua boca...

...Não iria se importar de sentir todo o peso dele sobre o seu. De permitir que ele a beijasse, dos lábios até sua intimidade...

- Adrien...

O nome saiu em meio a respiração falhada. Uma das mãos vagavam lentamente sobre a barriga, sentindo a pele estremecer pela dupla sensação do toque e dos pensamentos. Tocava-se na mesma região onde havia visto a cicatriz no corpo dele.

O que teria acontecido....? Por que tinha se machucado daquele jeito?

Céus, como quis beijá-lo ali. Reparar qualquer dor que tivesse sido sentida no passado ou até mesmo agora. Iria trocar todas as mágoas por apenas prazer, sentimentos bons. Os dois juntos, compartilhando de tudo.

- Eu te amo... te amo-aaahh...!

Já massageava sua intimidade quando de repente, se deu conta do que estava prestes a fazer. Com brusquidão levantou-se irada até o espelho onde se fuzilou com o olhar.

- Você não passa de uma vadia Marinette... é o que você é. Esse  corpo. – abraçou-se. – É imundo por desejá-lo... por querer tanto... um homem... comprometido!!

Ralhou a voz, agarrando-se pelos cabelos ao pressionar com violência os olhos.  E depois de se soltar, olhou um pote de vidro onde havia um talco importado, o pegando com fúria para arremessa-lo de encontro ao espelho da penteadeira.

- AAAAAHHHH!!!!!

O espelho se estourou em vários cacos de vidro, acertando sem querer uma das suas mãos. No mesmo tempo Marinette jogou-se sobre os joelhos pela dor, apertando a pele que começava a sangrar incessantemente. Seu choro veio a tona. As lágrimas transparentes se misturavam ao vermelho do sangue e a dor cortava seu coração como aquele machucado.

Suspirando dolorosamente, elevou a cabeça aos poucos, olhando pelos fios úmidos sobre o rosto tudo ao redor, quando de repente se deparou com uma figura na porta da varanda do quarto.

Em pé, Chat Noir a observava em silencio e completamente assombrado mediante a cena. 

O pedaço que falta em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora