Acordando em um pesadelo

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Desculpa os erros.

"Adrien, meu filho...sei que não tenho muito tempo, então... preciso que me ouça com atenção, tudo o que irei lhe dizer..."

Uma chuva fria caía no exterior da mansão enquanto Adrien caminhava pelo salão de entrada daquele que um dia já fora seu lar. Seus passos eram lentos, como se não quisesse seguir adiante, porém, sabia que não poderia voltar atrás.

Chegava a ser nostálgico. Se ver mais uma vez sozinho no meio daquela majestosa construção que refletia poder e luxo, tudo o que seu pai objetificava demonstrar às pessoas de fora. Como se fosse uma fortaleza, que os protegia, mas que também, deixava claro que ali dentro haviam pessoas solitárias e que lutavam contra um inferno particular, cada um preso na sua própria miséria, ao seu próprio sofrimento.

Ao seguir, observando cada canto, cada móvel, quase nada havia mudado, e por isso, sentia frio, da mesma maneira quando era novo. Não importava se estivesse fazendo o pior calores em Paris, dentro daquela casa, ele sentia frio e solidão. Como se fosse um fantasma que vagava por aqueles vastos corredores, da mesma forma que se encontrava agora.

"... me perdoe por não ter sido o pai que você merecia... por não ter... te dado o amor no qual... você precisava filho... da maneira distorcida e errada que eu comecei a enxergar o mundo quando sua mãe foi embora... eu me perdi.".

Com o semblante triste e o coração quebrado, ele acariciou o belo rosto jovem eternizado pela fotografia de Emilie em suas mãos. Suspirou, dando um beijo sobre a tela, voltando a colocá-la em seu lugar.

A falta na qual Emilie fazia à Gabriel era compartilhada consigo, pois nunca conseguiu se confirmar com a morte precoce de sua mãe. Não era justo que todos pudessem ter ao lado uma mãe e tanto ele quanto seu pai não a tivesse presente. Porque a vida havia tirado assim?

Não era justo...

Nada daquilo era justo..

"Eu tomei pra mim essa dor e me fechei para tudo e todos. Com medo também que esse mesmo mundo te levasse de mim meu filho... por isso, eu fiz tantas coisas erradas...".

... Das quais ele se quer poderia imaginar. E agora, por saber da sua escolha mais grave, do seu maior crime, estava completamente acabado. Caminhou mais um pouco, adentrando ao quarto que fora de Gabriel logo se dirigindo ao lugar no qual o mesmo havia lhe dito, que os Miraculous da borboleta e do pavão se encontravam.

Devagar, Adrien destravou o compartimento secreto onde foi revelada duas caixas pequenas, similares à própria que guardava o seu Miraculous.

Deixou um suspiro pesado sair do peito, machucando ainda mais seu interior quando finalmente, encarou as jóias em suas mãos.

"Tudo o que eu mais queria, era ter a nossa família de volta... eu faria de tudo, qualquer coisa para trazer sua mãe volta, tê-la conosco mais vez... mas meu filho, o amor que eu sentia por ela... me consumiu em raiva e frustração, por não, por não ter sido forte o suficiente para cumprir a promessa."

Adrien sentia a mesma fraqueza, compartilhando as mesmas frustrações, a mesma angustia, a mesma falta.... Tinha sido por isso que também tinha feito tantas escolhas erradas até então...

"Eu joguei com muita gente, eu enganei muita gente... mas a quem eu devo pedir perdão, está exatamente na minha frente agora.... então meu filho, por favor, não me deixe morrer sem ouvir que você me perdoa..." .

Mais alguns passos tomados pela angustia, Adrien foi se aproximando do quadro da sua mãe onde sabia, que se fizesse as combinações certas... Iria finalmente se deparar, com a confirmação do seu pior pesadelo. Elevou as mãos, colocou os dedos de acordo com o que Gabriel havia lhe dito, mas não foi capaz de seguir em frente, deixando-se cair de joelhos ao chão.

Abaixou a cabeça, cerrando os punhos em cima das pernas. Lágrimas escorriam dos seus olhos assim como sua boca tremia incessantemente. Acabou rolando para o lado para se sentar contra a parede, colocando uma das mãos sobre a perna dobrada para cima.
Ao recostar a cabeça ao lado do quadro, limpou os lábios, suspirando dolorisamente.

Não tinha condições de fazer aquilo sozinho, não poderia encarar aquela terrível verdade sem alguém para que pudesse suporta-lo caso caísse no chão, caso desmoronasse mais uma vez. E dessa vez, não seria Marinette sua escolha. Por mais que a amasse e fosse a única mulher na sua vida, precisava da companhia de outra mulher no momento.

Aquela na qual fora sua maior companheira por tanto tempo, que havia lutado ao seu lado, compartilhado também da angustia de saber que seus familiares, seus amigos, Paris e quem sabe o mundo, estivesse em um constante perigo porque Hawk Moth estava a solta.

Porém, de agora em diante, ele não lhes faria mal algum, nunca mais. Pois estava morto. Assim como seu pai, que eram, infelizmente, a mesma pessoa.

Fechando os olhos, Adrien amargou um soluço apenas para o silêncio que confidenciava sua dor. - Eu te perdoo meu pai... fique em paz...

O pedaço que falta em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora