"Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.
Meu coração é um traço seco.Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo. (...)
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado a qual um único bêbado bebe, um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom(...)"
─ Caio Fernando de Abreu
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Uma semana. Uma semana havia se passado desde o meu vexame na festa da Fênix Model.
Ruggero havia escolhido Valentina. Lógico.
Eu sempre havia sido a pessoa mais profissional daquela maldita agência, mesmo quando comecei a fazer o book rosa, eu entendi que precisava deixar a Karol-Certinha-E-Sentimental em casa e encarnar a acompanhante de luxo, a mulher que o cliente estivesse precisando naquele momento; a mulher que tem um coração seco. Meu coração é um traço seco, como dizia Fernando de Abreu.
Porém, logo na minha melhor chance, eu fiz a maior burrada da vida.Porra!
Safira havia ficado puta comigo, quase fui escorraçada de lá, mas ela ainda me tinha nas mãos, e, querendo ou não, eu fazia sucesso entre alguns clientes de alto escalão – mesmo que eles fossem uns nojentos asquerosos, às vezes.
Não era sempre que era terrível. Até que tinha alguns caras legais, alguns menos invasivos e que, muitas das vezes, só queriam conversar mesmo, nada de sexo ─ Desses, eu gostava mais.
Mas o ponto era que eu havia perdido o tal fotógrafo por pura idiotice. Se eu tivesse pensado melhor e deixado de lado – momentaneamente – toda a minha ganância, poderia ter pesquisado na internet sobre ele, estudado o cara, descoberto quem era o fenômeno galinha por trás das lentes das câmeras.
Mas esse foi outro erro meu. Eu não havia pensado direito.Enfiei a chave na fechadura da porta do meu apartamento, mas parei no meio do ato ao ouvir a porta do apartamento do meu vizinho ser aberta bruscamente; girei nos calcanhares e vi um cara alto e muito bonito cruzar a soleira da porta com uma mala nas mãos. O cara nem me viu, estava furioso demais, falava altos palavrões e gesticulava como louco; Ele pegou uma camisa que caiu da mala entreaberta e saio feito um trovão em direção ao elevador.
Logo em seguida, Alonso – meu vizinho – saiu também e me olhou com os olhos cheios de lágrimas.
Ele nem precisava dizer nada. Eu já havia entendido tudo.
Abri os braços e ele veio até mim, me abraçando com força e, apesar de ser muito mais alto que eu, parecia uma criança chorosa.
Eu detestava vê-lo assim.
Eu tinha conhecido Alonso na Fênix Model, logo quando cheguei ao Rio de Janeiro; Ele havia sido como um irmão pra mim e sempre estava comigo. Foi Alonso quem me explicou sobre o book rosa. Ele entendia tudo, pois já fazia isso há muito tempo – mas no caso dos garotos, chama-se "book azul", mas não deixava de ser a mesma coisa que o nosso.
Ele havia conversado bastante comigo e contado a realidade daquele mundo, dos bastidores da moda, mas eu precisava de mais dinheiro, então acabei aceitando.Porém, diferente de mim que não pensava em relacionamentos tão cedo, Alonso queria namorar, casar e ter filhos, era seu maior sonho, mas nenhum dos caras com quem se relacionava aceitava que ele saísse com outras pessoas.
Meu amigo sofria muito com isso, como se já não bastasse ter sido abandonado pela família quando descobriram que ele era gay.
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Volúpia
FanfictionO sonho de Karol sempre foi ser uma modelo famosa, como as que via na TV em sua casa na pequena cidade de Santa Fé, no interior do Brasil; Por isso, determinada a conquistar seu maior sonho, ela embarca para o Rio de Janeiro e consegue entrar em uma...