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─ SOCORRO! – Gritei pela centésima vez.

Minha garganta estava queimando, mas eu não pensava em parar.

Eu não lembrava de nada. A merda da minha cabeça doía absurdamente e, por mais que eu forçasse, a última coisa que eu lembrava era de ter ido até à praia e do meu lenço ter voado. Eu fui atrás dele, mas... Eu não conseguia lembrar...

Era como se eu tivesse adormecido no meio do ato... Como se as memórias tivessem sido roubadas de mim.

Que inferno!

Olhei pra baixo e fitei a corrente que estava amarrada ao meu tornozelo.

Era uma corrente pesada que estava presa ao pé da cama e no meu tornozelo, limitando minhas passadas e me prendendo ainda mais naquele minúsculo quarto.

Apesar de pequeno, o quarto era muito bem arrumado. Era todo azul e tudo parecia extremamente de bom gosto, mas eu estava ficando sufocada. Quem quer que tivesse decorado aquele lugar, tinha um bom gosto, mas um péssimo caráter.

Na única janela do quarto – que estava aberta por sinal – havia uma grade, que nem se eu quisesse poderia passar por ela, pois as brechas eram minúsculas.

Tudo minimamente calculado.

─ ALGUÉM ME AJUDA!

A corrente começava a ferir minha pele e, apesar de eu não conseguir ir muito longe, ela parecia cada vez mais apertada. Olhei ao redor procurando algo, qualquer coisa que pudesse me ajudar, mas não tinha nada.
Até o copo de água que havia no quarto estava distante, em cima de uma mesinha branca, mas que eu não conseguia alcançar.

E eu estava morrendo de sede.

Tentei umedecer os lábios, mas sequer havia saliva suficiente.

Aquele copo de água... Será que era miragem?

Balancei a cabeça.

Eu tinha que me manter lúcida.

Calma, Karol. Calma.

─ RUGGERO! RUGGERO, ME AJUDA!

Ele tinha que me encontrar... Com certeza ele deve ter ido atrás de mim na praia.

Me sentei no chão gelado e notei que lá fora começava a anoitecer e o ar gelado escorregava para dentro do quarto.
Eu estava com muito frio e, assim que ficasse mais escuro, eu não poderia enxergar mais nada. Não havia luz no quarto.

Não havia sequer um abajur.

Eu queria chorar, mas havia tanto medo escorrendo pelas minhas veias que as lágrimas não saiam, como se elas tivessem se escondido em algum compartimento dentro de mim; era tudo muito silencioso lá fora e, de onde o quarto ficava, só dava pra ver mato, como se estivéssemos dentro de uma floresta.

Como se fosse no meio do nada.

Não.

Não posso pensar o pior.

Alguém vai me encontrar.

Se eu pelo menos conseguisse lembrar... Mas não dava... Não conseguia.

Droga!

─ Socorro... – Murmurei, abraçando os joelhos. ─ Alguém me ajuda...

Meus lábios estavam secos e minha garganta latejava.

Respirei fundo e me segurei o máximo que pude para não dormir. Desde que despertei mais cedo, eu sentia que o sono não passava, muito pelo contrário.
Mas dormir significava não ver a cara do meu algoz.

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