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"você envolve meu cabelo
com os dedos
e puxa
é assim
que você tira
música de mim
– preliminares"

– Rupi Kaur


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─ Precisamos acertar algumas coisas sobre a nossa convivência. – Ruggero falou enquanto me guiava até o sofá.

Sentei-me e cruzei as pernas, mas diferente dos outros homens com quem já sai, ele não ficou me olhando daquele jeito safado, como se quisesse arrancar minhas roupas com os dentes... Não.
Ele sequer me olhava direito.

Sentou-se no outro sofá e apoiou os cotovelos nos joelhos, curvando-se pra frente.

─ O que gostaria de acertar? – Perguntei, curiosa.

─ O principal que deve saber é que não fará nenhum trabalho para agência, pelo menos enquanto estiver comigo; e, quero que saiba também, que não admito nenhum outro cliente nesse mês que passaremos juntos.

Assenti devagar.

Ok, quanto aos clientes eu entendia, mas os trabalhos para agência eram importantes pra mim, era o complemento do meu salário e a garantia de que eu poderia ser vista por algum agente famoso, sei lá... Modelar era meu sonho e minha vida.

─ Não vou deixar de modelar para a Fênix Model, Senhor Pasquarelli. – Empinei o queixo, mostrando que não ficaria por baixo. Eu também tinha as minhas condições. ─ Meu sonho é ser modelo e apesar de tudo a agência é a minha garantia de que poderei realizá-lo, sem contar que preciso do dinheiro para...

─ Eu pago.

Franzi o cenho.

─ Paga?

Ruggero se recostou no sofá e cruzou as pernas.

─ Pago. Eu pago o cachê que te pagariam para modelar para alguma loja ou desfilar, e até para aquelas presenças que vocês costumam fazer em festas. Eu pago tudo.

Balancei a cabeça negando.

Eu aceitaria os cem mil pelo book rosa, por que realmente precisava e havia sido escolhida pra isso, mas meus sonhos não estavam à venda.

─ Sinto muito, mas não estou negociando meus sonhos, Ruggero.

Ele esfregou as têmporas, parecia cansado.
Subitamente aquele olhar gentil que tinha antes havia sumido e dado lugar a uma expressão fechada, quase de descontentamento.

─ Não se faça de humilde, Karol. Eu conheço seu tipo, e eu sei que vocês, as garotas da noite, não falam outra língua a não ser a língua do dinheiro. – Ruggero enfiou a mão dentro do paletó e tirou de lá um talão de cheques. – Diga-me, qual seu preço mais alto? Eu pago. Eu posso pagar.

Aquilo já era demais.

Fiquei de pé furiosa, apontei o dedo em riste pra ele e falei:

─ Eu não sou assim! E não, você não me conhece. Você não sabe nada sobre mim ou sobre a minha vida. Quer saber? Chame outra garota. Eu me demito.

Ele também ficou de pé, mas eu já estava indo em direção a maldita porta daquela maldita casa.

Que merda! Esse mauricinho mimado acha mesmo que pode me comprar, como se eu fosse um mero objeto de decoração ou um pedaço de carne... Às vezes era humilhação demais, mas dessa vez eu não estava disposta a aceitar, nem que pra isso tivesse que agüentar os gritos e surtos da Safira.

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