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─ Quer saber, não precisa explicar nada. – Digo, puxando minha mala e indo em direção à porta.

No fundo, eu sempre soube que Karol não tinha esquecido Ruggero, mas era difícil ver com meus próprios olhos a cena.
Eu estava sobrando ali.

─ João, espera. – Karol segurou meu braço. Suspirei, encarando-a. ─ Não é o que você está pensando. O Rugge...

─ Karol... – Peguei suas mãos entre as minhas e a olhei com profundidade. ─ Está tudo bem. Você é uma mulher solteira, é livre... Eu só... Quem se iludiu fui eu. Mas está tudo bem, sério.

Com o canto de olho pude ver Ruggero se aproximar de nós. Ele estava quase irreconhecível. Parecia mais velho, mais magro... Estava seminu e não precisava ser um gênio para adivinhar o que havia acontecido.

Soltei as mãos dela.

─ Você vai embora? – Karol indagou.

Assenti devagar.

─ É melhor.

Levei os olhos até meu primo e ele me encarou, mesmo que parecesse estar desorientado.

─ Você vai pra Búzios? – Ele perguntou.

Concordei.

─ Estou indo pra lá agora.

─ Eu não sei se vou... Pode mandar meus pêsames?

Estreitei os olhos.

─ O quê? Como pode ser tão egoísta? Era o nosso avô, Ruggero! Ele amava você, por mais que você sempre tivesse sido um ingrato.

─ Você não sabe do que está falando. Não se meta. – Guinchou, com a voz arrastada.

Passei as mãos pelos cabelos.

Era muito filho da puta mesmo.

─ Você é um imbecil, sabia? Eu não entendo porque todos passam a mão na sua cabeça. Por isso você cresceu assim, todo mimado e egoísta, egocêntrico.

Ruggero veio na minha direção, mas Karol se colocou entre nós dois.

─ Por favor, por favor, se acalmem! – Pediu, nervosa.

Mas eu já estava cheio daquele cara.

Ele só sabia falar e fazer merda e ninguém enxergava o quão estúpido e ruim ele era! Parecia que todos estavam cegos.

─ Por que não vai se foder, hein? Está com raiva porque a Karol ama a mim e não a você? Aceita que perdeu.

Eu tive que rir.

─ Amor? Me poupe, Ruggero! A Karol está se deixando iludir por você. Logo, logo ela e todos verão o homem vazio que vive embaixo dessa carcaça que você mostra ao mundo!

─ João, Para! – Karol gritou. ─ Nem você e nem o Ruggero devem dizer o que eu sinto ou deixo de sentir! Parem!

Me afastei um pouco.

─ Mas Karol, o Ruggero...

─ João, não! – Ela esbravejou para mim. Para mim. Para a única pessoa que ficou do lado dela. Era inacreditável. ─ Vai embora, por favor. Depois a gente conversa.

Franzi o cenho.

Ruggero me olhava com um olhar vitorioso.

Balancei a cabeça.

─ Você vai escolhê-lo? Não lembra como ele te magoou?

Karol passou as mãos pelos cabelos e se afastou de nós dois.

─ Eu não estou escolhendo ninguém! Eu só quero que vocês dois parem de brigar. O avô de vocês morreu. Isso não é motivo o suficiente para fazê-los agir civilizadamente?

─ Mas foi ele que...

─ Eu o quê? – Guinchei.

Ruggero riu, mas não havia humor.

─ Vai tirar a máscara, Primo? Hein, João? Cansou de se fingir de bom moço?

Joguei as mãos pra cima, exasperado.

─ Não sou eu quem finge aqui.

Pelo canto de olho notei que Karol me encarava.

Suspirei profundamente e peguei a alça da minha mala.

Era melhor ir embora antes de falar merda.

─ Espera. – Karol voltou a me segurar. ─ O que vocês quis dizer com isso de fingir? Fala, João.

Puxei meu braço abruptamente.

Encarei Karol e o mundo parecia ligeiramente borrado em volta dela. Para mim, desde a primeira vez que a vi, era como se nada mais existisse. Apenas nós dois.
Mas ela não via da mesma forma.

Umedeci os lábios.

─ Você não vai querer que eu diga, Karol. Apenas me deixa ir.

Abri a porta e passei por ela, adentrei o corredor e chamei o elevador, mas estava ocupado e eu não sentia nenhuma vontade de esperar, por isso segui para as escadas, porém parei ao ouvir a voz de Karol logo atrás de mim.

Girei nos calcanhares e a encarei.

Ela sempre será a mulher mais bonita que já vi. Tão doce e sensível, mas extremamente inocente.
Eu sentia que tinha que protegê-la, mas talvez meus sentidos estivessem errados.

─ Você vai ficar com raiva de mim, né?

Mesmo sem querer, acabei sorrindo.

─ Não conseguiria ficar com raiva de você, Karol.

Karol suspirou aliviada.

─ Eu gosto muito de você, João, mas...

─ Você ama o Ruggero. Eu sei. – Abaixei o olhar e encarei os bicos dos meus sapatos. Era doloroso constatar o óbvio às vezes.

─ A gente não manda no coração, né?

Assenti e voltei a olhá-la.

─ Não deixa ele te magoar... Não permita que ele te faça sofrer, por favor.

Karol balançou a cabeça para cima e para baixo.

Acariciei seu rosto e sorri.

─ Ainda podemos ser amigos? – Indagou.

─ Eu sempre vou ser seu amigo, mas preciso de um tempo pra pensar. – Suspirei. ─ Depois do enterro do vovô, eu vou viajar para resolver umas coisas da empresa e esse tempo vai ser bom pra... Pra pensar melhor na minha vida, sabe?

─ Mas você volta?

Me aproximei dela e lhe dei um beijo demorado na testa.

Depois me afastei.

─ Eu volto. – Prometi. ─ Logo estaremos juntos de novo.

Ela sorriu.

─ Não demora, tá? E espero que seja muito feliz.

─ Desejo o mesmo pra você.

Sorri pra ela enquanto me afastava e, quando ela saiu do meu campo de visão, me apoiei no corrimão da escada e deixei que as lágrimas caíssem.

Eu a amava.

E quando amamos alguém precisamos fazer sacrifícios e o mais doloroso deles é abrir mão. É terrivelmente difícil abrir mão de quem amamos - chegando a ser impossível.
Olhei por cima dos ombros e enxuguei os olhos. Eu tinha um enterro pra ir e depois precisaria pensar muito no que vinha pela frente.

Sacrifícios.

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João, vemk, vou te proteger desse mundo cruel.

:( 

Ah. uma coisinha hahahhaha " O que é, o que é que parece ser bom, mas não é?" kkkk

Beijitos!

VolúpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora