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Eu não lembrava a hora exata em que peguei no sono, mas quando despertei no dia seguinte, podia sentir meu corpo relaxado e isso queria dizer que havia sido uma ótima noite de sono.

Pouco a pouco as lembranças do corpo de Ruggero rente ao meu, me fazendo sua, voltou e não consegui conter o sorriso que se formou em meus lábios enquanto me espreguiçava, sentindo o lençol escorregar pelo meu corpo nu.

Bocejei, massageei as têmporas e depois contemplei o sol que entrava sorrateiramente pela janela entreaberta, trazendo consigo a promessa de um dia lindo, propicio para ir à praia de novo, mas seria o aniversário do Senhor Augusto e isso explicava o barulho que fazia do lado de fora.
Me sentei na cama e assim que o fiz, um lindo girassol chamou a minha atenção.

Ele estava ao meu lado, com um bilhete embaixo e eu logo reconheci a letra de Ruggero.

Mais uma vez me vi sorrindo.

"Eu não quis te acordar, você estava dormindo tão profundamente... Fui pescar com os caras, mas quase desisti – você me hipnotizava.
Enfim, volto logo, Anjo. Tenha um lindo dia, igual à esse girassol. Beijos"

Deixei o bilhete no meu colo e peguei o girassol com cuidado, levei-o até meu nariz e inalei seu perfume delicioso.

Ruggero... 

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 Depois de tomar um banho delicioso e arrumar o quarto, vesti um vestidinho leve, florido e bastante confortável, para poder ir ajudar na arrumação sem morrer sufocada pelo calor.

Eu adorava o verão, mas em Búzios parecia que tudo era mais intenso.

Meus cabelos molhados batiam contra as minhas costas enquanto eu descia os degraus da escada para ir até a cozinha, porém antes de chegar na sala de jantar, Vovó Maria veio ao meu encontro com um sorriso enorme no rosto e um lindo girassol nas mãos.

─ Que lindo! – Falei, lembrando do meu que estava no quarto. – Bom dia!

Ela me deu um beijo estalado na bochecha e depois me entregou a flor.

─ Ruggero me pediu pra te entregar. E isso também. – Ela tirou um bilhete de seu avental e me entregou, depois me lançou uma piscadela e saiu rumo à cozinha.

Desdobrei o bilhete e prontamente confirmei que era dele.

" Só para o caso de você não ter lido o primeiro... Quero que saiba que adorei ontem e que dormir ao seu lado essa noite foi, para mim, a forma de entender que talvez o passado esteja ficando para trás.
Talvez você não entenda nada, mas eu preciso dizer que estou muito grato. Você, talvez, seja um anjo mesmo.
Tenha um lindo dia, girassol."

Levei o bilhete até os lábios para tentar tampar meu sorriso bobo. Eu não havia entendido muito bem o que ele disse, mas suas palavras iam fundo na minha alma, como se, de alguma forma, o acontecido do dia anterior tivesse mudado tudo.

Eu só não sabia se estava preparada para aquilo, porém estava gostando muito.

Horas depois, eu estava concentrada descascando algumas batatinhas para fazer purê, mas meu pensamento ainda estava nos bilhetes, assim como nos girassóis que estavam no meu quarto.
Ruggero havia sido sincero quando falou que iríamos recomeçar, e agora eu estava conhecendo o verdadeiro homem por trás da máscara do fotógrafo insensível.

Quando dei por mim, estava rindo e escutei quando Luciana cantarolou sobre a paixão.

Meu rosto esquentou na hora.

─ Não fique com vergonha, querida. – Ela falou. – Estar apaixonada é uma das coisas mais lindas!

Vovó Maria se juntou a nós na ilha da cozinha, enquanto temperava uma panela cheia de carne.

─ Eu concordo, Karol. De verdade, é a primeira vez que vejo meu neto tão feliz... Ele parece outra pessoa.

─ Fico feliz... – Comentei. ─ E fico mais feliz ainda de ter conhecido pessoas tão maravilhosas como vocês.

─ Ai meu Deus! Eu vou te adotar! – Luciana exclamou me puxando para um abraço desajeitado, já que ambas estávamos descascando verduras. ─ Espero que meu João encontre uma mulher tão boa quanto você. Sabe, ele já sofreu muito e tudo que mais desejo é que ele possa ser feliz.

─ Tenho certeza que a felicidade dele logo chegará. – Maria falou, abrindo um sorriso acolhedor para Luciana.

Franzi o cenho.

─ Me perdoa a pergunta, mas... O que aconteceu? Com o João, claro.

Luciana deixou a cenoura de lado e pôs a faca em cima do balcão, suspirando profundamente, como se aquelas lembranças fosse dolorosas demais.
Eu já ia dizer que ela não precisava falar quando ouvimos um barulho de vozes masculinas virem da sala.

Mas não era como se estivessem comemorando a boa pesca, mas sim como se estivessem a ponto de se matar.

Nós três corremos para a sala, e eu tirei o avental por cima da cabeça, pois não conseguia desfazer o nó.

Quando cruzei a soleira da porta que nos levava até a sala, me deparei com Ruggero com a boca ensanguentada e com João igualmente machucado, porém havia muitos mais hematomas nele.

Corri até Rugge, mas ele estava agitado e dois homens o segurava.

─ Jesus! O que aconteceu com vocês?! – Luciana falou, assustada, indo até o filho. – João, o que aconteceu?

João parecia muito mais calmo que Ruggero, mas seu pai ainda segurava seu braço, só por precaução.

─ Nada, mãe. Vou subir. – O primo falou, se desvencilhando do pai. ─ Me perdoa, Vovó, mas eu não vou mais ficar aqui. Preciso ir embora.

Ruggero se soltou dos homens que o segurava e disse que estava tudo bem, mas eu podia ver em seus olhos a fúria.

Dei um passo para trás.

─ A melhor coisa que você faz. – Rugge falou para o primo. ─ Está esperando o quê?

─ Não precisa bancar o imbecil, Ruggero. Eu não vou demorar.

Rugge me olhou rapidamente, mas não havia nenhum resquício de saudade ou de carinho; ele limpou a boca com as costas da mão e saiu pela porta, sem olhar para trás, sem falar mais nada e me ignorou.

Fiquei parada no meio da sala sem entender nada.

João tocou meu ombro levemente e abriu um sorriso torto, mas sem humor algum.

─ Perdão por isso, Karol. – Sibilou. Seu belo rosto estava avermelhado e um filete de sangue escorria de seu nariz. ─ Mas como eu previa, Ruggero continua o mesmo. Por favor, tome cuidado. E foi um prazer te conhecer. Espero que seja feliz.

E então passou por mim, subindo às escadas, pulando de dois em dois degraus, sem olhar pra trás.

Mais uma vez fiquei sem entender absolutamente nada.

Luciana estava questionando o marido sobre o que havia ocorrido, mas assim como nós, ele pouco sabia; tudo que viu foi os dois brigando e logo correram para apartar, mas já era tarde, pois ambos já estavam possuídos pelo ódio.

Sequei o suor que escorria pela minha testa e fiz menção ir atrás de Ruggero, e até fui, mas quando sai na varanda, não o vi em lugar algum e tive medo do que ele se tornaria depois disso.

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Ixi...  O que será que aconteceu? Aiai... 

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