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Durante todo o caminho de volta para casa, me vi em silêncio, pensativa.

Quase uma semana ao lado de Ruggero e minha vida já tinha ido do céu ao inferno e, para, além disso, a paixão havia nascido, por mais que eu tentasse impedi-la. Eu não queria estar apaixonada por ele, muito menos estava nos meus planos manter nosso contrato, mas naquele momento de introspecção, minha mente viajava até seu quarto, até o momento em que fomos um só.

Foi o momento mais intenso que já havia vivenciado.

Só quando João estacionou num posto de gasolina para abastecer o carro, foi que me dei conta que precisava dizer algo, por mais que ele sequer tivesse feito menção de violar meu silêncio.

─ Desculpa. – Murmurei, fitando o frentista pelo retrovisor enquanto ele encaixava a bomba de gasolina no carro. ─ Estou um pouco...

─ Não tem problema, Karol. – João falou. ─ Tudo que aconteceu foi muito intenso.

Balancei a cabeça e só então me permiti olhá-lo nos olhos.

Ele estava muito machucado ainda e o canto de sua boca estava bem inchado, mas seu olhar ainda era o mais gentil que já presenciei em toda a vida e, naquele momento, me senti acolhida.

Abri um sorriso amarelo.

─ Você precisa de um curativo.

Ele levou a mão até a boca e assentiu, sorrindo.

─ Ou de dois ou três... Bom, talvez seja melhor passar na farmácia e comprar todo o estoque de curativos e tal... – Apesar de seus exageros, acabamos rindo mais. ─ Mas é sério. Acho que vou passar na farmácia mesmo.

Estreitei os olhos e depois estalei a língua, tendo uma idéia.

─ Vamos até a minha casa. Eu faço um curativo e te dou uns remédios pra dor.

João pareceu tenso.

─ Karol, eu agradeço, mas o Ruggero... Bom, vocês estão juntos e eu não quero causar problemas e...

─ Ruggero e eu? Acho que reciprocidade é algo que ele não conhece, portanto, apenas aceite minha ajuda, afinal você também está me ajudando. – Dei de ombros.

O frentista retirou a bomba e o fedor de gasolina invadiu o carro.

João assentiu.

─ Então eu aceito.

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Quando passei pelo apartamento do Alonso me senti tentada a bater, mas ele provavelmente tinha saído com algum novo cliente e, para falar a verdade, eu não estava muito afim de ter que dar explicações, afinal o correto seria voltar apenas no dia seguinte e, de preferência, com Ruggero e não com o primo-gato dele.

Abri a porta para João entrar e, assim que passei pelo batente, a imagem de Ruggero parado ali, me fitando daquele jeito indecifrável dele e pensando coisas terríveis de mim, voltaram à minha memória.
Nenhum outro cliente havia ido até a minha casa, apenas ele e isso sempre seria uma forma de me lembrar de sua teimosia e impulsividade.

Apesar de tudo, sorri.

Fechei a porta com cuidado e pedi que João se sentasse enquanto eu ia buscar a caixa com os materiais para fazer curativos; ele colocou minha mala no canto e se sentou.

Quando voltei, antes de chegar à sala, parei e observei o homem sentado no meu sofá; ele estava com uma camisa azul que realçava seus olhos. Sua pele bronzeada parecia gritar para o mundo que ele havia acabado de sair do mar, sem contar que seu porte mostrava que ele era um homem distinto, mas quando me viu e sorriu, eu podia imaginar o pequeno João, uma criança amorosa e com o sorriso mais doce do mundo.

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