Safira andava de um lado a outro da sala nos avaliando, checando com seus olhos de águia se havíamos ganhado peso ou nos descuidado nem que fosse um pouco da pele e dos cabelos; ela sempre dizia que a beleza era o nosso passaporte para a riqueza.
Tínhamos que estar bonitas e magras e era só isso que importava.
Eu estava particularmente nervosa.
Na noite anterior eu havia exagerado no vinho e tinha comido muito chocolate – para tentar aplacar o nojo que sentia de mim mesma.
Quando aceitei fazer book rosa, aprendi que o álcool é o melhor refúgio e que não há nada que ele não nos faça esquecer, mesmo que sejam as lembranças das mãos asquerosas daqueles velhos babões que me contratavam para ir a festas ou simplesmente fazer sexo.Mas era muito dinheiro envolvido e eu precisava disso.
Heitor, meu agente, dizia que eu só precisaria agüentar isso por mais um ano e que depois disso, provavelmente, eu já fosse rica o suficiente para dar um pé na bunda da Fênix Model e da Safira e, dessa forma, trabalhar onde eu quisesse e desfilar em todas as melhores passarelas do mundo.
Eu só precisava agüentar um pouco mais.
Eles – a Fênix Model – haviam investido muito em mim, principalmente porque Heitor havia garantido que eu seria tudo que eles procuravam, mas não tinha sido bem assim e logo precisei achar uma forma de devolver tudo que investiram na minha carreira, pelo menos até começar a fazer sucesso.
Se eu conseguisse de alguma forma me adequar a todos os padrões deles e ser escolhida por um dos estilistas famosos para desfilar, eu estaria feita na vida e poderia largar o book.
Mas até que isso acontecesse, eu precisava de dinheiro para pagar a faculdade de Moda e, além disso, mandar dinheiro pros meus pais no interior. Eles já estavam com a idade avançada e não podiam trabalhar.
Para eles, eu estava trabalhando apenas como modelo. Jamais poderiam saber que eu também era uma acompanhante de luxo.
Seria uma vergonha para a família e eu, sem dúvida, perderia meus pais para sempre. Até por que meu pai já estava com um problema sério no coração... Ele nem podia imaginar o que eu estava fazendo de verdade.─ Dispersa, Karol. – Safira observou, arqueando sua sobrancelha bem feita.
Safira também já havia sido modelo um dia e seu porte elegante e o jeito que se vestia indicava que o passado não ficara tão para trás assim; ela deveria estar entre os quarenta e poucos ou cinquenta, mas ninguém jamais ousaria dizer isso, principalmente por que ela continuava esbanjando sensualidade e firmeza, sem contar que era belíssima.
─ Só um pouco cansada. – Respondi.
Ela suspirou profundamente e deu a meia volta, dispensou algumas meninas e deixou apenas eu, Valentina e Chiara na sala.
Eu conhecia as meninas desde que comecei ali, mas não éramos amigas. Não éramos amigas de ninguém ali; qualquer uma pisaria na cabeça da outra para ter sucesso.
─ Bom, como já sabem, precisam ficar perfeitas para hoje à noite. – Safira começou a dizer enquanto sentava em sua cadeira de couro bege e remexia em alguns lápis que estavam em cima de sua mesa de mogno preto. ─ Um de nossos amigos precisa de uma de vocês e se, se saírem bem, poderão ter uma oportunidade única na carreira de vocês, por que Ruggero Pasquarelli é o fotógrafo mais cobiçado do mundo da moda. Ele já trabalhou para as maiores revistas do mundo, sem contar que têm vários contatos nesse ramo. Qualquer uma das três – Ela apontou para nós lentamente – terá a chance de ser a escolhida e, futuramente, uma das maiores modelos do mundo. Ruggero poderá ser o impulso que vocês precisam... Pra isso, vocês terão que ser perfeitas com ele.
Eu podia sentir meu coração retumbar no peito só de pensar na chance de subir às passarelas e ser famosa, realizar meu sonho e eu estava disposta a fazer o que fosse, mesmo que isso implicasse em ter que aguentar mais um velho asqueroso.
Seja lá quem esse tal de Ruggero fosse, eu iria conquistá-lo.Ele seria meu.
─ Esse cara não sabe quem quer? – Valentina perguntou. ─ Geralmente os caras escolhem pelas fotos e não assim... Como um desfile particular.
Chiara apenas assentiu enquanto enrolava uma mecha do cabelo loiro no dedo.
Elas eram lindas. Até aquele momento eu não conseguia encontrar um defeito sequer em seus corpos e rostos; não dava pra entender como ainda estavam naquele mundo.
Poderiam facilmente estar em Milão ou Paris.─ Ruggero é dos nossos. Ele não é qualquer cliente. – Safira explicou. ─ Se conseguirmos deixá-lo à vontade para escolher e ter a mulher que quiser, mais chances teremos que ele se junte a Fênix Model e fotografe vocês. Assim a nossa agência terá mais visibilidade no mundo.
─ Será que podemos vê-lo? – Ousei perguntar.
Eu não gostava de falar muito, preferia sempre a ação, principalmente porque todos me julgavam menos por ter vindo do interior e não ter noção alguma de como uma modelo se portava... Aprendi tudo com Heitor e só por isso não conseguia odiá-lo por ser um agente tão ruim.
─ Não. Não podem. Deixaria a expectativa de vocês trabalhar ao meu favor, assim ficarão mais bonitas, mais apetitosas para o nosso novo cliente.
Apetitosas...
Um liquido quente descia pelo meu estômago sempre que ouvia isso.
Mas eu estava aprendendo a domar minhas emoções. Eu não podia levar meu emocional para o campo profissional. Levei muito tempo, mas aprendi que emoção não leva comida pra mesa, eu tinha que ser profissional. Usar sempre a razão.
Apenas assenti.
─ Mas pelo menos pode dizer quanto ele vai nos pagar? – Chiara indagou.
Isso era o que me importava. O dinheiro.
Safira nos observou por alguns momentos de forma séria, mas depois acabou sorrindo.
─ Posso. – Falou por fim. Ela apanhou um dos lápis que estavam na mesa e girou ele entre os dedos enquanto falava. ─ Ruggero precisa de vocês por um mês inteiro. Será exclusividade total. A escolhida terá que ir com ele para festas, desfiles que ele for cobrir, encontro de amigos, família... Enfim, terão que ser a namorada perfeita. Ou fingir ser. – Deu de ombros. ─ Ele só precisa acabar com a fama de pegador. Estão tentando boicotar a carreira dele por causa dessa fama e, se isso acontecer, ele irá perder as alianças que fez nesses anos de carreira.
─ Então ele não vale nada... – Valentina comentou e eu ri.
─ E qual homem vale? – Safira contrapôs de forma bem humorada. ─ De qualquer forma, Ruggero já saiu com mais modelos com quem trabalhou do quê poderíamos contar, mas agora ele precisa mostrar que realmente está comprometido, senão, bye bye contratos milionários.
Aquilo fazia sentido.
No fim, todos estavam lutando para se manter bem financeiramente. E isso só deixava mais claro que razão sempre tinha mais lugar que a emoção nesse ramo.
─ Interessante. – Falei, apenas para demonstrar que estava ali e estava prestando atenção.
A dona da agência bateu com o lápis no teclado do computador e estalou a língua.
─ Ele irá pagar cem mil para a escolhida.
Eu até podia imaginar o queixo das minhas concorrentes batendo no chão assim como o meu.
Aquele dinheiro era tudo que eu precisava para me livrar disso de uma vez por todas... Então eu seria livre.
Um sorriso cresceu nos meus lábios e quando finalmente sai da sala, eu já tinha decidido que Ruggero seria meu.
E ninguém ficaria no meu caminho.-------------------------------------------------------------------------------------------------------
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Volúpia
FanfictionO sonho de Karol sempre foi ser uma modelo famosa, como as que via na TV em sua casa na pequena cidade de Santa Fé, no interior do Brasil; Por isso, determinada a conquistar seu maior sonho, ela embarca para o Rio de Janeiro e consegue entrar em uma...