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"Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse(...)

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento."

– Hilda Hilst

**

─ Então ele é gostoso? – Alonso perguntou, pela quinta vez.

Estávamos no meu apartamento preparando algo para comer, mas meu amigo queria saber tudo sobre meu novo cliente, mesmo que eu já tivesse dito que não havia muito para falar.

─ Alonso, não posso sair falando sobre os meus clientes.

─ Ah. Me poupe, Karol. Eu sei que você quer falar sobre ele... Vai falaaaaa!!!!

Relaxei os ombros, dando-me por vencida.

Ele sempre conseguia o que queria.

─ O que quer saber? – Perguntei, puxando uma cadeira e me sentando.

Alonso pareceu radiante com minhas palavras.

─ Me fala, como ele é? É tão gostoso quanto estavam falando lá na agência?

─ Sim. Muito gostoso. Algo mais?

─ Ah. Não fala assim... Quero detalhes. Já comeu ele?

Eu ri.

Ri mesmo.

Alonso não tinha papas na língua e eu adorava isso.

Mas, no fundo, aquela pergunta me lembrava do que Ruggero falou sobre não fazer sexo com ele. Era estranho demais.

─ Você já foi mais elegante com as palavras. – Gracejei e ele fez uma careta. – De qualquer forma, Ruggero não quer sexo, ele só quer uma companhia para as festas e pronto. E, para falar a verdade, eu achei muito bom. Me sinto menos... Usada.

Seeeei....

Revirei os olhos.

Ele já ia começar a duvidar do que eu dizia...

─ Ele é só um cliente, Alonso. Só isso.

─ Ué, mas eu nem falei nada ainda.

Ainda. – Acentuei.

Meu amigo me lançou uma piscadela.

─ Mas, se bem me lembro, esse tal fotógrafo é o mesmo que você bateu naquela festa, certo? – Assenti e ele prosseguiu. – Pois bem, eu me recordo perfeitamente que quando você chegou em casa, estava falando sobre como ele era bonito, como havia te segurado quando você ia caindo... como um choque percorreu seu corpo assim que se tocaram...

Ah. Maldita bebida.

Sempre falo e faço merda quando bebo.

Preciso parar.

Um dia.

─ Eu estava bêbada.

─ E daí? – Deu de ombros. ─ Você sabe que eu amo o mundo místico, né? Então... Eu li em algum lugar que esse choque que se sente quando se toca na mão de alguém que acabamos de conhecer, é uma dica sobre uma possível vida passada que tivemos com essa pessoa... É como se ele fosse a sua... A sua Alma Gêmea. Não é bonito?

─ Nos livros? Sim. – Sorri e fiquei de pé. Estava com fome.

─ Karol... Mas, e se for ele? E se esse cara for a sua cara metade?

VolúpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora