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João é um filho da puta.

Com tantas mulheres no mundo, ele foi se interessar pela mesma que eu. Ele sempre quis ter tudo, inclusive a casa que era da minha mãe.
Eu não estava brigando só pelo bem material, mas sim pelas lembranças contidas na casa. Nunca aceitei que meu avô tivesse dado a casa a ele, com a desculpa estúpida de que por morar no Rio de Janeiro, ele precisaria de uma casa mais perto do trabalho – apenas por que na época eu estava em São Paulo.

Mas eu pretendia voltar.

Lá estavam todas as minhas melhores lembranças.

Mas em relação à Karol... Em relação a ela, eu não o deixaria sair ganhando mais uma vez.

Mas também eu estava confuso demais com avalanche de sentimentos que me acometia por todos os lados... Tudo que ele havia me dito ainda reverberava dentro de mim.
O fato de eu nunca ter sabido lidar com o que sentia, parecia sufocante.

Por isso tomei a minha pior decisão.

Enquanto eu não tivesse certeza do que realmente se passava no meu coração, não seria correto envolver Karol nisso. Eu só iria magoá-la mais e mais e, se eu tinha aprendido algo com ela, era ser sensível.

Justamente por isso não fiquei em casa, sai da presença dela para colocar meus pensamentos em ordem e tentar, de alguma forma, clarear a mente.

Mas quando cheguei a antiga casinha e me permiti respirar, notei a presença de mais alguém e, assim que me virei, dei de cara com Candelária.
Ela me fitou profundamente e depois desviou o olhar.

─ A Dona Maria está bem preocupada com você e o João.

Sequei o canto da boca que ainda sangrava e balancei a cabeça.

─ Não quero falar com ninguém, Cande. Por favor, vai embora.

─ Rugge, o que aconteceu? Por que brigou com o seu primo? Você nunca foi assim...

Eu quis rir.

No fundo, nem eu sabia mais como era.

─ João falou muita merda.

Ela riu.

─ Por acaso, isso é por causa da tal Karol?

Só então a olhei nos olhos.

─ Não é da sua conta.

─ Ah. Rugge... Vamos lá, eu sei que é por causa dela. – Ela bufou. ─ Você está mesmo apaixonado?

Me recostei na parede baixinha da casa e cruzei os braços.

─ Eu estou, acho... – Esfreguei o rosto e soltei o ar com força. – Eu sinto coisas que há muito não sentia... mas também não tenho certeza de nada. Só sei que não quero perdê-la.

Candelária soltou uma risada baixinha enquanto se aproximava de mim.

─ Só essa sua dúvida já diz tudo... – Ela enfiou as mãos nos bolsos de trás de sua calça jeans. ─ Mas, se eu fosse você, não ficava pensando que tudo está ganho ou que ela corresponde ao que você sente.

Franzi o cenho.

─ Por que está dizendo isso?

─ Eu não sei se conto, é que...

Avancei na direção dela e segurei seus braços, sacudindo seu corpo.

─ Fala! Por que está dizendo isso? O que você sabe, Candelária?

Ela tirou as mãos dos bolsos de trás e espalmou-as no meu peito, mas não estava me afastando.

─ Enquanto eu vinha aqui atrás de você, pra saber como você estava, ela, a tal da Karol, subiu. Está lá no quarto do João. Estão juntinhos e já faz tempo.

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