16

1.5K 122 143
                                    

Parecia que tudo que tinha para dar errado estava dando.

Minha vida, nos últimos dias, parecia uma montanha-russa de emoções. Eu estava indo do céu ao inferno em questão de minutos, tudo parecia desabar de uma vez só.
Primeiro – e mais doloroso – eu havia perdido Karol, no mesmo instante em que descobri estar apaixonado por ela. E, para completar, ela estava com meu primo.

E como se fosse para piorar ainda mais e me afundar mais ainda na lama e nos destroços dos meus demônios, Lala, o meu pior pesadelo, sorria e abraçava a todos que estavam na sala, como se ela não tivesse pecados, como se não fosse um monstro trajado de roupas caras e sorrisos medonhos; como se ela não fosse a pior pessoa do mundo.

Eu nem sabia como ainda continuava de pé, no meio da sala, ao lado da cadeira de balanço do Vovô Augusto, enquanto ele a cumprimentava com carinho.

A vontade de vomitar ia e vinha.

Não era possível que pessoas assim convivessem sem remorsos, que suas consciências não as perturbassem à noite ou que seus sonhos se transformassem em pesadelos perpétuos, não os deixando dormir, nem comer ou simplesmente viver.
No entanto, enquanto a ouvia contar como foram as últimas férias em família, eu compreendia que ela sequer lembrava-se do que tinha feito.

Mas eu me lembrava.

Quando Lala deu a volta na sala para vir me abraçar, me esquivei.

─ O que houve, Querido? – Perguntou.

Eu estava assustadoramente calmo, a única indicativa de todo meu ódio eram as batidas descompassadas do meu coração, que de tão rápidas, embolavam minha língua, impedindo que eu sequer falasse.

Vendo meu silêncio, Vovó intercedeu:

─ Ruggero teve um pequeno problema com o João, mas eu acredito que sua falta de humor seja por causa da namorada, a Karol. Uma moça linda, educada, mas que infelizmente precisou ir embora mais cedo. Acho que ele está triste.

Lala me encarou, havia uma leve ruga entre seus olhos.

─ Uma namorada? Ah que ótimo! Mal posso esperar para conhecê-la. Karol, né? Que nome lindo!

E foi só então que despertei do meu transe; a idéia de vê-la perto da Karol, ou simplesmente fazendo menção à isso... Meu causava arrepios.

─ Não! – Esbravejei e meu grito assustou todos que logo me olharam com surpresa. Eu jamais havia levantado a voz para algum parente mais velho. A boa educação me impedia de fazê-lo, mas não naquele dia. Lala arregalou os olhos. ─ Não vai chegar perto dela. Eu proíbo! Proíbo que sequer fale o nome da minha namorada. Você não é digna disso!

─ Ruggero, que loucura é essa?! Ficou maluco, moleque? Isso é jeito de falar com a sua tia? – Ela retrucou, irada.

Eu achei graça.

─ Tia? Que tia faz o que você fez comigo? Que tipo de tia arranca a inocência do sobrinho da forma que você fez? Não se faça de santa!

─ Rugge, do que você está falando? – Vô Augusto perguntou com a voz sombria, quase rouca demais.

Lala balançou a cabeça, estava inconformada.

E foi exatamente nesse segundo, nesse mísero segundo, que notei uma sombra sorrateira passar por seus olhos transtornados.
Ela nunca pensou que eu fosse falar sobre aquilo.

Mas eu estava cansado disso. Cansado.

Eu já tinha perdido a Karol por causa disso. O que mais eu iria precisar perder para o trauma?

VolúpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora