Flashback
O dia mal tinha amanhecido quando saímos para ir pescar.
O dia anterior havia sido tudo que eu menos esperava, já que eu tinha certeza que nunca iria para a cama com Karol – não mesmo. Não enquanto houvesse a possibilidade dos malditos pesadelos me capturarem, no entanto, abraçado ao corpo dela, inalando o perfume de seus cabelos, envolvido pelo calor de sua pele e pelas lembranças do que fizemos, me vi adormecer profundamente, indo para um lugar longe o suficiente para os pesadelos não me alcançarem e, quando acordei no dia seguinte, tudo parecia ter sido o melhor dos sonhos.
Quando João me encontrou ao pé da escada e me falou que já estavam nos esperando, eu apenas assenti e me permiti ser ao menos civilizado com ele.
Éramos primos e, por muitos anos, fomos melhores amigos.E isso até que deu certo por algumas horas.
Em determinado momento nos afastamos um pouco do resto do pessoal e resolvemos ir até uma floresta que íamos muito quando criança; parecia interessante relembrar aqueles momentos tão puros, onde nenhum ódio poderia nos alcançar, mas assim que chegamos lá, as memórias amargas também se fizeram presente.
─ Eu lembro que você sempre fugia. Pulava a janela da cozinha e depois dizia a sua mãe que a culpa tinha sido minha. – João lembrou.
Me recostei no tronco de uma arvore e, de onde estávamos, ainda podíamos ouvir nossos companheiros de pesca conversando.
─ Era uma mentira de criança. Não era pro mal. – Gracejei, dando de ombros.
João enfiou as mãos no bolso da bermuda e sorriu, mas não havia muito humor.
─ Mas agora você é adulto e continua mentindo. Isso também não é pro mal?
Meu corpo estremeceu com aquelas palavras, mas tentei me manter sereno.
─ Do que está falando?
Ele arqueou uma sobrancelha.
─ Ruggero, eu sei muito bem que a Karol é uma acompanhante de luxo.
Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago; foi um soco repentino e imaginário, mas que me deixou momentaneamente sem ar, desorientado.
─ Você está maluco.
─ Vai continuar mentindo? – Ele balançou a cabeça, bufando. ─ Ruggero, acha que eu também já não contratei essas modelos? Trabalhei muitos anos como secretário de um empresário muito famoso, ele me pedia sempre para contratar acompanhantes, por que ele era gay, mas não queria ser "descoberto". – João chutou uma pedrinha com a ponta do tênis. ─ Quando vi Karol, me lembrei na hora. Eu vi o book dela. Ela saiu com esse cara. Eu a contratei, mas foi por meio de um tal de... Heitor, acho. Deve ser esse o nome dele.
Heitor. O agente da Karol.
Eu havia falado com ele, antes de falar com Safira.
─ Então você sabia o tempo todo. – Murmurei.
─ Sabia. – Meu primo olhou ao redor e depois me encarou. – Mas não se preocupe, não pretendo contar nada a ninguém. Karol está fazendo o trabalho dela, e imagino como deve ser difícil pra ela ter que fazer isso... Eu a respeito, jamais contaria que sei sobre o trabalho dela. Principalmente por que posso constrangê-la de alguma forma.
Assenti, surpreso.
─ Então por que está me dizendo isso? Poderia ter guardado isso pra você, afinal não estamos fazendo mal à ninguém. É só um contrato.
João riu, inconformado e revirou os olhos, como se eu fosse um imbecil.
─ Primeiro, eu falei por que não acho justo vocês mentirem para a Vovó e o Vovô, eles a amaram e vão ficar arrasados quando souberem do fim de vocês; segundo, por que... Por que eu vejo como ela te olha, é nítido que há algo mais acontecendo, mas você, seu burro, só a trata mal! Qual é o seu problema?
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Volúpia
FanfictionO sonho de Karol sempre foi ser uma modelo famosa, como as que via na TV em sua casa na pequena cidade de Santa Fé, no interior do Brasil; Por isso, determinada a conquistar seu maior sonho, ela embarca para o Rio de Janeiro e consegue entrar em uma...