Words

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Durante o caminho de volta fiquei calada. Hora ou outra Kenny me observava pelo retrovisor. Queria tirar essa solidão que eu carrego , precisava desabafar e só uma pessoa seria capaz de me ouvir.

- Kenny , me leve até o cemitério.

- Sim, senhora.

Ele deu a volta e seguimos até o cemitério local, onde meu pai está enterrado. O único homem cujo amei.Amei ao ponto de cometer o maior erro da minha vida.

Desci do carro com minha bolsa e meu whisky e mandei que Kenny me deixasse sozinha. Caminhei até seu túmulo, pedi que o transferisse para mais distante, assim poderia ficar longe de olhares curiosos.Tirei meus saltos , pois estavam incomodando e continuei andando.Lágrimas se formavam em meus olhos, senti saudades de um tempo que não posso recuperar.

Cheguei em seu túmulo e caí de joelhos chorando ainda mais.Me sentei de frente para sua lápide.

- Olá papai.Trouxe seu whisky favorito.-Acendi meu cigarro e dei um gole da bebida.-Queria não ter sido obrigada a te matar, pois agora estaria aqui para me abraçar.A que ponto cheguei papai...Ao ponto de não ter controle de minhas emoções.Me lembro que me disse que um dia iria encontrar alguém que fosse me desafiar, e olha, encontrei ele.-Dei mais um gole e ri comigo mesma.-Pena que vou ter que matá-lo, assim como fiz com nosso vizinho que me dedurou para mamãe e o matei esfaqueado...Tinha apenas nove anos e com a mente tão perversa.-Acabei meu cigarro e bebi em silêncio por alguns minutos.-Agora tenho um império a comandar e pessoas para matar...-Levantei e peguei minha bolsa.-Adeus papai.

Caminhei de volta para o carro e antes que ficasse mais longe olhei mais uma vez para sua lápide.

Johnatan Ross Haverlly

Filho, marido e pai amado.

1976-2007

-Te amo papai.

Deito - me na grama gélida. Fecho meus olhos e por um instante crio a ilusão de que ele está me olhando.

A única coisa que eu queria era chegar em casa e abraçar meu papai. Kenny está de cara fechada e visivelmente irritado.

- Vamos , Kenny!

- Okay,Kathie. Não me puxe !

- semanas que não o vejo,então por favor!

Corro durante o caminho de casa e paro ofegante. Sorrio largamente ao vê -lo sentado no degrau me esperando. Corro ainda mais e pulo em seus braços.

- Papai! Eu senti tanto a sua falta.-Falo chorando em seu peito.- Por favor, não me deixe por tanto tempo.

Ele rir. Beija o topo da minha cabeça.

- Amo você ,querida. Jamais duvide disso.

- Não me deixe.

Ele me olha nos olhos. Tira o cabelo que cobre meus olhos.

- Eu não poderia deixa-la. Você é o que mantém vivo.

As lágrimas caem com a lembrança. A pior sensação que existe é a da perda. A solidão que finca em nós é a pior tortura que um ser humano pode experimentar.

Caminho de volta para o carro e senti que alguém me observava e tratei de caminhar depressa.Assim que cheguei, ja ofegante, onde o carro estava estacionado, Kenny olhou para meus seios e isso me irritou.

-Senhora...Que ponto vermelho...-Começou a dizer.

No mesmo instante fui atingida no peito e caí nos braços de Kenny.

- Kenny...Me...Aju...-Tentei dizer, mas estava ficando tudo turvo.

- Senhorita! Acalme - se...-Ouvi ao longe ele tentando me acalmar.

Senti uma dor aguda no meu peito e tudo se escureceu pra mim.

° ° °

- Kenny, e se ela não acordar?-Ouvi Camélia falar entre choro.-Minha princesinha...

-Calma Camélia, ela é forte, ja passou por coisa pior, ela sempre sai por cima...Ela vai acordar.

Queria abrir meus olhos, mas não consegui. Parece que tem chumbo nas minhas pálpebras.Tentei mover um dedo ou algo do tipo, porém minhas tentativas foram falhas.

Alguém bateu na porta e Camélia mandou entrar.

-Como ela está?-Uma voz desconhecida perguntou.

- Ela não acorda à mais de duas semanas!-Exclamou Camélia.-Ela vai adorar saber que você a fez dormir mais que necessário, Benjamin, e vai adorar ainda mais saber que você esteve aqui.

Como?Duas semanas?!O que Benjamin está fazendo na minha casa?E quem teve a estúpida idéia de trazer ele aqui?- Minha mente grita histericamente.

Alguém pediu pra morrer.Kenny sabe que não admito esses tipo de desrespeito.

- Veja , os batimentos dela ja estão mais fortes.Creio que ja esteja nos escutando nesse momento.

- Vai ficar tudo bem, querida.- Sinto o toque de Camélia pegando minha mão e deixando um beijo.-Eu prometo.Benjamin, vou buscar algo para você comer.

Alguém saiu ,pois a porta bateu levemente. Sinto alguém me observando.

Sinto alguém pegar minha mão e logo soube que era de homem e se não me engano , Benjamin.

Ele me surpreendeu quando deixou um beijo casto nos meus lábios e foi como se cada célula do meu corpo acordasse para algo novo e desconhecido.

- Queria ter feito isso quando te vi , mas você é marrenta demais.Pretendo fazer isso , e coisas melhores, quando estiver acordada.-Confessou.-Sabe Lillith...-É Haverlly! -Imaginei você me corrigindo agora...-Sei que sorriu pelo seu tom de voz.-Achei que você fosse a pessoa mais perigosa por ai, mas vejo que há algo que até você mesmo teme...Você tem razão, me preocupo demais com você, ate mais do que deveria...E isso é a porra de um saco.E no momento, quero protegê - la, te salvar desse teu inferno interior que tanto te atormenta...-Novamente me beija e encosta a testa na minha.-É errado esta apaixonado por alguém que eu deveria odiar?

Sim,é errado. Ainda mais quando a pessoa sou eu. A porta torna a se abrir e fechar novamente. O sono começa a me consumir e sem relutância, o deixo me levar.

Lillith ( RETIRADA DA PLATAFORMA 10/12)Onde histórias criam vida. Descubra agora