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Angel

   Deixo a mochila ao meu lado enquanto solto um grande suspiro, Londres nunca esteve tão fria, olho o céu cinza sobre mim e saboreio o café com leite quente. Observo por um tempo o parque cheio, falta só mais alguns currículos e mais algumas horas para que eu volte, sinceramente, eu estou tão ansiosa para tocar hoje e além de tudo com tanta vontade de chegar e deitar naquele sofá delicioso, amanhã será o primeiro dia na faculdade e depois irei para o apartamento que eu e Fernanda alugamos. O que me preocupa é o fato de não conseguir um emprego ainda, quero ajudar Fernanda e sei que se não consegui logo, mesmo não pagando a faculdade o peso da estadia será grande. Seguro na bolsa e vou em direção ao ponto de ônibus, rapidamente olho o céu que se fechou ainda mais, espero que não chova agora, não agora.

   A má sorte chegou quando menos preciso, na verdade, nunca preciso, corro em direção ao ponto de ônibus, a chuva está forte e desfez o meu último percurso para entregar os currículos, ficará para outro dia, é um pouco quanto desconcertante. Em casa posso presenciar Fernanda a rir de mim por está encharcada, mas a minha preocupação são os documentos dentro da bolsa.
   — Hoje irei com você para aquele bar que me disse — Fernanda me ajuda com os papéis — parece muito convidativo.
   — Eu agradeço — sorri para a mesma.
   — Vá se aprontar deixa que arrumo aqui — dou um beijo na garota e corro para meu quarto, está a ficar frio demasiado essa roupa molhada em mim. Deixo a água fria cair pelo ralo enquanto me encaro no espelho, arrumo meu cabelo para um lado, para o outro e nunca acho um penteado bom para o mesmo, suspiro em derrota e me enfio embaixo da água morna deixando que meus músculos relaxem pelo dia.

   Na frente dos vestidos que separei, tento escolher entre o azul e o preto, pego nos saltos e ponho o vestido preto, arrumo meus cabelos num rabo de cavalo, o único penteado que ele aceita. Não exagero na maquiagem, apenas no batom vermelho. Um pouco de perfume e o violão, me olho no espelho e está tudo pronto. Assim que saio do quarto me dou de cara com Fernanda que veste um vestido igualmente preto, decotado e na altura dos joelhos. Descemos pelo elevador e assim que chegamos ao hall havia uma mulher que não chegava a falar, apenas a gritar com o pobre do porteiro.
   — Não deixe que ele suba mais, nunca mais sem a minha autorização! — A mesma parece bem incomodada com alguma situação ruim do seu dia, o que me chama a atenção é a sua barriga, está grávida, automaticamente sorri comigo mesma. Eu e Fernanda resolvemos sair às escondidas para evitar a vergonha que está sendo o escândalo, e já na rua pedimos um táxi para o local a algumas quadras.

   Na rua do bar o frio faz as minhas pernas se arrepiarem e me arrepender amargamente de está de vestido, mas lembrando do porque tento ignorar o desconforto. Entramos ouvindo a maravilhosa música calma e assim que chego ao bar Man o mesmo abre um grande sorriso.
   — Você veio — aceno para o mesmo que tem seus olhos presos em Fernanda, não posso contrariar a mesma que também tem seus olhos presos no rapaz atrás do balcão. — A sua vez chegará daqui alguns minutos. Um drink por conta da casa? — pude presenciar o ar galanteador, não é para mim.
   — Dois, por favor — Fernanda me olha com os olhos arregalados assim que o homem virou de costas, e noto de soslaio assim que alguém entra pela porta e se senta de costas para nós, aquele corte me lembrava de alguém. O rapaz do cinema! Como eu pude lembrar alguém pelo seu corte de cabelo? Rio comigo mesmo e a lembrança daquele dia me veio como um tapa, o jeito que me lembrei de Carl e a vontade grande de ter alguém ao meu lado como aquele rapaz estava ao lado da sua namorada.
   — Ouviremos agora uma convidada especial nossa. — Me levanto segurando o violão em minhas mãos e com um aceno agradeço por Peter me chamar.
   — Boa noite a todos — o rapaz de costas para o palco, levanta sua cabeça, mas nunca olha para mim. Os primeiros acordes foram soltos, estou nervosa, mas não deixo que isso atrapalhe os seguintes toques que viriam.

   Meus olhos se fecharam perante a melodia tocada, calmo e triste, com uma letra significativa. Não era "fantasmas" nem "no corredor" é uma música minha, finalmente tive coragem para mostrar a algumas pessoas a letra que tirou o peso das minhas costas e lágrimas de Daniel. Enquanto as estrofes saí da minha boca, as lembranças vêm a minha mente.

"Maybe I'll never forgive you for going, but also don't forgive me for not calling"

"Talvez eu nunca te perdoe por ter ido, mas também não me perdoe por não ter ligado"

Respiro e paro de tocar as cordas, ouvindo logo após as palmas pela canção.
   — Obrigada— saio do palco indo até Fernanda que me elogia pela canção que nem mesmo ela havia ouvido, tomo mais alguns goles e ficamos mais alguns minutos no lugar, onde pessoas me deram os parabéns, quando resolvemos voltar para casa estava orgulhosa da minha coragem de cantar na frente de todos, uma música que ninguém ouviu e pouco experiente. Enquanto falo com Fernanda, escuto uma voz que me fez parar na rua, também me trouxe muitos arrepios:
   — Você sempre ficou muito bem de preto.

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora