~07~

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Angel

   Não sei o que tem dentro de mim, é um enorme turbilhão de sentimentos, por o ver, ouvir sua voz, saber que ouviu a música e que também é o rapaz do cinema, não pude deixar de abrir um pequeno sorriso enquanto o vejo a minha frente, de mãos nos bolsos da sua calça social, observo o seu cabelo que deixou o corte curto e agora se tornou um emaranhado de cachos mai feitos e pouco ruívo. Com um toque descontraído de Fernanda limpo a garganta: — Olá, é... Tanto tempo — o bastante para ser não só uma surpresa por o ver, mas notar a diferença dele. Engolindo em seco nunca me senti ansiosa para uma resposta e para acabar com a conversa.
   — É, muito tempo — sorriu — soube que está bem. Curada, fico muito feliz! — ouço mais rouco, está mais forte, mais bonito!
   — Também fico — sorri largo, pois era verdade, estou feliz e essa felicidade não se substitui.
   — Carl vamos — Carl, ouço uma voz masculina de dentro do carro preto que não mudou nos três anos.
   — Até — sorriu de lado, o mesmo sorriso e quando dá partida para longe do lugar, fico a olhar o carro se indo, se Fernanda disse algo não sei do que se trata, pois o pensamento é; sabia que o veria, mas nunca pensei que tão rápido. O caminho todo para casa no táxi, Fernanda respeitou o meu silêncio perante os pensamentos. O seu rosto, o seu cabelo, ele. Foi um até, não um adeus. Quer dizer que minhas expectativas estavam erradas, Carl mora sim por aqui, só espero que não nos encontremos na rua sempre ou até mesmo na padaria.

   Respiro fundo tirando os saltos e indo a penteadeira, removo toda a maquiagem e ponho um pijama confortável de listras, saboreio o chá de camomila sobre o parapeito da janela a olhar as estrelas, Carl foi alguém muito especial na minha vida, e hoje quero o máximo de distância, apenas por te guardado tantas mágoas das suas palavras finais.

"Prometo te visitar, toda semana".

   Não o odeio, é apenas, algo que ainda estou a engolir que mesmo que namoramos, acho que nunca cheguei a conhecê-lo realmente. Hoje tem seus 23 anos, não mudou nada, só parece mais maduro. Tiro o pensamento de Carl da cabeça, já é muito tarde para quem vai acordar cedo, ainda mais para o primeiro dia de aula.


   É sempre corrido o primeiro dia, me sinto totalmente perdida nesses corredores imensos e brancos, bem iluminados pelas vidraças enormes, alguns alunos esbarram em mim apressados também para os seus horários, isso me lembra à escola, me fez sorrir e também se lembrar de Miguel, quero muito contar várias coisas para ele. São exatamente oito da manhã e a primeira aula começa em quinze minutos, estou em nervos, Fernanda segura minha mão ao seu lado e finalmente vemos o professor baixo de óculos e cabelos amarrados adentrar a sala de aula, calado e todos quietos, não se ouve nem mesmo os suspiros de ansiedade, apenas a tensão de começar algo novo.
   — Bom dia a todos, sou Nicholas, professor de Design gráfico, sejam bem vindos!...

   Depois da faculdade eu e Fernanda voltamos rápido, o seu horário de trabalho seria daqui uma hora e meia, são agora uma da tarde, a garota continuou no ônibus enquanto desci no bairro vizinho do nosso para levar os restantes currículos que não consegui entregar ontem, mas antes de entrar na loja meu celular vibrou e é um número desconhecido.
   — Sim?
   — Angel Cooper?

   Depois de ouvir tudo o que a mulher me disse, confirmar e desligar, dou pulo de alegria por ter recebido uma ligação de entrevista de emprego, não sei se grito aqui mesmo de felicidade, mas quase que corro para me sentar no banco á frente, porém a ação foi desfeita assim que bati num corpo. Espero que não vire hábito sempre bater em alguém na virada de uma esquina. Por sorte não cai.
   — Me desculpe — me encontro com os olhos verdes e novamente meu coração acelera e sinto um frio no corpo todo. Eu espero não virar hábito me bater de frente com ele.
   — Tudo bem — minha voz quase não sai, me perco nele por uns minutos, está a correr, já que tem roupa esportiva e fones.
   — Está morando por aqui? — vejo que se endireita numa postura fina.
   — Há algumas quadras — o olho e parecia perdido, em mim.
   — Gostei no seu novo corte — com o elogio, tento desviar o olhar e parecer menos envergonhada, aliás, sinto minhas bochechas queimarem.
   — Obrigada, é, adoraria conversar. Mas estou com pressa, desculpe — o mesmo sorri sem nenhum problema.
   — Ok, até Angel — passou por mim voltando a sua corrida, mas o que é isso, destino? Deu-me uma grande vitória e agora quer me tomar? Mas que droga é essa estou a ponto de correr dos olhos famintos sempre intimidantes. Respira Angel, a verdade é que era fácil dizer que não me importo com ele, era fácil não pesquisar sobre ele. Mas nunca pensei que seria tão difícil, ver ele.

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora