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Angel

   Ao entrar em casa solto um grande suspiro e me sento ao sofá quase a me jogar no assento fofo. Encaro a grande vista da noite pela grande janela e lembro da cara enjoada da loira, ao mesmo tempo, a conversa que teve com aquele homem passa à minha mente. Não gosto de pensar em como Carl poderia se sentir e como se sente. Deixo de pensar tanto e espero que as coisas fluam, seguro nas minhas bolsas indo em direção a escada escura, não faço questão de iluminar a casa nem mesmo de me alimentar, perdi a fome e estou desanimada. Sento em frente ao meu computador como venho fazendo desde o começo dessa semana resolvo não fazer nenhuma live nem nada que mostre a minha pessoa, só escrevo um texto que percebo que carrega tanta dor quanto eu carrego, sei que esse blog foi feito para incentivar as pessoas a serem fortes, mas nem sempre todas são, nem mesmo eu. Notifiquei a todos que a pessoa que me incentivou a fazer tudo isso, a construir uma coisa que me fizesse passar o tempo no hospital, algo que me fizesse esquecer como era chato estar no meio de tudo aquilo, todos mereciam saber que Fernanda não iria mais publicar comigo ou aparecer mais nas lives. Depois de enxugar as minhas lágrimas me deito na cama, tiro toda a minha roupa jogando para qualquer canto e me enfio debaixo da coberta. Deixo que às lembranças venham e as lágrimas vão, eu preciso de forças e motivação para amanhã, esses dias pareceram meses.

   Espero o ônibus no ponto, hoje o dia está mais frio que todos os outros, o sol está aparente e tremo enquanto tenho minhas mãos dentro dos meus bolsos. Penso em tudo que poderia fazer essa semana e acabo percebendo como essa semana está totalmente diferente das primeiras que tive em Londres, que eram tão produtivas que sabia o que faria nas próximas.
   — Bom dia, senhorita! — encaro o rapaz ao meu lado e meus olhos vão direto aos cabelos pretos que realçou ainda mais os olhos azuis. Sorri para o mesmo e aceno pequeno, enquanto um sorriso desenha meu rosto.
   — Bom dia Bryan — seguro minha bolsa enquanto tento parar de tremer um pouco, os três casacos que uso parece que não apara o frio que está fazendo pela manhã. No ônibus eu e o professor conversamos, disse que passaria todas as lições que passou na semana que fiquei em casa, fico muito feliz em saber que fará isso por mim. Mas o meu maior medo é quando chegar à faculdade.

   Quando chego, parece ainda mais aterrorizante do que pensei, algumas pessoas me olham já que o meu rosto esteve nos jornais, não consigo me manter ali e tudo o que quero era correr, respiro fundo olhando para meus pés e começo a andar por meio das pessoas, ao passar pela sala de Design tecnológico sinto um arrepio na nuca ao lembrar da noite que Carl me salvou e esmurrou a cara do homem que arruinou a vida de uma inocente. Será que ele seria mesmo capaz de ainda dá aula aqui? Resolvo não pensar em nada a mais que ir direto agradecer por me deixarem ficar em casa.

   Depois da faculdade já estou dentro do ônibus para ir trabalhar, hoje recebi a notícia que o assassino de Fernanda não iria dar mais aulas, segundo ele, iria "embora" com sua família para França porque surgiu uma oportunidade de trabalho. Duvido muito que irá, gostaria muito de pensar positivo sobre ele ir embora e deixar eu e Carl em paz, mas tudo indica que pode estar planejando algo para nos atingir, mas o que ele quer de Carl? O que ele quer realmente? Isso tudo está estranho, não é só porque Carl já fez serviços para ele, quer algo e quero descobrir o que é.

   Desço do ônibus e entro no café recebendo o olhar de Fred, sorri pequeno enquanto ando até a área de serviços para pôr meu uniforme, cumprimento o homem ao meu lado com um beijo na bochecha enquanto seguro o bloco de notas para atender os clientes que acabam de entrar, só quero logo fazer meu tempo passar para ir embora, sentar em frente ao computador assistir alguma coisa ou até mesmo tomar um chá e dormir, quero que passe rápido essa semana para ir visitar Lis e Daniel. Só quero ter que passar um tempo no aconchego de pais, só quero ter a minha bateria carregada para aguentar tudo daqui para frente. Não quero me preocupar por um minuto com Cassandra, com trabalhos da faculdade com nada apenas deitar na minha cama e ver o tempo passar, aprendi tudo na minha vida naquele hospital, menos perder alguém, perder sempre será um ponto na minha ferida desfeito, a ferida nunca vai cicatrizar, agora sei como Carl se sentia em relação a Loren, tenho que passar pelo que ele passou para descobrir que é fácil dizer que não foi culpa dele. Mas agora me sinto culpada pela morte de Fernanda e não sei como faço para esse sentimento horrível sair de dentro de mim, estou tão cansada sem ao menos ter feito nada, me sinto tão esgotada, tão fraca. Era o que Carl sentia e agora eu sinto muito por ele, e por mim também.

Me desculpe por tão pouco, irei trabalhar em um capítulo melhor

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora