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 Angel Cooper

   Tomo um banho quente, aproveito para me dar alguns cuidados especiais e lavo meus cabelos. Quando saio do banho separo o vestido preto que comprei e uma bota que ganhei de Fernanda, seco meus cabelos deixando os mesmos soltos, faço uma maquiagem marcante, porém não exagerada, ponho o vestido que cai bem nas minhas curvas e ponho o perfume, deixo o batom vermelho dá o destaque em mim e coloco uma blusa de frio que chega até as minhas coxas, seguro na minha bolsa e suspiro. Meu coração acelera e sinto frio na barriga assim que o telefone toca.
   — Senhorita Angel, tem um senhor a sua espera — ouço a voz do novo porteiro e respiro fundo. — Carl Gutemberg — minha pele se arrepiou apenas com o nome ouvido.
   — Obrigada,  já estou descendo.

   Desligo as luzes do apartamento e meus saltos já ecoam pelo grande corredor até o elevador, a cada segundo que vejo que passo por um andar sinto meu ar faltar, respiro fundo tentando controlar a ansiedade dentro de mim e meus nervos. Quando o elevador se abre e vejo a sua pessoa de frente para mim, sabia que me espera, seu semblante não mostrava nada, era apenas um rosto, sem surpresa, sem felicidade, sem tristeza e sem confusão. Era apenas Carl. Seguro em seu braço assim que me chama a segurá-lo.
   — Boa noite senhorita — sua voz ecoa rouca no fundo da sua garganta.
   — Boa noite senhor.

   O percurso até o restaurante é longo, fica em um lugar que ainda não conheci em Londres, eu e Carl não trocamos muitas palavras, ele apenas me disse alguns pontos que gosta desse lado da cidade e quando chegamos fico agradecida por minha roupa ser no nível desse restaurante, era lindo. Assim que chegamos à porta é aberta pelo segurança e uma mulher que entregou os cardápios para nós enquanto nos levou a mesa reservada, Carl fez a gentileza de puxar a cadeira para mim e tirar a minha blusa de frio, assim que se sentou me encarou, era misterioso — como sempre foi — mantinha seus olhos perfurando a minha alma, como se seu objetivo nesse jantar fosse descobrir algo do além que ele sabe, mas acontece que como eu não sabia nada, ele também, como em três anos eu mudei, ele também mudou.
   — O que andou fazendo nesses anos? — a sua pergunta me acertou em cheio, sabia que perguntaria do meu tempo, mas não sabia que seria tão direto.
   — Eu expandi — o mesmo abaixou o seu cardápio e lá estavam as suas famosas sobrancelhas franzidas — aprendi mais do que eu já havia aprendido, li livros, milhões deles — revirei os olhos em diversão — acho que uns quinhentos apenas em dois anos — sorri, a minha intenção aqui não era jogar na sua cara em como me senti com sua ausência, por mais que tenha uma mágoa por suas palavras, não tinha intenção de julgá-lo por nada — foi bom até, nunca pensei que eu sentiria saudades de lá — agora o cardápio está abaixado.
   — Soube que tem um blog — seus olhos nunca abandonando os meus e suas mãos a brincar com os próprios anéis — vi alguns vídeos seus, é muito boa à causa do canal.
   — É foi o que me deu forças para continuar — sorri encarando seus olhos, sempre foi tão chamativo e intrigante — a pior parte do tratamento eram as recaídas, e muitas delas pensei em desistir, mas bom, Fernanda me deu a ideia de incentivar outras pessoas que começaram o tratamento ou simplesmente tinham algum problema. Quando soube que teria que passar mais de dois anos foi devastador.

  Carl chamou o garçom e fizemos nosso pedido, assim que o homem se retira de perto de nós suspiro
  — Lembro que nem Lis e Daniel acalmavam meus nervos — sinto que estou séria, enquanto seu olhar é indecifrável — a parte de curar a minha iniciante bulimia foi a pior e a mais longa, mesmo que cuidei dela por apenas um ano e alguns meses — me ajeito na cadeira e o olho — e você? — ainda me olha, como se analisa tudo o que disse e organiza na sua cabeça ou até mesmo coloca as palavras certas para ser dita a mim.
   —Fui preparado para ser o que não queria ser — se sentou melhor na sua cadeira se virando realmente para mim, mexeu nos talheres impaciente talvez, ou apenas um ato de lembrança — preparado para fazer arte e não ser pinturas ou mesmo música — me olha nos olhos e sinto meu coração acelerar — preparado para ser reconhecido pelo mundo como o filho que ninguém sabia que meu pai tinha, ou até mesmo preparado para ser reconhecido não pela música nem mesmo pela arte da pintura — o modo que fala, não sabia decifrar as emoções que transparecia.
   — Sinto muito pelo seu pai — sinto mais ainda por não ligar quando soube, por não compartilhar do nosso sofrimento.
   — Não sinta, é a lei da vida, nascemos para morrer, mas sinto, por não ter passado tanto tempo com ele como gostaria de ter passado.

  Nossos pedidos chegam e seus olhos nunca saíram do meu, Carl teve que aprender, o que vejo é que nesses três anos, está maduro o suficiente, aceitar a morte do pai é aceitar a morte de Loren, é bom saber que se recuperou disso e que talvez nem se culpe mais, a morte deles pode doer, mas aceitou, aceitou que um dia eu ou ele também iremos embora.
   — Você se orgulha de quem se tornou? Cumpriu todas suas metas que planejava há três anos? — seus olhos de imediato vieram para mim e sua colher se abaixa para seu prato enquanto a minha vai à minha boca.

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora