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  Assim que chego à casa que tem muitas histórias vividas por mim, sou recebida com um forte abraço de Elina e vários carinhos de Thomas. Já no quarto olho todos os lados, leves lembranças me passam em volta de tudo isso, eu abaixada no sanitário a chorar, Carl deitado comigo, eu às pressas arrumando minhas coisas para a escola e o dia da formatura, o dia mais feliz e horrível da minha vida. Suspiro alto, já são exatamente onze da manhã me sinto exausta sem nem mesmo o dia começar, mas não me atrevo a dormir ou descansar, quero aproveitar com os dois lá embaixo.

  Depois de vestida com uma roupa confortável desço as escadas, ambos estão sentados na sala e perto deles tem uma caixa de transporte.
   — Ganharam um novo animalzinho? — chego perto vendo o lindo gato cinza e peludo — oi menino.
   — Nós não ganhamos — olho Lis, confusa e logo depois Daniel.
   — Oh não! — percebendo do que se trata sorri largo brincando com o pequeno filhote.
   — É seu querida — seguro em minhas mãos o pequeno corpo enquanto me derreto toda com sua fofura.
   — Muito obrigada! — não disfarço a minha felicidade de ter um animalzinho comigo, Thomas me ajudou muito no meu processo e ter esse gatinho vai ser ótimo, Fernanda irá adorar.
   — Pensamos em te dar o Thomas, mas assim como ele sentiu sua falta e a de Carl, sempre está ou no seu quarto, ou no porão, ele também sentiria a nossa. Achamos que seria muito para ele. Como vai se chamar esse rapaz? — sorri largo para Elina e olho bem os olhos verdes amarelados do gato comigo, algumas das suas listras quase imperceptíveis, não existe um nome melhor que:
  — Doncaster — faço carinho em suas orelhas.
  — Por quê? — balanço minha cabeça negativamente e fico mais séria.
  — Não, aqui começou a mudança da minha vida, aqui descobri que posso ter amigos, aprendi muito com você e com Carl. Aqui tive oportunidades e foi aqui que comecei o meu processo de cura. Doncaster para quando olhar para ele, saber que tudo tem um propósito, uma saída, que tudo tem um tempo, uma solução — a mesma tem um sorriso largo no rosto, o mesmo que me acolheu em todos os momentos difíceis.

  Depois de uma longa conversa com os dois sobre como está indo em Londres, conto a eles que encontrei Carl e que agora toco em um bar, trabalho em um café e tenho meu apartamento. Estou sozinha na sala já que Daniel teve que atender uma ligação urgente e foi para o hospital, fico feliz em saber que meu pai subiu de cargo para ser médico junto a Elina, fico super feliz por ele, estou só, com meus pensamentos, Lis subiu para seu quarto e até agora não desceu, me despertou uma curiosidade ao olhar para o pequeno corredor atrás da escada, o porão. Levanto-me do sofá deixando Doncaster e Thomas deitados, vou devagar a poucos passos me recordando de muita coisa.
   — Nunca entrei — paro de andar ao ouvir a voz, logo os passos nos degraus da escada são ouvidos — desde que foi embora desta casa, nunca me atrevi de olhar para uma só coisa dele que ficou — olho para a mulher como parece triste — saberia que ele iria, mas nunca realmente me preparei. Sempre me mantendo forte para que não caísse, sempre aguentei o fato de Loren não estar entre nós, mas Carl era minha base, minha base de força e de tudo e mesmo tendo contato com ele, sinto um vazio imenso — não me olha, parece pensar em todos os momentos com seu filho, sei como se sente, de todas as formas, sei.
   — Então te convido para ver — sorri e a mesma me olhou, demorou para responder, estar a processar ou imaginar Carl a brigar com ela por ter entrado no seu lugar de mágoas. Mas acho que o Carl de agora não se importaria — vem.

  Abro a porta e o escuro é a única coisa que víamos, o cheiro de pó é presente e meu nariz já protesta, três anos, fechado, deve ter muita coisa empoeirada, também está presente o cheiro de tinta e de material, ainda está fresco. Assim que acendo a luz e boa parte dos quadros estão na nossa visão, o resto estão embrulhados em plásticos, outros estão com lonas por cima, o cuidado dele antes de ir, me viro para ver Elina tão surpresa quanto quando eu entrei aqui, esse lugar me leva à magia que a galeria da minha mãe tinha, as obras eram lindas, cada uma com um significado, uma dor, uma lágrima. Esse lugar é cheio de sentimentos, é só se permitir a sentir. Elina olha tudo, segura e toca em quadros, observo as fotos que tirou e também sinto faltas de algumas.
   — Quando ele veio aqui. Passou um tempo aqui embaixo. Com certeza pintando ou revivendo — a olho — quando subiu, perguntou de você. Meu menino já é um homem, agora aprendeu tudo que tentei ensinar para ele. Absorveu cada coisa, falou de Loren, falamos dela sem brigar — posso ouvir sua voz se quebrar em choro — isso é muito bom.
  — Sim, Carl mudou muito —extremamente outra pessoa.

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Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora