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    Pela manhã me arrumo para a faculdade, meu corpo está totalmente pedindo um arrego, mas não tinha conseguido pregar meus olhos, desde a imagem de Fred até a de Carl com a loira, não faço a mínima ideia de o porquê estar lá e nem quero fazer, estou preocupada com Fred e como irei cuidar de tudo sozinha hoje, não poderei faltar à aula de modo algum, muito menos ao trabalho que acabei de conseguir, aliás, tenho quase a certeza que Eduardo irá pedir para ficar no lugar de Fred, já que de garçom e caixa só tem ele, o pior, é que só estaria eu e outro rapaz, que entrou para o trabalho na cozinha há algumas semanas antes de mim, teria que fazer dois trabalhos. É, a ideia da festa havia sido ótima, mas infelizmente o final não foi bom, para ambos até.

   No ponto de ônibus com Fernanda a mesma tenta me animar. Tinha dormido no sofá a me esperar, e devo imaginar o quão preocupada esteve, as ligações foram muitas entre a hora que entramos no hospital e a hora que saí. Respiro fundo e tento manter a minha cabeça erguida.

   Nas aulas, não raciocino muito bem, mas nunca deixo de fazer algo. A última aula é de Bryan, e o mesmo me deu uma trégua, achei bom da sua parte, mas quis fazer a atividade, não é justo, há pessoas aqui que também estão cansadas, mas não seria ruim eu tirar um cochilo. Porém, não o fiz, terminei tudo o que eu tinha que fazer e segurei no meu material saindo da sala ao encontro de Fernanda.

   Enquanto espero no estacionamento, posso ver aquele professor misterioso que me encara, está parado e fumar no seu carro, nunca deixando seus olhos de mim me sinto realmente incomodada e mesmo tentando disfarçar de algum modo, o olhar queima em mim e de outros modos quero sair dele. Onde está Fernanda? Sua fisionomia não me é diferente, já o vi, mas não sei quem é, talvez o cabelo longo e a cicatriz misteriosa não me deixe saber de quem se trata.

~•~•~•~

   O dia no trabalho havia sido muito cansativo, foi muito confuso atender, servir e receber o pagamento no caixa havia saído muito tarde do trabalho, por sorte o apartamento fica a alguns pés apenas. Respiro pesado por conta do frio, é difícil andar rápido quando todos os seus músculos estão travados pela neve, Carter me avisou que Fred está bem, agradeci pela sua consideração e desliguei o celular para não acabar a bateria.

  Assim que piso em casa pude sentir o aroma delicioso do perfume de Fernanda lá no fundo. Está realmente muito frio, tiro a roupa encharcada pela neve e coloco meu pijama, seguro no meu lençol indo para a sala, sei que vou acordar cedo, meu corpo pede arrego, mas não tenho sono, por incrível que pareça. Sinto meus músculos protestar assim que me sento no sofá confortável com uma xícara de chá de camomila. Ligo a televisão em uma notícia e vejo que se trata de neve.
   — "Há uma tempestade de neve vindo a nossa direção, provavelmente escolas, faculdades e comércios serão fechados. Não haverá viagens e os aeroportos estão fechados. Se preparem essa vai ser pior que as outras". — Era bem raro pelo que ouvi Londres nevar a extremo, mas bom, amanhã será um dos dias raros de se ver por aqui, as tempestades de neves nunca foram tão violentas, me desperta um pouco de medo, mas ao mesmo tempo, alívio em não sair de casa. É, parece que o dia que eu falei que queria que chegasse chegou mais cedo do que eu imaginei. Aliás, estou agradecendo que não irei à faculdade, não irei trabalhar e o chato disso tudo, eu não vou poder ver Fred nem Elina e Daniel, só ficarei aqui.

   Pela manhã quando acordei sentia meu corpo doer, a televisão estava desligada e o sol iluminava a sala em uma luz alaranjada. Observo o relógio ao lado da televisão vendo que são sete da manhã, hoje é dia dezoito de março, acabo por lembrar que não tenho mais consultas com a Gabbe. Deixa-me triste e feliz ao mesmo tempo. Espreguiço-me e vejo que Fernanda está em pé em frente à janela. Levanto-me indo até ela vendo que nem moveu os olhos para me encarar, sigo seu olhar até o chão coberto realmente pela neve, carros enterrados e nem sinal de pessoas.
   — O que foi? — por fim as palavras aglomeradas saíram da minha boca.
   — Há um carro ali — saí tão baixo que não ouço — que tenho a sensação que me seguiu à noite toda vindo para casa — confesso que fico assustada, Fernanda é uma pessoa que não acreditava ou liga para nada. Um simples "pressentimento" é algo que dá para ver que a assusta, sendo que nem mesmo fantasmas ou mortos lhe dão calafrios.
   — É como se, a pessoa estivesse ali. A me olhar — respiro fundo. Ponho minha mão em seu ombro vendo que me encara e sorrio pequeno a fim de confortá-la.
   — Deve ser um morador, não se preocupe as ruas ontem estavam perigosas, por isso pode ter sentido isso, eu também sinto às vezes — começo a caminhar para a cozinha.
   — Ele tinha um cardigã preto, não mostrava o rosto, mas percebi os longos cabelos — meus olhos arregalados e meu corpo parado no meio do caminho, a lembrança do homem que não ajudou a mim e Fred, ou até mesmo do homem parado no carro de frente ao nosso antigo apartamento, agora me assombra na mente. Não sou a única.

Me desculpe pelo capítulo, demorei muito e entreguei algo tão rápido e sem construção, esses dias foram corridos, tive que trabalhar a home office e cuidar dos meus avós, mas já estou de volta e vou preparar capítulos elaborados

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora