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Angel

   Então era por isso que ele não queria me dar as chaves?

   Meu coração palpita no peito, tão forte que escuto ao lado direito do meu ouvido, alguns passos recuados, parece que a figura me espantou, quem é essa mulher? Meu pai tinha uma amante? Lis? Minha mãe sabia que estava sendo traída e não fez nada? Como ele pôde? A minha felicidade de ter entrado aqui e visto que finalmente iria abrir esse lugar, que finalmente vi o quadro que minha mãe me prometeu mostrar, havia se ido. Descobri muitas coisas de Daniel apenas com esse quadro — ou acho que descobri, ou meus pensamentos montaram coisas sobre meu pai em poucos minutos, talvez nem tenha sido isso, mas a figura, está muito explícita — mas está bem evidente o quão provável o seu amor por Luce fosse apenas uma paixão e se tenho irmãos? Se Daniel teve duas famílias ao mesmo tempo? É muita coisa pra processar e olhar esse quadro me traz muitas dúvidas. Fecho a porta da pequena salinha e me sento na poltrona, está tudo impecável e do jeito que lembro, olhando o canto do escritório recordo quando me trazia e deixava brincado naquele lugarzinho. Uma lágrima caí, tanto por não lembrar mais de seu rosto quanto por sentir tristeza da descoberta de segundos atrás. Apenas quero ir e acabar logo com esse dia. Não quero aceitar, mas terei, o meu dia acabou totalmente. Uma simples pintura com um grande significado e história por trás fez isso. Desço as escadas novamente observando e deslizando minhas mãos no corrimão, está tudo impecável, Carl teve o cuidado de substituir só uma cor, o prata da minha mãe pelo meu vermelho, e mesmo assim, ainda existe muito dela aqui. Antes que eu vá em direção a porta meu celular vibra no bolso.
   — Sim?
   — Angel Cooper? — uma voz desconhecida do outro lado da linha me fez ter dúvidas de como sabe meu número e meu nome, já que o celular mostrou que o número é desconhecido. — Angel?
   — Sim, sou eu — olho pela vidraça como está lá fora, algumas pessoas passam e tentam ver o que há aqui dentro, só eu os vejo, o que acho divertido e bem pensado por Carl. Aqui dentro ficariam quadros muito valiosos, qualquer um poderia querer quebrar, esse vidro também deve ser muito forte.
   — Somos da Gutemberg's Company e o senhor Carl pediu para entregamos uma encomenda a senhorita. Estamos perto da sua galeria e queríamos confirmar a entrega — entrega? Mas entrega de quê?
   — Bom, por sorte estou aqui. Podem vir — ouço que confirma e saio da galeria vendo um grande caminhão a chegar. Várias pessoas também olham curiosas e até eu mesmo não sei do que se trata. Um homem de preto desce do grande automóvel e caminha até mim enquanto abraço meu corpo.
   — Senhorita — abre um grande sorriso, não posso deixar de reparar nos seus raros olhos amarelados e segura uma prancheta que me entrega.
   — Olá — encaro o documento e vejo que homens se direcionam a traseira do carro grande — posso saber do que se trata a entrega?
   — São quadros — ainda olhando em seus olhos a ficha só me cai quando vejo um quadro conhecido por mim. Há dias havia o visto no porão da casa de Lis. Assino a prancheta e o entrego vendo que me dá um pequeno papel.
   — Obrigada — enquanto os homens movem as telas para dentro da galeria, também entro para ler a pequena carta.

"Angel
Receba esses quadros como uma forma de gratidão minha por me inspirar a fazê-los, você foi e sempre será uma grande inspiração para mim. Tome eles como seus, assine embaixo com sua assinatura, ficarei lisonjeado em ir à inauguração e ficarei mais ainda em poder ser o primeiro comprador de uma bela obra. Estou ansioso para ver novas pinturas, ainda mais, pintadas por mãos tão delicadas, guardo até hoje o que disse para mim em uma casa vazia, minhas obras deveriam ser compartilhadas, te dou essa honra por mim"
                                                   C

   Sorri com suas palavras em letras redondas e seguidas de um aroma másculo. Agradeço os homens pelo trabalho e observo tudo à minha volta, "Tome os quadros como seu e os assine com sua assinatura". Você pode ter me dado Carl, mas não sairá dessa como um simples construtor renomado e conhecido. Penso que está mais que na hora das pessoas ver o que é o seu talento, julgo que ele ficará um pouco bravo.

   Saio da galeria mais tarde do que imaginado, no Volkswagen já volto para casa depois de ter ido anunciar a inauguração. Talvez amanhã mesmo já esteja nos jornais ou em pôsteres pela rua, pretendo inaugurar na semana que vem. Amanhã encontraria a equipe da palestra que irei ministrar para tirar fotos e também pôr em pôsteres para comprarem os ingressos, fico feliz em saber que cinco libras de cada um irá para a instituição de caridade local. Mais feliz ainda por estar ajudando de alguma forma. Passo no mercado para comprar algumas coisas para o jantar e termino o trajeto de volta para casa.

   Coloco na fechadura a minha chave e tranco a porta indo logo para a cozinha, deixo a água no fogo para um chá e também abro a comida pronta que comprei. Deixo no micro-ondas enquanto subo as escadas, tiro toda minha roupa para um banho rápido e quente. Quando saio visto uma roupa confortável para assistir a noite toda até pegar no sono, mas quando seguro meu celular lembro de Carl. Devo agradecer a ele por me dá a oportunidade de mostrar ao mundo seu talento e uma ideia me vem à cabeça, encaro o relógio para ver que são oito da noite, olho para fora vendo apenas a rua escura. Desligo o fogo e guardo a comida que esfriava novamente dentro do micro-ondas, seguro nas minhas chaves, visto o grosso casaco e coloco pantufas, chamo Don que corre até mim e o seguro, escondo entre meu casaco e sinto que se aconchega, saio do apartamento para o estacionamento e o ponho no banco passageiro enroscado em minha touca.

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Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora