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Angel

   Sentada em frente ao espelho olho para o meu vestido, havia se passado dois dias desde o acontecimento horrível e confesso que ainda estou mastigando tudo o que ocorreu, foi forte quando a ficha me caiu, foi ainda mais ter que dá a notícia para os pais de Fernanda, não demorou muito para todos saberem já que a tragédia passou na televisão de Londres, não quis dar nenhuma entrevista e nem quis expor que estava com Carl, ninguém sabe a não ser Elina e Daniel que também ligaram. Não quero que tenha problemas com sua namorada e por isso mesmo de hoje não passa, fui trabalhar esses dias e depois do velório de Fernanda, irei à procura de um apartamento, só entrarei na casa de Carl novamente depois que achar algo, nem que fique com calos no pé.
   — Vamos? — não olho à porta onde o homem de roupas formais está, ainda estou a encarar a minha figura horrível de olheiras e olhos inchados de chorar. Me levanto e caminho até a sua beira, olho em seus olhos, está difícil de andar, de ter que aguentar em pé. Não fui a faculdade e confesso que sinto uma forte vontade de não ter que voltar lá, não quero olhar para o seu assento, nem para o homem que a matou, não quero voltar ao apartamento e olhar seu quarto, não quero me olhar. Abaixo meus olhos para ver os sapatos pretos de Carl, passo pelo mesmo e desço as escadas da sua casa.

   Dentro do carro parados um pouco distante olho todos os seus familiares, todos aqueles pontos pretos um separado do outro nos gramados, Carl segura na minha mão assim que abandono o meu assento. Suspiro olhando como encaixa tão bem na minha - como antes encaixava - me guia até o lugar onde todos estão, onde a cerimônia já começará. Passa tão devagar, mesmo estando tão distante, não ouvindo nada apenas com meus olhos no caixão sendo enterrado e as minhas lágrimas escorrendo pelo meu pescoço e manchar à terra. Pouco a pouco cada um se foi, Carl também não está ao meu lado, a mãe de Fernanda falou algo comigo e logo também se foi. Eu estive tão distante que não me lembro o que falou, só lembro de olhar para longe e ver o homem de mãos no bolso, Miguel! Olhou o chão e se distanciou entrando em um carro preto, ele veio...
   — Você voltará para sua casa? — olho o homem ao meu lado — sou o tio de Fernanda, Heitor — não me olha, observaa além das árvores ao redor do cemitério.
   — Não tenho forças de voltar para lá, senhor — limpo minhas lágrimas com o dorso da minha mão.
   — Deveria imaginar — seus olhos vêm aos meus, parece realmente alguém fino, calças sociais pretas, blusa branca embaixo do colete de listras brancas, joga para trás seu sobre tudo e retira do bolso um maço de cigarros, seus olhos são tão parecidos com os dela que os meus enchem de lágrimas novamente.
   — Quero lhe dá isso — me mostra uma chave — quero que fique no meu apartamento.
   — Eu não posso acei...
   — Fernanda iria querer isso, no próximo negócio que vinha fechar aqui em Londres — fica em silêncio encarando a chave dourada — iria dar para vocês, não tenho mais vontade de estar em Londres, me mudarei para a Itália em dias. Você merece, por ter cuidado dela e ter amado como uma irmã. — Não tenho o que dizer e recusar não me parece uma boa coisa, olho a chave em sua mão que se direciona a mim e respiro fundo fungando as lágrimas que invadem minhas fossas nasais.
   — Obrigada — é a única coisa que sai e a sua despedida é um aceno para mim. Depois que some da minha visão pude ver Carl, a me olhar encostado em frente ao seu carro. Jogo a rosa branca, que segurei até agora por não ter coragem, em cima das restantes flores que enfeitam o seu túmulo.

   Na volta para o apartamento de Carl assim que abre a porta retiro a blusa de frio que me mantinha quente vendo sua figura se afastar talvez para o seu escritório na biblioteca.
   — Se incomoda que fique por dois dias? Preciso desse tempo para transportar as minhas coisas. — Parou no meio do caminho, mas não se virou para mim.
   — Não me importo se ficar mais dias.
   — Não quero que tenha problema com sua...
   — Ela não é minha namorada e não se importa de vir aqui me ver — foi tão frio, Carl também sentiu a perda de Fernanda e estamos todos sentindo. Engulo em seco quando vi que estou só nesse lugar, também percebo que os dois dias que estive aqui não vi nenhum dos seus empregados, talvez os dispensou. Subo para o único lugar que fiquei esses dias, olho meu notebook, na qual escrevi muito no blog, não fiz algum vídeo e nem fui a galeria. Quero apenas um tempo antes de tudo voltar ao normal, levaram Fernanda de mim e tenho que lembrar que eu e Carl somos vítimas e que Elina e Daniel podem correr perigo enquanto este homem estiver por ai.

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora