~34~

95 11 0
                                    

  Saio da casa de Carl antes que chegue do seu trabalho, entre as ruas de Londres não pretendo pegar nenhum ônibus para chegar no bar, tenho apenas um papel no bolso direito da calça que visto e um violão nas minhas costas, vestido por uma capa preta de couro, eu só preciso descarregar a minha dor nos acordes e na minha voz, hoje é o dia marcado de tocar naquele bar, de beber e esquecer um pouco de tudo antes de voltar a minha rotina, sozinha. Não consigo imaginar fazer algo só, quando meus planos foram feitos para serem cumpridos junto a uma pessoa e farei tudo sozinha agora. Chego na esquina tão conhecida por mim, decorei esse lugar tão pequeno em dias, a cidade pacata parece um filme de terror. Sinto que a qualquer hora tudo isso vai desmoronar, que tudo que gosto vai embora, os poemas, os livros os desenhos e a música, por um momento tudo se torna preto. Entro no lugar que passei a enxergar como um refúgio, aqui está o meu oceano e sou o peixinho perdido. O homem atrás do balcão para de limpar quando me ver, cumprimento alguns rostos conhecidos e caminho até ele com o violão na mão me sentando ao bar.
  — Eu sinto muito! — é a primeira coisa que diz e a última que queria ouvir essa noite.
  — Nossa às notícias correm rápido — viro o pequeno copo de bebida sentindo descer quente pela minha garganta.
  — É! Passou no jornal Angel — concordo com o rapaz enquanto olho a multidão vendo um rosto conhecido e um cabelo peculiar no meio de tanta gente normal. Bryan!
  — É! Agora meu rosto está estampado por noticiários. — Tento sorrir para o rapaz e pôr o mesmo tom de voz, mas me saí horrível. Antes mesmo que cogitasse cumprimentar meu professor o mesmo teve a atitude de se sentar ao meu lado.
  — Angel — cumprimento-o lhe dou um aceno e um breve sorriso que se foi tão rápido quanto apareceu.
  — Se for dizer que sente muito, também sinto — o mesmo deixa escapar uma pequena risada e não me olha nos olhos, sua cabeça está abaixada enquanto a balança de um lado para o outro.
  — Não, eu apenas queria uma conversa — seus olhos vêm aos meus e me permito a vasculhar mais do azul. Respiro fundo e deixo o meu violão em descanso na parede.
  — Me desculpe, essa semana foi muito difícil para mim.
  — Devo imaginar, veio para cá afogar as mágoas?
  — Na verdade, não, toco aqui de quando em quando. Amanhã irei voltar a faculdade.
  — Imagino como deve ser difícil voltar a sua rotina, sozinha agora.
  — Eu vou tentar focar em terminar a faculdade e no meu negócio. Quero que chegue o final de semana logo para que possa chorar nos braços do meu pai e só — olho todo o ambiente e não deixo nenhuma lágrima cair, mal percebo que estou desabafando com eles. Já pensei em desistir de tudo não só por Fernanda, esses vagabundos ainda estão soltos por aí e isso que está me deixando nos nervos, irão fazer mal a mais pessoas e sei que não sofrerão, eles sentem prazer nisso.

  Assim que meus pés entram na casa de Carl me surpreendo com o escuro, sempre que está em casa a luz de algum lugar está acesa. Caminho até o centro da sala para ver se tenho a visão da biblioteca, nada! Subo as escadas devagar sentindo uma flagrância longe, saiu? Bato a sua porta e não obtenho resposta então não resolvo abrir. No meu quarto temporário, deixo o violão ao canto e me sento a cama para descansar. Quando deito minhas costas no colchão ouço barulho de papel e levantando de onde estou observo o papel amassado com letras elaboradas em traços bonitos e simples. Carl diz que entrou em viagem mais cedo. Respiro fundo e lamento não poder me despedir e desejá-lhe boa viagem, me contento com uma mensagem de texto e agradecimento pela estádia. Carl sabia que voltaria hoje para o meu apartamento, a ficar só com minhas mágoas e com meus medos. Só tenho essa roupa, já que tudo que trouxe foi uma simples mochila com roupas contadas para uma semana, não acredito que se passou tão rápido tudo isso, o enterro de Fernanda foi ontem? Perdi a noção de tempo. Chamo um táxi enquanto seguro na minha mochila com materiais, acho que não passarei a noite aqui e pretendo voltar e começar a semana no meu apartamento, fecho a porta com a chave reserva que Carl me deu e antes que inicie uma caminhada para o elevador me dou de cara com Cassandra.
  — O que está fazendo no apartamento do meu noivo? — encarando bem os seus olhos tenho tudo na ponta da língua para a dizer porcarias na cara enjoada dela. Todavia, acho conveniente poupar que se preparasse para algo que Carl poderia descobrir depois, sei que não devo me intrometer na sua vida, mas queria só mais uma oportunidade de ver a enjoada com aquele homem, de ouvir uma conversa, mas dessa vez porque quero, não por flagra; respiro muito bem e arrumo minha postura.
  — Ele não está se é que veio atrás dele — minha voz sai firme e arqueia uma sobrancelha.
  — Vim aqui para quê então se não foi para ver o meu noivo?
  — Não precisa enfatizar que ele é seu noivo, sei muito bem e tenho ouvidos muito bons, antes de tudo o conheço a mais tempo que você, morei com Carl, sou enteada da sua mãe. Sou amiga do seu noivo, não se preocupe que ele não é como certas pessoas por aí, ele não trai! — tento o melhor sorriso e passo pela mesma — ah! A propósito, parabéns — abro um largo sorriso o fechando em seguida — pelo bebê. Espero que ele seja parecido com o pai.

Vote e comente ❤

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora