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   Depois de um banho demorado eu e Fernanda estávamos à procura rápida de um emprego, várias opções e poucas qualidades já haviam passado horas e horas que estamos em frente à luz azul do notebook, a luz da lua nem ajuda mais a clarear o pequeno lugar, a menina ao meu lado já reclama e boceja de sono, mas ainda estou aqui, porque tenho pressa, vivi três longos anos dentro daquele hospital, e não quero demorar um segundo a mais, não quero repousar e nem curtir o meu momento, sei que tenho que comemorar a minha cura, experimentar coisas que não experimentei, tenho quase vinte anos e só fui a uma festa uma vez, na qual eu pensei muito quando estava naquele quarto de hospital, suspiro, passando a mão no meu rosto se passa dá 01 e estou cansada da viagem, desligo o notebook o segurando levando comigo ao quarto, deixo-o encima da escrivaninha e me deito à cama, meu corpo todo relaxa e não demora para dormir.

  No dia seguinte foi uma correria, eu e Fernanda acordamos tarde e preparamos o café, era botar sapato de um lado, colocar a água do café no fogão, OS OVOS ESTÃO QUEIMANDO! Era tudo novo para nós, demoraria um pouco para nos habituar a tudo isso, principalmente à cidade grande.

  Na porta do edifício onde moramos pego uma inspiração funda, Fernanda acabara de sair a alguns minutos, só preciso ver as pessoas andando, a rotina que tomavam, há três anos estaria correndo dessa multidão ou me sentindo totalmente desconfortável. Coloco meus pés na calçada e início os meus passos para todos os endereços que anotei, na outra mão seguro todos os currículos que fiz, sou alguém totalmente inexperiente no mercado, mas aprendo rápido, preciso desse trabalho para comer e pagar um apartamento, sou sortuda pela faculdade e acho que mereço, fiz muito para essa bolsa e o tempo me ajudou, fico irradiada como temos um propósito para tudo, e ter essa doença para que abrisse os olhos, para que eu crescesse! Isso foi um aprendizado, um passo a maturidade e inteligência, foi cada lágrima bem escorrida, um sofrimento bem "aproveitado" valeu a pena vamos se dizer, se esse era o resultado de tantas lutas, choros e recaídas, de coração partido e desilusão, valeu a pena, vista hoje de um prédio mais alto e assistido de uma arquibancada de privilégios, acho que minha vida daria um livro muito bom.

  Entro e saio, saio e entro, lojas e mais lojas, estabelecimentos e shoppings, sinto meus pés doerem, não dou acostumada a andar tanto, acho que cheguei ao centro do centro. Olhei todos aqueles prédios grandes em 360 graus, só falta um endereço, entrando entre ruas acabo vendo a graça que é aquele café, numa cor vermelha com mesas para fora, entro vendo o pouco da clientela que tem, mais o charme que carrega, esse seria com certeza um café que viria para ler um livro. Deixo meu currículo ali, e não pude deixar de experimentar o café.

  No ponto do ônibus um pouco afastado do café espero pacientemente pelo meu horário, faltam alguns minutos para chegar e as redes sociais me ajudam a procurar mais áreas de emprego, no período que estive internada fiz um novo Instagram, onde publiquei sobre meu tratamento e conversava com outras pessoas que também passavam por isso, fiz uma roda de apoio nas redes sociais, e me sinto tão feliz por espalhar a gentileza que Elina me ajudou a enxergar em mim mesma, já estou com saudades dos dois. Acabo por ouvir vozes e ver um aglomerado de pessoas em frente a um prédio que acredito ser uma empresa famosa, tem um nome logo acima, não enxergo daqui, não sei do que se trata, mas foi algo bem embaraçoso, Londres é uma cidade bem movimentada e cheia de trabalhadores. Deixo meus devaneios de lado e entro no ônibus que me levará de volta para casa em uma hora, andei tanto por esses lugares em cinco horas, que em uma apenas chegaria em casa. Descanso minha cabeça ao vidro a ver todas as pessoas lá fora agitadas para pegar táxis, ônibus ou até mesmo o metrô, todos os dias seriam assim, amanhã teria mais distribuição e dedos cruzados para ser chamada a um emprego, enquanto isso vou focar um pouco na minha diversão.

  Olhando-me no espelho com o vestido colado preto, arrumo os cabelos no meu habitual rabo de cavalo e ponho o batom vermelho, seguro na pequena bolsa onde está meu celular e saio do quarto.
   — Vai sair? — vejo a menina de roupas confortáveis a assistir séries e saborear chocolates.
   — Vou conhecer um pouco do lugar, vamos comigo? — balança sua cabeça negativamente, sorrio para ela pegando na minha blusa de frio. — Não volto tarde.
   — Boa noite — sorriu e a saúdo antes de sair, meus pequenos saltos a batucar no chão do apartamento, paro em frente ao elevador. Ando pelas ruas pelo mesmo trajeto que fiz mais cedo, havia um bar que havia visto, que abria às dez horas, não custa nada aproveitar um pouco da bebida, experimentar está na minha lista de coisas novas. Adentro o mesmo e uma breve lembrança do Coffee me vem à mente, a música calma que passa, a cor avermelhada que todo lugar tem, poltronas revestidas de couro e garçonetes a passear servindo, me sento sobre o balcão pedindo uma bebida, observo que há poucos homens, e que parece um lugar novo, ao meu lado alguém se senta, olho de soslaio para perceber seus cabelos curtos e barba bem feita, seguro no drink que acabou de chegar tomando um pouco da bebida que desce a queimar por minha garganta, não é tão ruim.
  — O que faz, uma mulher tão linda, num lugar como esse? — no pequeno palco do canto vejo que a voz calma da mulher soa bem com o local, seduzente e misteriosa. Olho o homem, e na sua face vejo Augusto.
  — Experimentando, seria a resposta certa?

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora