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   Já havia se ido alguns dias desde tudo, desde o suposto espancamento de Fred, desde a tempestade horrível de Londres, desde o homem misterioso. Hoje aprendi que simplesmente não devo ter medo do professor suspeito de design gráfico. É apenas o seu jeito, observador e suspeito, ele era o Snape do Harry Potter no meu mundo. Não tenho mais medo dele, até porque ele não é só assim comigo. Vi que tem filhos, quando fui ao parque com Fernanda no domingo acabei o encontrando, ele não me viu, mas não fiz questão de ir o aborrecer, não tenho tanta intimidade com ele a esse ponto, nem sei seu nome, já que todos os chamam de Senhor Salvador. Daqui dois dias vou ver Lis e Daniel e com uma grande alegria Fred saiu do hospital e hoje também vou o ver, toquei no mesmo bar que vi Carl pela primeira vez e vou tocar lá às vezes, descobri algo que me deu uma grande satisfação e mais motivação pelo meu Blog, mais uma menina está curada da bulimia, me mandou uma carta dizendo o quanto a ajudei nesse processo e não há nada melhor que isso. Também não vi Carl, não depois do dia no hospital, acho melhor assim, não quero que sua namorada maluca de ciúmes venha reclamar comigo ou até mesmo ser a causadora de algo, só quero paz e descobrir quem é aquele homem que seguiu Fernanda e vem me seguindo. Nem que tenha que começar a ir atrás dele quando o vê, não posso denunciar a polícia, o que diria? Eles não podem encontrar alguém que nem eu mesmo vi.

   Saio da faculdade para mais um dia no trabalho, Fred só poderá voltar quando estiver habilitado para ficar em pé ou até mesmo diminuir o inchaço do seu corpo, hoje eu vou dormir com ele, Fernanda até já sabe, vamos ter uma noite de cinema, até porque amanhã é folga de Fernanda e ela vai aproveitar com uma amiga do trabalho também. Minha mochila para passar o fim de semana com Lis e Daniel já está pronta então tenho poucas coisas para me preocupar. Eu realmente espero que o dia seja calmo, que dê para atender todos e servir.

   Assim que entro no lugar quente e cheiroso de especiarias observo logo de frente o casal que temi por mim mesmo, não olham para mim, mantinham uma pequena discussão com eles próprios. Entro para o meu quartinho e pus meu uniforme, cumprimento Eduardo e vou direto ao caixa, mesmo não o olhando percebo seu olhar em mim, por que simplesmente não para de olhar? Mas também sinto uma outra presença muito forte e meus olhos são guiados até o outro lado da rua, para ver o homem de capuz preto, estou tão entretida nos olhos negros que não ouço direito quando um cliente fala comigo.
   — Me perdoe — atrapalhada abro o caixa — a sua conta é — observo a nota — vinte e cinco libras, por favor — guardo o dinheiro e volto ao outro lado da rua, sumiu, ele sumiu.

   Respirei fundo abanando minha cabeça para um lado e para o outro e tento esquecer, eu preciso de mais que dois pares de olhos negros e um capuz.

   Pela noite fico de fechar o café, sozinha numa rua deserta, fria e pouco iluminada, tento manter minha cabeça no que faço para não errar em nada, terei que pagar o prejuízo feito por alguém e mesmo que eu não pague a faculdade, não teria dinheiro suficiente para pagar alguma coisa se quer desse café tão sofisticado. Olho de um lado para o outro quando ouço um barulho, logo pegadas param.
   — Quem está aí? — minha voz se torna um eco pela rua, não chega a repetir, mas mostra o quão sozinha estou, respiro ofegante e minhas mãos já estão em punhos, quando ouço mais pegadas viro pelos calcanhares e acerto a pessoa bem na barriga.
   — Awn! — seu gemido rouco foi presente e meus olhos de arregalam em surpresa e medo.
   — O que faz aqui essa hora e as escondidas? — vejo que se recompõe e seus olhos verdes vêm a mim.
   — Eu só queria falar com você. Não te assustar.
   — Então por que não respondeu quando perguntei? — suas sobrancelhas estão juntas.
   — Perguntou o que? Acabei de chegar — então meu semblante voltou ao normal, não era ele quem estava a me observar, se acabou de chegar, me salvou de outro alguém.
   — Me desculpe é que... nada — tiro meus cabelos do rosto.
   — Está tudo bem? Parece abalada — chega mais perto e pude perceber os passos que recuei, estou assustada e seu semblante mudou ainda mais depois que o olho. Percebo que esse fato novo da minha vida está me abalando, estou a começar a ficar paranoica ou até mesmo temer alguém que não me faria mal. Ou mudou o bastante para fazer?
   — Sinto que alguém está me seguindo — olho em seus olhos por fim — me observando dia e noite — vi a sua postura reta — mas não sei quem é. Não sei o que quer — viro em meus calcanhares segurando em minha bolsa no chão, logo seus passos ao meu lado são ouvidos. — Mas vou saber — agarro meu corpo. Carl não responde, as últimas palavras foram sussurradas apenas para mim. — O que queria falar?
   — Queria te convidar para um teatro comigo no fim de semana — observo seus olhos e não pude evitar uma risada baixa.
   — Não quero problemas com sua namorada — paro em frente ao apartamento em que moro. O mesmo não me olha, encara suas botas enquanto vejo que seus lábios tem um sorriso malicioso e pequeno, seus olhos me fita e vejo que está sério.
   — Não é minha namorada — diz por vez.
   — Mas tem ciúmes como uma — sorri. — Obrigada pelo convite Senhor Gutemberg, mas acontece que no final de semana vou ver sua mãe — seguro a maçaneta da porta de vidro pesada. — Deveria fazer isso mais vezes também. Boa noite! — passo para o interior do prédio sentindo o choque térmico pelo calor que aqui está. Não me atrevo a olhar para trás, apenas ouço os pequenos saltos da minha bota bater no chão e sorrindo, subo as escadas.

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora