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   Pela manhã corremos por todo o lado, estamos atrasadas e o ônibus já passa, pego uma maçã enfio para dentro da bolsa e coloco meus sapatos rapidamente. Corremos pelos corredores como fazíamos no colégio, quando chegamos ao elevador nunca pedimos para que descesse tão depressa. Para nossa insatisfação tínhamos que andar devagar, a neve hoje está escorregadia, e os meus pobres sapatos não favorecem a nada. Tiro meu cachecol conforme nos aproximamos do ponto do ônibus. O primeiro já saiu e esperaremos mais um bocado para o outro chegar. Checo meu relógio de punho e me sinto aliviada em saber que ainda temos tempo, pouco, mas temos.

   Assim que chegamos na sala só faltava nós e mais alguns, a sorte era que o professor não havia chegado, e para minha alegria era o professor misterioso que passava a metade da aula me olhando e eu o olhando. Me lembro dos seus olhos, lembro o medo que senti quando olhei para eles a primeira vez, melhor ainda, quando o vi pela primeira vez, o pior é não saber onde o vi.

   Antes de sair da sua sala ouço meu nome ser chamado, por um minuto quero que não seja real, que seja mentira e que continue a andar, mas assim que me viro percebo seu olhar, suspirando pesado apenas para mim, caminho em passos largos para seu encontro.
   — Me lembro de você — não sabia se isso era realmente bom, pelo simples fato de já me acostumar com o fato de que apenas eu tinha essa paranoia, mas já que me conhece, era bom saber de onde havia o visto, e se a minha dúvida durou uma semana, era melhor que acabasse agora. — Nos esbarramos a algum dia — deu uma pequena risada — engraçado que eu vejo tantos rostos por aqui e pela rua que me surpreendeu lembrar-se de você.
   — Ainda mais engraçado que sabia que já havia lhe visto — sorri para ele — mas não lembrava aonde — ainda desconfortável, me lembro do modo que me olhou naquele dia, e não é diferente de agora. — É bom saber disso, tenho que ir. Tenha um bom dia — sai da sala quase a correr, a aula seria de algum professor que ainda não conheci e não quero ser advertida agora. Sento-me em frente a um computador, me lembro de bem de quem se trata, é o professor que Fernanda tanto fala, solto uma pequena risada lembrando-se das suas reclamações.

   Em casa, penso em como tem sido nesses últimos dias, a mesma rotina a mesma coisa. Hoje é sexta e amanhã já terá um jantar tão esperado por mim com Carl, o homem desconhecido que encontrei num teatro. Estou louca para conhecer esse novo homem, porque eu nunca o conheci. É talvez durante esses três anos nunca o esqueci, esteve na maioria das minhas composições e admito que escrevo muito sobre ele, tentando dizer a mim mesmo que é alguém inventado da minha mente. Arrumo meus cabelos soltos hoje, ponho mais uma das blusas brancas e me agasalho bem, segurando a minha xícara quente de chá enquanto olho para fora vendo o dia cinzento, falta alguns minutos para sair e já preparo a minha mochila, a ponho nas costas saindo do quarto e logo do apartamento, caminho a passos lentos pelo corredor a escutar uma música calma no meu ipod, pego o elevador para o último andar me encontrando com o novo porteiro, o cumprimento com um 'boa tarde' e saio sentindo o frio, hoje está sol, mas justamente por isso o dia está mais frio, me aconchego no meu cachecol enquanto os passos são longos pelas ruas, as pessoas andam devagar o que faz eu às atravessar rapidamente para que pegue o próximo ônibus.

   No trabalho o dia havia sido mais corrido, mas também havia aprendido mais e não cometido tantos erros, Fred me ajudou muito, era um rapaz ótimo, dá para perceber o seu carisma, uma vez o outra vem me fazer piadas, a cada vez que leva um café para um cliente. Através da vidraça escura posso ver que do prédio preto na frente saí uma pessoa muito conhecida por mim, não acredito que ele trabalhe ali, não acredito que tudo isso está acontecendo, por que tudo que faço agora tem que ter ele no meio? Já estou ficando irritada pelo simples fato do meu objetivo ser nunca mais olhar a sua cara, e agora é o que mais faço durante essa semana. Sei que amanhã irei ver sua cara de novo, sei que quis isso, mas já estou me arrependendo. Se arrependimento matasse! Vejo que se dirige para cá, é quando reviro os olhos para mim mesma, assim que entra seu olhar vem para mim e vejo que sorri, mas nenhuma emoção transparece do seu rosto, tira os óculos escuros que usa e abre um sorriso ainda maior. Como quero enfiar um bolo na sua cara.
   — Angel — me analisa.
   — Carl — tento sorrir, mas sei que me saí patética pelo simples fato de está com raiva. De mim mesma talvez ou dele. — O que vai querer? — vejo que analisa as coisas.
   — Apenas confirmar o meu horário contigo — seus olhos encontram os meus — e um café.
   — O seu horário está confirmado e o seu café já vai sair — minha voz sai dura, fria e fico surpresa por conseguir manter o mesmo tom que mantém comigo. Saí de seu alcance nunca parando de sentir que seus olhos percorrem em mim pela queimação e desconforto que sinto, mas não faço um esforço para o olhar, por mais que a vontade seja grande. Aproveito para observar que hoje não será como ontem, agradeço por não ter uma tempestade de neve. Enquanto faço o seu café, Fred para ao meu lado e me olha com olhos arregalados.
   — O que se passa? — ele olha para trás de mim e me encara incrédulo.
   — Você conversou com aquele homem? Ele não para de olhar, menina vai, vai com tudo que é difícil viu. — Do risada.
   — O que você está falando?
   — Do Vitsky. Ninguém consegue uma conversa de cinco minutos com ele, e o jeito que te olha. Meu Deus daria tudo pra está no seu lugar.
   — Acredite se quiser, mas eu o conheço muito antes dele ser quem você vê hoje e já troquei papos muito mais longos que cinco minutos — se você soubesse! — já que quer está no meu lugar, leve para ele, por favor, que eu vou atender outro cliente — lhe entrego a xícara vendo sua cara de abobado.

Destinados - Um Novo Recomeço- Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora