21. (Bônus)

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Acho que vocês devem ter curiosidades ao meu respeito, não sou de muitas palavras, na verdade nunca fui muito de falar, mas sou um ótimo ouvinte.
Hoje a autora decidiu que eu deveria contar minha história e mostrar o meu lado, prazer sou Mário.

Sempre vi meu irmão como um exemplo de pessoa, ele fez tudo por mim, mesmo sendo apenas um garoto ele mudou completamente a minha vida. Não me lembro muito bem como cheguei ao orfanato, mas chorei bastante no primeiro dia, um menino de seis anos que não tinha mais ninguém e ele foi o único que amparou, me emprestou um carrinho de madeira que tinha feito com as próprias mãos e me disse que eu seria seu irmão mais novo a partir daquele momento, que nós dois sairíamos dali.
Parecia uma criança que acreditava em papai Noel, duendes e fadas e como qualquer outra acreditava que sairia de lá, mas quando ele fugiu passei a entender que Eduardo era bem mais que um sonhador. Ele me garantiu que voltaria pra me buscar e me fez prometer que seria forte com sua partida, acreditei e aguentei firme, passaram dias e eu não o vi, a saudade de meu irmão e protetor começou a apertar.
Ele finalmente apareceu, estava um pouco magro e maltrapilho, mas totalmente feliz e esperançoso, me encontrou no velho esconderijo que construímos com caixas velhas e trouxe consigo uma sacola com variedades de doces.
Me contou sobre a família que o acolheu em sua casa, passou a trabalhar e poderia me comprar doces e brinquedos com os trocados que recebia do homem, uma criança tão nova e com responsabilidades tão pesadas em seus ombros, mesmo assim vivia sorrindo e me contava histórias bonitas que ouvia de Maíra, a mulher que o tratava como seu filho.
Anos passaram, passei a ir a escola e todos os dias, não importava se era verão ou o inverno, Eduardo vinha me ver, me ensinava o que estava aprendendo com uma professora, me ajudava com os deveres escolares, contava histórias que lia em livros e por um momento a esperança nasceu novamente.
Mira era uma mulher muito bondosa, gostei dela desde o nosso primeiro encontro, Eduardo que voltara ao orfanato abriu mão de ser adotado primeiro para cumprir a promessa que me fizera anos atrás, Eduardo sempre foi o meu herói favorito, o Peter Pan que mudou a minha vida.
Fomos adotados pela professora e nossa vida começou a mudar, estudamos, nos formamos, frequentamos as melhores Universidades e Eduardo montou seu próprio negócio movido por sua paixão pelos livros.
Em um ano nossa vida de dificuldades, boletos vencidos e noites sem dormir mudou para compra do nosso primeiro carro, mudança de nossa casa para uma bem melhor e uma editora vendendo muitos exemplares, graças a Deus e ao meu irmão, nós estávamos prosperando rapidamente.
Não foi fácil e muitas portas de fecharam para nós, mas aprendi com Eduardo que se sua vontade de conquistar é maior que a de desistir, não se desiste por nenhuma razão, tente de todas as formas possíveis, corra atrás e conquiste.
Graças a este ensinamento Eduardo e eu estudamos nas melhores faculdades do País, mesmo não tendo dinheiro para paga-las, nós esforçamos para conseguir bolsas, sofremos muito na caminhada, mas vencemos.
Neste período Eduardo conheceu Clary e Gustavo, eram inseparáveis e eu pensei que gostaria de ter um amor como o de Eduardo e Clary, eles se davam bem, pareciam feitos um para o outro ou era assim que Eduardo nos mostrava o seu relacionamento, ninguém sabe como passou despercebido os problemas deles.
Quando Clary e Gustavo traíram meu irmão foi um choque pra todos, precisei ser forte e dar apoio ao mesmo, ele sempre se mostrou bem em frente a todos, mas quando estava ao meu lado mostrava a sua fragilidade, como irmão lhe ajudei, dei apoio e força para superar, sempre fomos parceiros um compreendendo a apoiando o outro.
Achei que estávamos recuperados, mas parece que nossa vida está virando de ponta a cabeça com essa doença incurável de Eduardo. Saber que a pessoa que você mais admira esta morrendo é a pior dor já sentida.
Eduardo mais uma vez precisou de minha ajuda e eu lhe estendi a mão, não sei dizer como me sinto sobre tudo isso, tenho que ser forte e compreensivo na maioria da vezes, lembrar que meu irmão logo vai morrer, nos sabemos que está perto e simplesmente sorrir e acreditar que vamos ficar bem com isso.
A verdade é que não consigo acreditar que a pessoa mais generosa e boa que eu conheço, morrerá antes de todos e sinceramente acho que não reagiria da mesma forma ao saber da minha morte, confesso, não conseguiria levar como se tudo estivesse bem.
Mesmo assim permaneço ao lado do melhor amigo que pude ter, jamais abandonaria quem me entendeu a mão, mesmo não tendo aprovado suas loucuras, um casamento arranjado com uma moça que acabou de conhecer e criar um filho que não é seu, mas Eduardo jamais esquece suas ideias quando as coloca na cabeça.
Mas de certa forma, foi com essa bagunça que conheci a mulher mais linda do mundo, a mulher que fez meu coração de gelo (como diria meu irmão) aquecer novamente.
Ainda lembro da sensação que senti quando a vi pela primeira vez, foi no aeroporto, eu estava com uma plaquinha com o seu nome, seguido de "Madrinha da Noiva!", uma ruiva do sorriso mais lindo do mundo se aproximou de mim, perguntou meu nome e me apresentei como seu par para o casamento.
Lembro de ficar gago e totalmente atrapalhado com as palavras, ela sabe leves risadas e me ajudava com as palavras, lembro que naquela noite não conseguia para de sorrir, como uma criança quando ganha o presente que tanto esperava.
Acho que deixa-la ir foi quase terrível, se ele não tivesse me prometido que sairíamos quando voltasse, essa promessa me fez entender que tinha a permissão para lutar por ela. Desde então estamos nos relacionando, ou poderia dizer, Namorando.
Decidi finalmente lhe fazer o pedido e firmar o relacionamento com minha ruiva linda, confesso que nunca gostei de alguém assim e isso me trás um certo medo de me expressar, eu nunca disse a ela com todas as letras como a vejo, o que sinto e que a amo, estamos levando tudo na calma. Mas algo me diz que essa é a hora, ela é a pessoa que mais amo e só me caiu a ficha quando a possibilidade de ficar sem ela.
Acordei e como de costume fui tomar café, tinha uma lista enorme de compras que eu precisava fazer para que Eduardo pudesse levar para o orfanato, ela já estava a mesa e conversava ao telefone, Antony devia estar a atarefando novamente.
A tarefa era simples, porém dolorosa, um mês na França, ela parecia feliz e me contentei em escutar suas explicações com um grande sorriso, estava feliz por ela, era apaixonada pelo o que fazia e isso é lindo numa mulher, jamais a faria deixar sua independência. Mas acredite, meu coração estava em pedaços, passar um mês sem ela iria durar uma eternidade.
Lhe assegurei de que deveria ir e lhe dei apoio, quando se ama os interesses vem antes dos seus, os sonhos e a felicidade. Não importa como estarei sem sua presença, se ela estiver feliz, garanto que ficarei bem.
As dúvidas martelaram em minha cabeça, não por medo dela seguir seus caminhos ou por insegurança de perde-la, confio na mulher incrível que amo, mas gostaria que ela soubesse, o quanto eu me importo com ela, que estou ao seu lado.
Acordei mais cedo do que imaginei, mal conseguia dormir, talvez pela angústia de ver minha namorada partir, Mira me distraiu um pouco, minha mãe sempre surpreende na forma como consegue entender as pessoas, não demorou para minha cunhada aparecer, foi desta forma que descobri que minha namorada passaria o dia fora. Momento certo para agir.
Terminei o café e resolvi ir até Eduardo, ele sempre foi o mais romântico e sensível que eu, saberia me dar bons conselhos, mas estava bem ocupado com Helena, acabei interrompendo o momento dos dois pombinhos. A moça saiu totalmente envergonhada, me segurei para não rir com a falta de jeito dos dois, ela deixou o quarto como um foguete.

QUANDO VOCÊ CHEGOU (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora