QUANDO VOCÊ CHEGOU (Em Andamento)

08. Começando Novamente

Despertei ainda zonza, analisando a suite do hotel, a dor havia passado mas ainda sentia a mão de Eduardo massageando minha barriga com delicadeza, enquanto lia a um livro grosso ao qual estava totalmente focado. Ainda sentado na poltrona, seus pés estavam apoiados sobre a cama, o observei até minha visão se normalizar.
Me mexi na cama e o mesmo tirou os olhos do livro, uma bíblia e me olhou com um leve sorriso levando sua mão para perto do seu corpo.

-Como você esta?-perguntou de imediato.

-Eu estou bem, obrigada por cuidar de mim!-agradeci me sentando na cama, recebendo um sorriso em troca, soltei um leve suspiro-Então você é um homem que acredita num poder maior?

-Não só acredito, como vivo pra ele!-ele mostrou um leve sorriso, sentando de forma ereta na poltrona-Não acredita que possa existir um Deus que tenha controle de tudo?

-Se existe, deve nos odiar!-dei de ombros e ele arqueou uma das sobrancelhas-Veja só o que aconteceu com você ou comigo!

-Estar casada comigo é tão ruim assim?!-quis saber e eu acabei rindo, então voltei a dar de ombro-Eu não vejo o que nos aconteceu como algo ruim.

-O que? Por que?-fiquei curiosa, lhe mostrando em minha reação-Você não sente vontade de perguntar o porque de seus dias estarem contados?

-Não, pelo contrário! Sou grato por cada dia que vivi!-ele mostrou um leve sorriso, que me deixou incrédula-Deus me deu a oportunidade de viver, realizar meus sonhos e construir uma vida de família e amigos, me deu mais do que eu merecia e pude fazer tudo o que sempre imaginei! Minha empresa cresceu por meus méritos e pude mudar a vida de todos o que me rodeiam, porque não seria grato?

Desviei o olhar, ele era uma boa pessoa e cada vez que falava ou agia mostrava mais de seu caráter. Uma pessoa bonita por dentro e por fora, ao contrário de mim.

-Perdi meus pais aos seis anos de idade, não tive outra escolha a não ser ir para um orfanato, mas não era ali que eu queria ficar, passei dois anos me dedicando a sair daquele lugar e foi quando conheci um garotinho que perdeu a mãe, Mario era muito pequeno, tinha cinco anos e eu virei seu irmão mais velho!-Eduardo começou a narrar sua historia, me olhava fixamente-Mas eu não podia ficar ali, prometi a Mario que  voltaria e fugi, dormi alguns dias na rua, arranjava trabalhos simples como engraxar sapatos e todos os dias visitava meu irmão escondido, foi quando conheci Olavo, um italiano honesto e humilde que me ensinou a importância de amar o dono de tudo e não as coisas que nos temos! Foi com um casal, vivendo numa casa de apenas dois cômodos que aprendi que o amor suporta tudo, qualquer situação.

Ele se ajeitou na poltrona fazendo uma pausa, tinha a voz um pouco embargada, mas ainda sorria.

-Eles me acolheram, Maíra sua esposa engravidou depois de anos sem conseguir ter filhos, mas foi como uma mãe pra mim! Eles viviam de uma floricultura e uma quitanda, eu passei a ajuda-los para ganhar comida e moradia, fiquei com eles durante três anos, mas ia visitar Mario todos os dias e com um pequeno salário que ganhava de Olavo eu podia levar doces para Mario. Ficou difícil quando Sarah, a filha deles nasceu, precisei trabalhar dobrado, fazia isso com muita vontade, mesmo ouvindo repreensões de Olavo para voltar a escola, estava atrasado por não a frequentar, eu sempre ia á uma Biblioteca do bairro para pegar livros quando tinha tempo, eram a minha diversão!-Eduardo deu um leve sorriso, parecia reviver tudo aquilo-Foi ai que Mira entrou na minha vida, era professora e amiga da igreja, virou minha professora particular e era extremamente gentil comigo, não tinha filhos, havia perdido o marido a pouco tempo, era soldado. Ela decidiu que me adotaria, mas para isso eu deveria voltar para o orfanato, eu concordei com a condição de que Mário fosse adotado também! Foi difícil deixar Olavo, Maíra e Sarah, minha irmãzinha ao qual eu sempre cuidei, mas voltei. Ela conseguiu adotar Mario meses depois, ele estava mais que feliz e Mira já o amou na primeira vez que o viu! Passei um ano no orfanato, então finalmente o processo de adoção foi aceito.
Graças a Mira agora éramos uma família, a casa não era muito grande, mas nos dávamos bem, batalhei para me atualizar na escola e continuei trabalhando com Olavo. Consegui terminar os estudos e ganhei uma bolsa numa das melhores faculdades de Administração, trabalhava em dois empregos para ajudar Mira em casa, para que ela não precisasse trabalhar e logo entrei numa empresa como estagiário, uma revista famosa, lá fui crescendo e ganhando muitos amigos.
Então decidi investir na minha carreira administrativa e na minha paixão por livros, usei todo o dinheiro que juntei durante anos para montar uma pequena editora, durante dois anos batalhei muito, graças aos contatos que fiz na revista consegui grandes amigos escritores e com parcerias comecei a publicar grandes obras, quando dei por mim já havia conquistado meu primeiro milhão com a venda dos livros, foi algo surreal que somente Deus poderia fazer! Minha editora não parava de crescer, isso foi acontecendo rapidamente e eu nunca deixei de olhar para as pessoas que me ajudaram, nem deixar Deus de lado, ele sempre esteve comigo nos bons e maus momentos da minha vida, até hoje posso retribuir as pessoas que estiveram ao meu lado! Minha vida até aqui tem sido  maravilhosa, mesmo estando quase no fim, só tenho motivos para agradecer a Deus e agora terei um filho e poderei fazer algo por você, o que é ainda melhor.