Capítulo 8.2

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       Estar no céu nos fazem pensar, de verdade, que nada é impossível. Quem diria que o ser humano um dia chegaria aos céus? Nem que seja através de uma máquina. Nós superamos obstáculos, seja qual eles forem, nós lutamos, caímos e nos levantamos. Ninguém pode nos dizer que não somos capazes, nem nós mesmos. Só temos que levantar e tentar de novo.
       Eu estava sozinha, de novo, fazendo algo que eu nunca fiz, ou que eu nunca faria se estivesse em sã consciência.
       Não tinha nada planejado. Quanto tempo eu iria ficar? Com quem eu iria conversar? Eu seria aquela que fica no bar largada chorando, sem controle da própria vida, ou eu seria a que fica na beira da piscina com um autocontrole enorme?
       Eu tinha escolha? Se eu tinha, eu demoraria o tempo que eu quisesse para decidir, estou disposta até a me escolher. Qual é o mal nisso?
      O voo é relaxante, quando não tem turbulência, é claro. Mas é tranquilo, o silencio, a calma que as nuvens nos passam, é reconfortante. A gente relaxa tanto que dorme, dormimos tão tranquilamente, que é como se estivéssemos em um quarto calmo, isolado do mundo, com uma enorme cama macia e com seus travesseiros de pena de ganso. Reconfortante. A gente fica leve, calmo, sem pressa, sem ansiedade, nós só somos seres humanos que existem num planeta qualquer. Num universo qualquer. Acho que aviões me deixam filosófica.
       - Moça? – Disse uma voz doce longe de mim. – Moça, iremos pousar. – Agora algo me mexia inquietamente.
Meu corpo estava retomando os sentidos. Meus olhos abriam lentamente se ajustando a claridade que entrava preguiçosamente se espalhando pelo avião.
       - Oi?
       - Estamos pousando. – Disse a aeromoça.
       - Ah, obrigada.
       Ela se retirou para acordar os demais passageiros que estavam dormindo

                            ✩✩✩

       Quando saí do aeroporto havia taxis estacionados em todo lado. Fui em direção a um deles.
       - Bom dia.
       - Bom dia senhorita. – Respondeu o motorista.
       - Já está esperando por alguém?
       - Não. Qual o destino?
       -  Ocean Resort. Por favor.
       - Férias né? Lá vamos nós.
       O resort era encantador – Como não seria né? – Pequenos cantis de flores encontravam-se espalhados pelo imenso terreno, junto com duas pequenas fontes de gesso e árvores floridas.
       - Megan Scott. – Eu disse para o homem que se encontrava atrás do balcão. Ele ergueu os olhos e me fitou por um tempo me estudando. – Por favor, diga que minha reserva foi feita.
       - Ah sim – Disse ele aliviado com um sorriso no rosto. – Me desculpe o inconveniente. Você então é a senhorita Scott que deixou para fazer a reserva em cima da hora?
       - Isso mesmo. – Concordei dando risada. Ele devia ser o gerente que conversou comigo.
       - Sua reserva está feita sim. – Ele falou me entregando o cartão para destravar a porta do quarto. – Último andar. Quarto 305. Aproveite o dia. – Terminando isso, o gerente me deu um sorriso caloroso e voltou a mexer com os papéis que estavam depositados sobre o balcão.
       - Hã, obrigada... – Ele voltou os olhos para mim. – Senhor?...
       - Enzo. – Completou.
       - Obrigada... Enzo.
       Entrei no elevador e subi para as suítes. O que eu estava fazendo aqui mesmo? Tentando relaxar. Então agora era a hora de relaxar e esquecer tudo. Meus problemas eram como uma pequena bola de neve, só que conforme as tempestades de neve, foram aumentando, tornando-se uma avalanche, destruindo tudo ao seu redor.
       Eu era uma avalanche.
       O quarto era espaçoso, até demais, para uma pessoa que iria ficar sozinha. A cama de casal centralizada no meio da parede. O criado mudo com uma pequena luminária. O sofá de dois lugares. A sacada que dava vista para o tão enorme resort e suas belezas. Era realmente uma suíte de luxo, nada sofisticado, tudo simples, porém com uma beleza estonteante.
       Coloquei meu biquíni, coloquei a saída de praia (um típico vestido de crochê); e desci para a área das piscinas.
       As pessoas realmente iam para esses lugares em finais de ano, o resort estava lotado, várias pessoas nas piscinas, salão de jogos, e até no salão em que eram servidas as refeições. E nem estava em horário de ser servido nada.
       Escolhi uma cadeira na beira da piscina, que se encontrava mais distante do que as demais. Fiquei por um tempo analisando as famílias. Os pais rindo e brincando com os filhos como se tudo fosse um conto de fadas. Como se fosse tudo perfeito, como se não existissem problemas, complicações e desentendimentos.
       Resolvi abrir uma das revistas que estavam amontoadas numa mesinha, comecei a folheá-las, mas nem prestava atenção no conteúdo. Meu cérebro estava divagando por aí. Até que uma voz me tira do meu mundo.
       - Senhorita?
       Olhei para cima e vi um garçom segurando uma bandeja com um drinque colorido. Afastei os óculos e olhei para ele.
        - Eu não pedi bebida nenhuma, senhor. Acho que foi um engano.
       - Desculpe senhorita, mas eu não costumo cometer enganos. O cavalheiro mandou eu te entregar. – Disse ele apontando para o homem que estava sentado no balcão, que ao me olhar, me cumprimentou com um leve aceno.
       - Ok – Eu disse pegando a bebida e colocando-a de lado. – Agradeça-o por mim.
       - Acho que não será necessário. – Terminando isso, o garçom se retirou.
       - Tem alguém sentado aqui?
       Olhei fixamente para o homem e respondi:
       - Agora tem. – Soltei um sorriso de canto, que ele retribuiu de bom gosto sentando do meu lado, com uma bebida parecida com a minha, só que no tom azul. Combinando com seus olhos.

Única Estrela no CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora