Capítulo 10: Festas de Fim de Ano:

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A coberta enrolada em meu corpo, o pijama de flanela, as meias de lã, as pantufas e o som da televisão ligada em um filme qualquer, lembram-me o que eu realmente gosto no fim de ano. A tranquilidade, o frio, a neve lá fora e eu aqui dentro, meus livros, e as pessoas que eu amo.
O natal estava chegando, literalmente, não faltavam mais poucos meses, nem poucas semanas como quando eu comprei os presentes, quando tudo ainda era diferente. A véspera de natal era amanhã e em poucos dias seria o ano novo, tudo passa tão rápido que nem percebemos que alguns acontecimentos ficaram para trás há meses.
- Ei no que está pensando? - Cochicha Bryan em meu ouvido.
- Nada demais. - Respondo no mesmo tom.
- Os dois aí, ou prestem atenção no filme ou subam para o quarto, mas me deixem assistir o filme. - Repreende minha mãe, fingindo uma leve irritação.
- Pensando bem, não é uma má ideia. - Retrucou Bryan dando risada.
- Não, por mais que eu não esteja entendendo esse filme, a gente vai ficar aqui. Eu estou quente, aconchegada e nada e nem ninguém irá me tirar daqui.
- Nem se eu disser que teu quarto está cheio de livros novos e comidas?
- Isso já é outra história.
Os dois começaram a rir e foi o suficiente para eu jogar duas almofadas, uma em cada um, fazendo-os parar no mesmo instante.
Quando o silencio se restaurava quase completamente na sala, os pensamentos invadiam minha mente novamente. Afinal, eu havia comprado um presente muito bom para Lorenzo e um bem mais simples para Bryan. E eu não falo com Lorenzo desde o dia em que ele apareceu por aqui. Ele precisa de espaço e eu dou o suficiente, mas ele não pode se esconder de mim pelo resto da vida, não é mesmo? E eu não quero um exemplar do Morro dos Ventos Uivantes, ainda mais que eu não comprei para mim. Foi comprado especificamente para ele, se eu lhe entregar ele não faria desfeita, afinal, é um presente, e dos bons.
Nós tomamos decisões importantes a todo instante em nossa vida, e algumas delas definem quem nós somos e quem fica em nossa vida. Pessoas entram e saem da nossa vida todo momento, cabe a nós deixar isso nos afetar, ou não. Amar alguém não significa ter que torna-la nosso mundo ou nossa base de sobrevivência, sejamos nós mesmos, o nosso mundo, a nossa prioridade. Amar alguém é colocar as necessidades do outro na maioria das vezes acima da nossa, e não colocarmo-los em cima de um altar e torna-lo um Deus que você venera. Amar é ser de igual para igual, no amor, no carinho, no desejo, na reciprocidade e na empatia.
Encolhidos em minha cama, Bryan e eu estávamos deitados escutando os barulhos dos grilos lá fora e do vento, que começava a chacoalhar as folhas das árvores. O ar frio entrava pelas pequenas frestas das janelas, que mesmo fechadas, não eram o suficiente para impedir a entrada do vento gélido.
- Promete que não vai me deixar. - Ele sussurrou em meu ouvido enquanto acariciava meu braço em movimentos lentos e delicados.
Virei-me para olhar em seus olhos, que estavam repletos de insegurança.
- Por que estamos falando disso agora?
- Só me promete. Não me deixe sozinho, não vou aguentar ficar sem você.
- Vai sim. Eu não sou a sua vida meu amor, não posso ser.
- Eu sei que você acha que não devemos tornar alguém nossa vida, concordo com você. Eu tenho a minha vida. Mas eu sou quem eu sou, graças a você, eu sei o que é amor, felicidade, desejo, respeito com você e eu não quero ter que saber o que é isso, se não for com você.
- Eu não vou te deixar. Ok? Não sou capaz de fazer isso. Ficamos um tempo afastado um do outro e eu vi que não foi tão bom, como ter você ao meu lado. Eu amo você.
- Eu também amo você.
Virei-me novamente em direção à parede e abracei a almofada que estava ao meu lado.
- Se bem que - eu continuei - é mais fácil você me deixar, eu vou me tornar uma velhinha insuportável, você não irá me aguentar por muito tempo. - E dei risada.
- É. É bem provável que você se torne uma velhinha mais chata do que você já é. Mas eu aguento.
Eu peguei a almofada e o acertei me desvencilhando rapidamente de seus braços, pronta para começar uma guerra.
- Por que você fez isso? - Exclamou Bryan segurando o travesseiro para me atacar a qualquer instante.
- Não era para você concordar, seu idiota.
- Idiota não, mais respeito, por favor. Retardado está bom.
Não aguentei e caí na gargalhada. São esses pequenos momentos em que nós vemos como tudo vale a pena, as escolhas, os desentendimentos, o amor, nesses momentos quando nosso olho fica tão pequeno, pois estamos rindo com aquele sorriso do gato da Alice no país das maravilhas, um sorriso que aperta os olhos e vai de orelha a orelha. Tanta gargalhada que chega a doer à barriga. São momentos assim que vemos quão é o tamanho da nossa sorte.
A porta se abre e nós dois sentamos rapidamente em minha cama, tentando controlar a cara para não rir de novo, quando minha mãe põe a cabeça um pouco a frente para podermos vê-la.
- Vocês não tinham que ir dormir? O que é que vocês estão fazendo crianças? - Completou-a quando visualizou as almofadas e travesseiros espalhados pelo quarto
Bryan e eu nos entreolhamos e caímos na gargalhada enquanto minha mãe se retirava fechando a porta dando risada.




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