Capítulo 10.2

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      Eu saio o mais rápido de dentro da fraternidade, causando um choque térmico em mim. Lá estava tão quente e agora está tão frio. Quando fecho a porta atrás de mim, escuto a voz da intensa morena – intensa. Essa palavra a define perfeitamente, e olha que eu só a conheci agora –.
      Bryan e eu combinamos que iríamos passar a virada de ano juntos, sem ninguém. Sem festa, sem multidão, sem brigas, sem bebidas, sem som alto. Só nós, uma cama, e varias porcarias que vamos comer para não ter que cozinhar, o que é bem mais prático, afinal não iremos sujar nada mais além de dois copos, e dois pratos.
      Não nos víamos desde a véspera de natal, ou seja, não havíamos trocado presentes e ele ainda não sabia que eu tinha ido ver Lorenzo. Eu precisava contar para ele. Não é? Isso seria o certo a se fazer. Pois ele é meu namorado, e a gente conta as coisas ao namorado. Certo? Não saber ao certo qual seria a sua reação é definitivamente um problema para mim, pois a ansiedade começa a atacar cada vez mais forte, quanto mais o tempo passa, mais próximo está a sua chegada, mais perto estará a sua reação. E eu não sei como ele irá reagir quando souber que eu fui atrás do Lorenzo.
      A ansiedade nos corrói por dentro, deixa um buraco que não dá para tampar. O receio do passado, a insegurança do presente e o medo do futuro, nos tira de prumo, faz um corte dentro de nós que não dá para cobrir com um band-aid. A ansiedade nos destrói um pouco a cada dia que se passa, e é raro encontrar pessoas que estão dispostas a nos aceitar assim.
      Quando percebo que minha perna se mexe rapidamente, que minhas mãos estão suadas e que meus batimentos estão começando a se acelerar, uma batida na porta faz tudo se esvair lentamente do meu corpo. Ao abrir a porta me deparo com Bryan amarrotado de roupa deixando apenas seu rosto exposto ao frio, deixando levemente vermelho suas bochechas e a ponta de seu nariz segurando um grande buque de rosas em suas mãos. 
      - Não vai me deixar entrar, não? – Falou isso esboçando um sorriso ao me ver encarando o buque de flores.
      - Ah, sim. Entra. – Falei abrindo passagem. – Por que o buque?
      - Ah é para você, mas vai ter que esperar para pegar.  Onde posso colocar enquanto isso?
      - Espera um minuto. – Eu disse indo atrás do vaso de vidro em que colocamos flores. – Pronto. – falei com um sorriso de orelha a orelha.
      - Gostou?
      - Muito, mas ainda não entendi o porquê delas.
      - Vai entender depois. Não se preocupe antecipadamente. Ok?
      - Ok.
      Ele me puxou e senti suas mãos passeando pelo meu corpo, enquanto seus lábios estavam colados aos meus. Eu o aperto cada vez mais contra meu peito, como se quisesse que ele colasse a mim e não desgrudasse nunca mais. Suas mãos pousaram em minha cintura e ele me ergueu do chão, tempo o suficiente para eu o envolver com minhas pernas. Minha mão desceu pelas suas costas na intenção de arranhá-lo, mas a blusa dele impedia isso. Suas mãos puxaram meu cabelo delicadamente fazendo-me inclinar levemente a cabeça para o lado. Aproveitando a parte exposta, Bryan deixou trilhas de pequenos beijos pelo meu rosto até chegar ao meu pescoço. Ele me coloca no sofá e continua com os beijos, seu corpo pesado me deixa encurralada, - não que eu tenha alguma vontade de sair dos seus braços -. Bryan me imobiliza e suas mãos erguem uma parte da minha blusa, seu toque me deixa arrepiada, e ele percebe isso, pois ele dá uma risada contra minha pele, fazendo meu corpo vibrar. Ao invés de continuar o que estava fazendo, Bryan começa a me fazer cócegas.
      - Eu não acredito que você está fazendo isso. – Digo entre risos.
      Ele continua rindo quando consigo acerta-lo com uma almofada.
      - Você sabe mesmo como quebrar um clima. – Falo cruzando os braços contra o peito.
      - Relaxa my little girl. Temos a noite inteira para isso. – sussurrou no meu ouvido ao me envolver em um abraço.
      Passamos a noite toda deitados assistindo séries e filmes, comendo porcarias que havíamos pedido. Faltava uma hora para a virada do ano. O clima estava bom, e enquanto isso eu voltei ao meu conflito interno, não queria estragar o momento, mas me decidia entre contar e não contar sobre o Lorenzo.
      - Amor.
      Por um momento eu pensei que tinha falado isso por impulso, mas não veio de mim. E sim dele.
      - Uhum?
      - Posso te fazer uma pergunta? – Pergunta Bryan se ajeitando inquietamente no sofá, como se estivesse... Incomodado?
      - Já está fazendo. – Falei para amenizar o clima, mas ele só ficou mais tenso. – O que foi? – Perguntei séria.
      - Por que você... – Começou ele, mas parou logo em seguida.
      - Desembucha, até parece que alguém morreu.
      - Você nunca pensou em denunciar o Lorenzo pelo o que te fez?
      O silencio rompe o ar e o clima fica tenso a cada segundo que se passa. Eu nunca tive que me explicar para alguém porque que eu optei por não denunciá-lo. A pergunta nunca surgiu, ou ninguém nunca teve coragem de me perguntar.
      - Pelo visto esse vai ser o nosso assunto da virada de ano. – Respondi com um tom irônico ao me ajeitar no sofá.
      - O que você quer dizer com isso?
      - Nada, somente que eu ia falar do Lorenzo para você também.
      - Ia? Ia falar o que?
      - Depois eu falo. Você me fez uma pergunta, não fez?
      - Sim.
      - E garanto que quer uma resposta, não quer?
      - Quero.
      - Ótimo.
       - Ótimo. – Repete ele.
      O silencio continuou pela sala. Então deduzi que ele realmente estava querendo ouvir com todos os detalhes a minha resposta. Não tinha para onde fugir. Eu não queria mais fugir.
      - Para começar, eu estava desacordada, eu não me lembro de muita coisa, eu estava numa festa, peguei carona, gritei, bati em alguém, alguém me bateu, alguém me empurrou, acordei no hospital. Não tenho a história completa. Eu tenho versões das histórias. Eu bebi, ele bebeu; todos nós tínhamos bebido, estávamos num carro que não comportava todo mundo. Estávamos todos errados, inclusive você. – Olhei para ele, e baixei o olhar logo em seguida – você foi onde não tinha sido chamado. Muita coisa aconteceu naquela noite, e cada uma dessas pessoas tem a sua própria versão da história, qual versão eu vou contar? A sua? A das minhas amigas? A do Armin e a do Lorenzo? Ou a minha, onde sou apenas uma menina que bebeu, entrou num carro e puxou briga? Você acha mesmo que iriam culpá-lo? Pois se você acha que sim, você não conhece os julgamentos do seu país. O que quer que tenha acontecido ficou para trás.
      - Você está certa, não vou te pressionar, mas saiba que você não enfrentaria isso tudo sozinha. Eu estaria aqui com você.
      Faltam trinta minutos para a virada do ano.
      - Eu sei.
      - O que você ia falar sobre o Lorenzo?
      - Acho melhor deixar para outra hora. Não quero estragar nossa virada de ano.
      - Eu já estraguei, pode falar.
      - Você não pode surtar.
      - Eu não vou surtar.
      - Promete?
      - Prometo.
      - Jura juradinho com o mindinho?
      - Juro juradinho com o mindinho. Você sabe que está parecendo uma criança, não sabe?
      - É eu sei.
      - Eu fui ver ele no Natal, fui a pé entregar o presente que eu já tinha compro. – Quando falo isso, percebo que seu rosto se fecha automaticamente.
      - Você esta me falando que saiu no natal, sozinha, para ir atrás dele?
      - É. Foi isso que eu fiz.
      - Não acredito Megan, mas que porra, por que você fica indo atrás desse cara? – Ele passa as mãos ansiosas por seu cabelo, empurrando todos os fios para trás.
      Ele levantou rapidamente e saiu andando. Merda.
      - Aonde você vai? – Eu gritei.
      Ele foi para a cozinha, e voltou com o buque e parou em minha frente com a cara fechada.
      - Eu não quero que você vá atrás dele de novo, então – ele se ajoelhou na minha frente e tirou uma caixinha vermelha – Namora comigo Megan Loren Scott?
      As lágrimas passavam pelos meus olhos descontroladamente, eu me agachei no chão e mentalmente sussurrava sim, sim, sim.
      Até que eu disse em voz alta.
      - Sim.
      Os fogos de artificio rompiam a imensidão do céu, enchendo o mundo de cores indicando a chegada do próximo ano. E eu estava parada na frente do meu mundo colorido.
      Agora é oficial. Enfim namorados.

Única Estrela no CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora