Capítulo 03

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Incrível como toda vez que eu entro nesse hospital meu estomago começa a dar voltas e meu coração acelera de imediato. Agora é tão estranho caminhar por esses corredores que por tanto tempo foram minha segunda casa, cansei de dormir nesses bancos e acordar no outro dia toda dolorida. Já sei o trajeto até o quarto dele de cor, e a maioria das enfermeiras por aqui já me conhecem. Caminhei um pouco apressada e parei suspirando na porta do quarto 311, fiquei alguns instantes fitando minha própria mão encostada na maçaneta, até finalmente resolver gira-la e entrar no quarto.

— Pili! — Fui recebida por um sorriso sincero de Purre e senti as borboletas fazerem uma festa em minha barriga. Fernanda também me olhou sorrindo e eu retribuí tímida.
— Olá minha querida. Tudo bem? — Ela me abraçou e eu balancei a cabeça positivamente. — Bom, agora quer a Pili chegou eu vou sair porque tenho alguns problemas pra resolver. — Ela me soltou e pegou a bolsa. — Algum problema pra você Pili? — Eu balancei a cabeça.
— Não, nenhum Fernanda. Pode ir tranqüila. — Sorri sincera e ela retribuiu mandando um beijo no ar pro Purre e saindo logo em seguida. Fiquei alguns segundos fitando a porta que acabara de se fechar até sentir Purre me encarando e me virar pra ele sentindo o rosto arder. — Hey! — Me aproximei da cama sorrindo.
— O médico falou que daqui a uns 4 dias eu posso receber alta. — Ele falou animado sentando na cama. — Quero voltar logo pra casa, não agüento mais esse quarto. Quero ensaiar com os caras também, se eu ainda lembrar como toca. — Ele olhou para as próprias mãos.
— Claro que lembra Purre, você sempre tocou super bem. — Sorri acariciando o braço dele.
— Você demorou pra vir me ver. — Ele fez bico e eu fiquei com vontade de pular em cima dele. — Algum problema? — Ele me olhou preocupado e eu neguei com cabeça.
— Não, nenhum. Só fiquei um pouco cheia de trabalho na faculdade, e o estágio também que me cansa. — Suspirei. Passei a semana inteira querendo ver Purre novamente, mas cada dia chegava mais tarde em casa. E também não podia deixar o Théo lá todos os dias. — Ah, lembrei de uma coisa que eu trouxe pra você! — Falei sorrindo e pegando uma foto que eu coloquei na bolsa antes de sair de casa.
— O Théo! — Ele falou animado olhando para uma foto que havia sido tirada uma semana antes do acidente. Nela estava o Théo fazendo careta no colo de Purre enquanto ele me abraçava pela cintura e eu ria. — Ele é lindo, Pili. — Purre sorriu ainda mais.
— Eu te disse.— Falei sorrindo. Ele me olhou e depois voltou a atenção para a foto, ficou alguns instantes olhando pra ela e sorrindo. — Ele sente sua falta. — Falei baixo e Purre me olhou sério.
— O que você diz pra ele? — Purre botou a foto na mesa ao lado da cama.
— Que você tá viajando. — Dei de ombros. — Antes costumava dar certo, mas agora sinto que de certa forma ele não acredita mais. — Mordi o lábio tentando controlar algumas lágrimas que insistiam em querer cair.
— Hey. — Purre me abraçou pela cintura de forma que eu sentasse na beira da cama. — Pili, eu vou receber alta daqui a alguns dias, e a primeira coisa que eu vou querer fazer é conhecer o meu filho, o nosso filho. — Ele sorriu meigamente e eu balancei a cabeça concordando. Ficamos alguns minutos abraçados em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro. — Será que o Théo sente raiva de mim por eu ter ficado esse tempo todo sem dar noticia? — Ele me encarou com o rosto próximo ao meu.
— Claro que não, Purre. —  Sorri fraco. — Você é o pai dele e nada muda isso, ele te ama. — Encarei os olhos dele que não se decidiam entre olhar para meus olhos ou minha boca. Ele se aproximou um pouco fazendo com que nossos narizes quase se encostassem e meu coração querer sair pela boca. Mais alguns segundos nos encarando e quando eu senti no nariz dele tocar no meu, uma batida na porta fez com que eu pulasse mais de um metro de distância dele.

— Licença. — Uma enfermeira entrou sorrindo no quarto e eu respirei um pouco aliviada. Talvez as coisas estivessem indo rápido demais. — Então Purre , como você tá? —Ela sorriu anotando algumas coisas em uma prancheta.
— Tô ótimo. — Ele riu sem graça e me olhou logo depois. Forcei um sorriso e desviei o olhar para a janela.
— Que tal dar um passeio aqui pelos corredores? — A enfermeira sugeriu animada. '
— Esticar um pouco as pernas, o que acha? — Ela olhou pra Purre e ele balançou a cabeça concordando.
— Ela pode ir comigo? —Ele apontou pra mim e a enfermeira sorriu concordando.
— Vocês formam um casal lindo. — Ela nos olhou de um jeito apaixonado e eu sorri sem graça.
—Olha, é o nosso filho.— Purre sorriu como uma criança mostrando a foto que eu tinha lhe dado minutos antes.
—Ah, vocês tem um filho? —Ela pegou a foto e sorriu. —Que menino lindo!! Como ele chama? — Ela nos olhou devolvendo a foto pra Purre.
— Théo. — Respondi enquanto ele botava a foto novamente na mesinha.
— Ah que gracinha. Vocês são uma linda família. — Ela sorriu sincera e eu retribuí. —/— Vamos Purre? — Ela abriu a porta para que eu e Purre passássemos e depois andou ao nosso lado. — Bom, normalmente eu acompanho o paciente, mas como você está muito bem acompanhado Purre , vou olhar outros pacientes. — Ela sorriu e se afastou virando em um corredor logo a frente. Um silêncio se instalou entre mim e Purre , talvez ainda estivéssemos confusos sobre a grande aproximação que tivemos instantes atrás.

— Odeio silêncios constrangedores. — Ele falou de repente me fazendo rir.
— Então, quando sair daqui você vai pra casa da sua mãe? — O olhei séria. Eu ainda morava na casa que a gente dividia, já que tinha vendido meu antigo apartamento desde que me mudei pra casa de Purre . Na verdade seria estranho agora, porque a gente divide o apartamento, mas a verdade é que ele é do Purre , sempre foi.
— Provavelmente. Minha mãe vai querer ficar o dia inteiro grudada em mim. — Ele sorriu sem graça. Era verdade, do jeito que a Fernanda é coruja, ela não ia querer se separar dele nem por um segundo. — Então, o Théo já estuda? — Purre mudou completamente de assunto e eu sorri com o interesse dele pelo filho.
— Uhum, entrou há pouco tempo, ainda tá se adaptando. — Botei as mãos no bolso e continuamos andando lentamente pelo corredor quase vazio.
— Antes ou depois do acidente? — Ele me olhou e eu sorri fraco.
— Um pouco antes. Fomos juntos com ele no primeiro dia de aula, aliás, na primeira semana a gente teve que ir porque ele tinha medo de ficar sozinho, depois ele fez alguns amiguinhos. — Suspirei lembrando de alguns acontecimentos um pouco antes do acidente.
— É estranho ouvir minha vida contada por outra pessoa. — Ele riu baixo balançando a cabeça. — Se não tivesse acontecido esse acidente, como estaria nossa vida, Pili? — Ele me olhou sério e eu fiquei algum tempo calada.
'Não acho que teria mudado muita coisa.' Dei de ombros. — A gente estaria no mesmo apartamento, cuidando do Théo . Você com a banda e eu com a faculdade e o estágio. Seria uma vida normal, Purre. — Sorri fraco e ele retribuiu.
Seguimos pelo corredor conversando sobre nossas vidas, Purre agora perguntava sobre mim, sobre a faculdade, o estágio. E eu estaria mentindo se dissesse que ele não parecia interessado em tudo.
— Ah, acabou nosso passeio. — Fiz uma voz de criança e Purre riu entrando no quarto.
— Daqui a pouco a Fernanda deve tá chegando. — Falei me encostando na cama e Purre se sentou ao meu lado.
—Pili , você erm...—Ele me olhou como se pensasse no que falar e eu levantei a sobrancelha.
— Eu... — Mexi a cabeça pra que ele continuasse.
— O que você...sentia por mim? — Ele me olhou nos olhos daquela forma que faz com que eu me sinta vulnerável, parece que ele consegue ler minha alma. Fiquei algum tempo encarando os olhos dele sem reação, meu coração batia tão acelerado que fiquei com medo dele ouvir. Sentia o olhar angustiado de Purre sobre mim e sua respiração pesada que parecia se aproximar cada vez mais. Eu me sentia incapaz de falar qualquer coisa ou de mexer um músculo sequer.
Mais uma vez uma batida da porta fez com que eu pulasse a mais de um metro de distância de Purre e ele suspirou passando a mão pelo cabelo.

— Voltei! — Fernanda entrou sorridente no quarto e eu agradeci mentalmente.
— Aconteceu alguma coisa Pili? Você tá pálida! — Ela me olhou preocupada e eu forcei um sorriso.
— Não não, tá tudo bem. Eu...preciso ir pra casa. — Falei rápido pegando minha bolsa. Sorri para Fernanda e olhei receosa pra Purre que sorriu fraco, retribuí e saí da sala o mais rápido possível.

Fui o caminho inteiro até em casa pensando nas palavras de Purre . Por que ele queria saber o que eu sentia por ele? Iria fazer alguma diferença afinal? Bufei pegando as chaves de casa e quando abri a porta fui recebida por um Théo sorridente.
— Mãããe. — Ele veio correndo e me abraçou. Minha maior felicidade é sem duvidas chegar em casa e ser recebida com um sorriso do meu filho.
— Own meu pequeno. Tudo bem? — Sorri pegando-o no colo e indo sentar no sofá. Ele balançou a cabeça positivamente. — Daqui a alguns dias eu acho que você vai ter uma surpresa, meu amor. — Falei lembrando das palavras de Purre sobre querer ver logo o Théo .
— Papai? — Ele sorriu como se já soubesse.
— É surpresa danadinho. — Mordi de leve a bochecha dele que riu alto. Sem duvidas ele sabia que era alguma coisa relacionada ao Purre .

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