Capítulo 27

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Acordei na manhã seguinte, sentindo uma respiração bater pesadamente em meu pescoço. Abri os olhos sem me mexer, e então senti um peso em minha cintura, olhei cuidadosamente pra baixo e vi a mão de Purre entrelaçada na minha. Me virei um pouco ficando de barriga pra cima de modo que pudesse encarar o teto, Purre não fez nenhuma menção de ter acordado, eu sorri sozinha e pousei minha mão livre delicadamente em sua nuca e fiquei acariciando seu cabelo.

A única coisa que se ouvia era o tic tac do relógio na cômoda, imaginei que devia ser cedo, já que Théo ainda não tinha acordado. Fiquei alguns instantes lembrando da noite anterior, e todos os meus pensamentos me levaram apenas pra uma pessoa... Anne.
Afinal, ela e Purre estavam ficando e ainda assim ele falou aquilo tudo pra mim. Suspirei baixinho tentando adivinhar o que viria a seguir. Eu sabia que Purre não tinha falado com ela no dia anterior, pelo menos não depois de eu estar acordada. Será que eles tinham brigado na festa ou alguma coisa do tipo? Resolvi não me animar demais, eu pude ver na festa que Purre parecia realmente gostar dela, mesmo que fosse pouco comparado ao que ele sentia por mim (ou não), ele gostava dela, e eu sabia que ele a respeitaria.

Ouvi um risinho baixo e quando virei meu rosto vi Purre me encarando com uma expressão engraçada.
'Que foi?' Perguntei um pouco sem graça.
'Você estava tão absorta em pensamentos que eu parei pra admirar.' Ele deu de ombros. Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas não emiti som algum. Voltei a encarar o teto enquanto sentia o polegar de Purre passeando pelas costas da minha mão.
'Eu senti falta de dormir sentindo o perfume do seu cabelo.' Ele admitiu antes mesmo que eu pudesse perguntar. Eu reprimi um sorriso e apenas continuei encarando o teto.
'Você sabe o que está fazendo, certo?' Virei um pouco meu rosto podendo encarar seus olhos que expressavam duvida. 'Digo, falando essas coisas pra mim.' Ele abriu um pequeno sorriso no canto da boca e eu continuei o encarando séria.
'Espero que sim.' Ele falou baixo e eu concordei balançando a cabeça.

Os minutos que permanecemos em silêncio pareceram horas sem fim. Agora além do tic tac do relógio, eu podia ouvir sua respiração batendo constantemente em meu ouvido. Pensei em citar delicadamente alguma coisa sobre a Anne, mas nenhuma desculpa convincente surgiu em minha cabeça.
'Hoje é domingo.' Ele falou num tom de voz calmo e ao mesmo tempo deixando transparecer seu incomodo por causa do silêncio. Eu concordei balançando a cabeça sem olhá-lo. 'Quer sair, fazer alguma coisa?' Ele manteve a voz calma e eu suspirei.
'Talvez.' Dei de ombros, um pouco mais indiferente do que eu realmente estava. Senti seu olhar em meu rosto, me analisando atentamente e não ousei virar para encará-lo. De alguma forma, eu sentia o impacto das palavras que trocamos no dia anterior, e aquilo me deixava sem reação.

'Você já pensou em ter dividir alguém que você ama muito, com outra pessoa?' Falei me assustando com a naturalidade com que minhas palavras saíram. Eu estava me referindo à Anne, mas tinha certeza que ele não iria entender tão rápido.
'Hm.' Ele pareceu pensar por alguns instantes. 'Provavelmente não.' Respondeu num sussurro. Eu me virei pra encará-lo, mas seu rosto estava um pouco abaixado e ele parecia encarar nossas mãos ainda entrelaçadas.
'Dói só de pensar.' Eu admiti falando tão baixo quanto ele. Ele levantou os olhos encontrando os meus e ficamos nos encarando em silêncio.
Eu amava encarar os olhos de Purre , apesar de eu raramente conseguir saber o que ele estava pensando ou sentindo, eu sempre podia ver sua inocência quando os encarava. Apesar de seus quase vinte e um anos, e de todas as indecências que ele vê, pensa e faz, é só olhar nos olhos dele para perceber que ele ainda é como uma criança. É como se eu pudesse ver o Théo através de seus olhos.

'Não é como se a culpa fosse só minha.' Ele finalmente falou num tom de defesa e eu imaginei se ele tinha entendido sobre o que eu estava falando.
'Eu sei.' Mordi meu lábio virando meu rosto para o outro lado já um pouco perturbada com os olhos de Purre . O ouvi suspirar pesadamente e soltar delicadamente minha mão. Encarei isso como uma indireta para que encerrássemos o assunto permaneci calada encarando a parede ao meu lado.

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