Capitulo 12

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As semanas se passavam rápidas e o aniversário de Théo ficava cada dia mais perto. Eu já estava cuidando dos preparativos junto com Purre , apesar de mal nos falarmos. A ultima conversa amigável que tivemos foi para discutir aonde seria o aniversário, e foram apenas algumas palavras rápidas, acabamos optando por fazer na casa de Fernanda que tem um jardim e um bom espaço para uma festa infantil. Purre não me parecia bem pra falar a verdade, ele tinha sempre um olhar um pouco triste e eu sempre ouvia os meninos comentando o quão distraído ele estava. Confesso que várias vezes pensei em correr até ele e dizer tudo que eu sinto e simplesmente dar uma chance pra nós dois, mas eu sei que não é assim que as coisas funcionam. Preferi deixar que o tempo cuidasse de tudo, o que tivesse que acontecer, iria acontecer.
'Pili , você vai contratar palhaços?' Purre perguntou enquanto eu anotava algumas coisas. Estávamos na casa de Fernanda resolvendo alguns preparativos enquanto Théo estava na escola.
'Acho que não, por quê?' O olhei séria e ele fez careta.
'Ná, eu odeio palhaços.' Ele deu de ombros e eu soltei um riso baixo.
'Somos dois.' Falei encarando um papel na minha frente e notei que Purre ficou algum tempo me observando. 'Erm...acho melhor eu ir. Já tá quase na hora do Théo sair da escola.' Forcei um sorriso e me levantei pegando a bolsa.
'Ah, ok.' Ele também se levantou e abriu a porta pra mim. 'Fala pro Théo que amanhã eu vou levá-lo no parque.' Ele sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. Dei um aceno rápido e saí de lá sabendo que Purre me acompanhava com o olhar.

'Hey amiga!' Abri a porta e encontrei uma Renata sorridente.
'Boa tarde, minha florzinha do campo!' Ela cantarolou e eu ri da cara boba dela.
'Fiquei curiosa! Conta logo!' Fechei a porta e a puxei até o sofá enquanto ela ria do meu desespero.
'Não tem nada certo ainda, mas...' Ela fez uma cara de suspense e eu arregalei os olhos ansiosa. 'Eu acho que eu e o Santiago vamos voltar!' Ela falou rápido se controlando pra não gritar.
'Não acredito!!' Pulei em cima dela gritando e nós rimos. 'Me fala, como assim não é nada certo ainda, o que houve?!' Saí de cima dela me ajeitando no sofá. Théo apareceu na sala e eu o botei em meu colo.
'Erm...' Ela olhou pra Théo com uma cara em duvida. 'Pode falar na frente dele?' Ela fez uma cara sapeca e eu ri.
'Ai sua ridícula, o menino não tem nem 3 anos. Fala logo!' Balancei a cabeça e abanei o ar mandando-a prosseguir.
'Tá, a gente tem se falado quase todos os dias, e ontem ele fez um jantar pra mim na casa dele!' Ela falou com os olhos brilhando. 'E aí a gente acabou dormindo juntos, e ele disse que sentia muito minha falta e, ai Pili ! Eu voltei a sentir todas aquelas coisas bobas que eu sentia no começo do nosso namoro!' Ela fez uma cara apaixonada e eu sorri largamente, era bom ver que ela e o Santiago estavam se entendendo de novo.
'Ah, que lindo amiga! Eu fico tão feliz por vocês!' Falei pegando a mão dela e apertando carinhosamente. 'Vocês se gostam e tem mais é que ficarem juntos.' Sorri.
'Olha só quem fala né?' Ela fez uma cara irônica e eu dei língua. 'Sério Pili , quando você vai voltar a falar normalmente com o Purre ?' Ela me olhou séria.
'Ah, não sei Rena .' Dei de ombros indiferente. Incrível, qualquer outra amiga ficaria do meu lado e ainda me ajudaria a xingar o Purre , mas Renata tinha que ser do contra!
'Pili , pára de fingir que você não se importa com tudo isso, com esse afastamento.' Ela falou um pouco mais alto.
'Não tô fingindo nada, Renata .' Falei irritada. 'Mas você sabe o que foi encontrar aquela menina semi nua na casa dele aquele dia? Eu vi todos aqueles dois anos voltarem a tona, senti que tudo aquilo iria acontecer de novo, e não é isso que eu quero!' Falei já sentindo meus olhos arderem por causa das lágrimas que queriam cair. Respirei fundo com Théo ainda em meu colo e lancei um olhar pra Renata dando a entender eu não queria falar naquele assunto.
'Ok, desculpa.' Ela me olhou com pena e eu balancei a cabeça concordando. 'E a Fernanda , já deu noticia?' Ela falou se referindo a viagem surpresa de Fernanda até Liverpool. Uma prima dela ficou doente, e ela teve que ir às pressas até lá.
'Já! Ela disse que vem no aniversário do Théo , mas não sabe ainda se terá que voltar pra Liverpool.' Dei de ombros. 'Mas que bom que ela vem pro aniversário, Théo ficaria chateado se ela não viesse, né meu amor?' Virei Théo de frente pra mim e ele riu alto.
'Pili , posso falar uma coisa?' Rena me olhou apreensiva e eu confirmei. 'Cada dia que passa ele fica mais parecido com o Purre .' Ela falou olhando pra Théo que ainda sorria.
'É, eu sei.' Falei em meio a um suspiro e sorri pra Théo .

'Théo , atende o telefone pra mamãe, meu amor!' Gritei de dentro do banheiro enquanto trocava minha roupa por uma camisola. Théo estava sentado em minha cama e o telefone ficava bem ao lado.
'Alô?' O ouvi falar enquanto saia do banheiro. 'Papai!' Ele sorriu e eu senti meu coração dar pulinhos e meu estomago fazer uma reviravolta. Théo sorria enquanto Purre provavelmente falava coisas bobas com ele. Me sentei ao seu lado e ele estendeu o telefone sorrindo pra mim. Passei a mão por seu cabelo e beijei sua cabeça pegando o telefone de sua mão e suspirando antes de atender.
'Hey!' Sorri inconscientemente e me amaldiçoei por isso.
'Você tá ocupada?' Ele parecia um pouco nervoso, e eu também me senti assim.
'Não! Tava só aqui conversando com o Théo !' Falei sorrindo e olhando pra Théo que estava deitado me observando.
'Hm, e o papo tava bom? Aposto que vocês estavam falando de política, esse é o assunto preferido dele.' Ele falou sério me fazendo rir alto.
'Não seu bobo, eu apenas gosto de ficar conversando com meu filho pra que ele repita minhas palavras.' Falei parando de rir. 'Aliás você deveria ensinar também.' Falei ficando mais séria.
'Vou ensinar algumas coisas que todo homem precisa saber!' Ele falou rindo e eu bufei me controlando pra não rir também.
'Não Purre , nada disso. Tô falando sério, você precisa ouvir ele tentando falar as palavras certinhas. É a coisa mais linda!' Sorri boba pra Théo que brincava com o controle remoto.
'Nosso filho é lindo Pili , e consequentemente tudo que ele faz é lindo.' Ele falou bobo e eu ri baixinho. Ficamos um tempo em silêncio apenas ouvindo nossas respirações calmas, eu olhava pra Théo e tinha certeza que em alguns anos ele seria a exata cópia de Purre .
'Sabe o que a Renata me disse hoje?' Quebrei o silêncio e ele fez um barulho com a boca negando. 'Ela falou que o Théo fica cada dia mais parecido com você.' Ri baixinho e Purre ficou em silêncio, talvez sorrindo, talvez não.
'E isso é bom?' Ele perguntou baixo enquanto eu deitava ao lado de Théo que já estava um pouco adormecido. Olhei pra ele respirando calmamente e observei seu rosto de perto.
'Não sei.' Suspirei fechando os olhos. Novamente ficamos em silêncio, não era constrangedor, mas era como se tivéssemos medo de quebrá-lo.

'Purre ?!' Perguntei depois de um tempo.
'Oi.' Ele respondeu calmo.
'Você ligou pra ouvir minha respiração?' Falei rindo baixinho.
'Foi.' Ele respondeu rindo também e eu fiquei sem graça. Pensei em falar alguma coisa, mas deixei que o silêncio prevalecesse mais uma vez.

'Um filme.' Falei tentando quebrar o silêncio que já estava me incomodando. 'Diz a primeira coisa que vier na sua cabeça.'
'Ok! De Volta Para o Futuro.' Ele falou com convicção.
'Uma cor.'
'Azul.'
'Uma qualidade.'
'Hm...eu sou um bom pai, não sou?' Ele riu.
'Acho que sim.' Falei brincando. 'Um objeto.' Continuei.
'O porta retrato do meu criado mudo.' Ele respondeu, e na mesma hora e eu lembrei quando ele disse que a foto que eu tinha lhe dado no hospital ficava no criado mudo ao lado de sua cama.
'Uma frase de alguma música.' Falei balançando a cabeça para afastar meus pensamentos.
'Can't you see that I wanna be, there with open arms. It's empty tonight and I'm all alone, get me through this one.' Ele cantou baixinho Letters To You do Finch e eu senti uma vontade imensa de chorar, mas não podia fazer isso. Suspirei e segui em frente.
'Um sentimento.'
'Culpa.' Ele falou baixo e eu senti uma pontada no peito.
'Uma palavra.' Falei devagar.
'Desculpa.' Ele disse em meio a um suspiro.
'Uma certeza.' Falei de olhos fechados já sentindo algumas lágrimas teimosas rolarem por meu rosto.
'A de querer você só pra mim e pra sempre.' Ele respondeu baixo e de uma forma triste enquanto eu sentia meu coração querer sair pela boca. Fiquei em silêncio apenas ouvindo sua respiração pesada.
'Purre .' Falei baixo me ajeitando embaixo do cobertor.
'Oi.' Ele respondeu com uma voz cansada.
'Me lembra amanhã que isso não foi um sonho?' Me senti boba falando isso, e ele riu baixo.
'Lembro, pequena. E mesmo se fosse um sonho...' Ele parou um instante. 'Eu tornaria realidade pra você.' Ele completou e eu sorri idiotamente.
'Purre .' Falei o nome dele pela milésima vez.
'Meu nome soa mais bonito com a sua voz.' Ele falou rindo.
'Purre .' Repeti e nós rimos. 'Boa noite.' Falei mais baixo já com os olhos fechados.
'Boa noite, Pili .' Ele falou tão baixo quanto eu. Suspirei e desliguei o telefone. 'Eu te amo.' Sorri comigo mesma desejando que ele tivesse dito a mesa coisa.

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