Capítulo 26

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THOMAS


Eu dei espaço para o Eduardo durante toda a primeira semana de junho. Não me aproximei dele, não fiz nenhum tipo de contato com ele, tentei até não pensar nele. Desde que nós beijamos, nossas últimas palavras foram quando eu o mandei para fora do quarto. Se espaço era o que ele precisava no momento, eu dei todo o espaço que ele precisava, e que eu poderia aguentar.

No sábado seguinte, eu não aguentava mais.

Não falar com ele durante todo esse tempo me consumia lentamente, até chegar num ponto que estava insuportável. Quando o relógio já passava das 3 da tarde, eu saí do meu apartamento e fui em direção ao prédio ao lado do meu. Eu estava determinado e encorajado para o que pretendia fazer e nada iria me parar.

Quando as portas do elevador se abriram no 3º andar do prédio dos Ferreira, eu vi um apartamento calmo e sem movimento. Tudo estava em ordem e em paz, o que me fez imaginar que o garoto o qual eu procurava talvez estivesse em seu quarto. Minha imaginação logo foi contrariada quando eu ouvi passos e uma voz vindos da cozinha em direção a sala.

Eduardo estava usando apenas uma bermuda de moletom cinza. Seu corpo, não malhado, porém definido, estava exposto e isso causou uma perturbação em minha mente, o que me fez precisar concentrar no motivo pelo qual eu estava ali.

-Thomas... – disse o Ferreira mais novo estático ao me ver ali em sua casa. Ele estava sem reação e apenas segurava um copo com suco. A visão do seu corpo estava me distraindo mais do que deveria, e eu tentava manter a postura. -O que você faz aqui?

-Precisamos conversar – respondi de forma séria e segura. Eu não saio deste apartamento sem antes ter as minhas respostas.

-Sobre...

-Você sabe sobre o quê – falei me aproximando mais do moreno. -Precisamos conversar sobre o beijo.

-Acho que não temos muito o que falar sobre isso – ele estava visivelmente nervoso e nem tentava parecer que não estava, apesar de permanecer firme em sua fala. -Você estava irritado e agiu por impulso. Apenas isto. Obrigado pela visita.

-Nada disso – segurei sua mão o impedindo de seguir em direção a escada. -Se tem uma coisa que aquele beijo não foi, foi um impulso, e você sabe disso.

-Depende do ponto de vista.

-Você quis aquele beijo tanto quanto eu – disse lentamente enquanto o encarava. Eu estava no "modo sedutor" e eu podia perceber que estava fazendo efeito. -Você me beijou tanto quanto eu te beijei e nem tente negar ou fugir. Talvez eu tenha sido precipitado em dizer que te amo, mas tudo que aconteceu naquele quarto foi totalmente sincero. Eu sei disso, você sabe disso e você sabe que eu sei que você sabe. A pergunta que fica é: por quanto tempo você vai continuar fingindo que algo não surgiu depois daquele beijo?

-Não sei – respondeu ele colocando o copo de suco na mesinha de centro. -Sinceramente, eu não sei. Eu ainda não faço a menor ideia do porquê eu te beijei.

-Mas não é óbvio? – questionei com um sorriso relaxado no rosto enquanto observava a feição inquieta do garoto a minha frente.

-O que é óbvio, Thomas?

Eu me aproximei mais e o beijei novamente. Sentir os lábios dele nos meus novamente era como alcançar a superfície mais uma vez após passar segundos debaixo d'água sem respirar. Desta vez, o beijo foi mais lento e calmo. Eu pude apreciar todos os segundos pelo qual ele durou, e a sensação de vazio que ficou em mim após o primeiro beijo foi finalmente preenchida.

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