Capítulo 1.

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Any Gabrielly

Sabina insistia para que eu dormisse em sua casa, mas eu não estava afim de dormir entre vários outros corpos bêbados e desconhecidos, então recusei sua oferta, e também a de Noah, que se ofereceu para me levar até minha casa, apesar de ele estar sem carro. Não fiz isso por não querer sua companhia, mas sim porquê sabia que Sabina queria o garoto por perto.

ㅡ Eu vou ficar bem, Sabi. Prometo ligar assim que chegar em casa - disse, descendo alguns degraus da escada que levava até o quintal, onde havia algumas pessoas dançando, e outras assassinando seus pulmões e fígado com cigarros e bebidas, e até outros tipos de drogas.

Estava esfriando, e a roupa que eu vestia não era uma das mais adequadas para o momento, já que meu vestido deixava minhas pernas e braços expostos, causando arrepios por conta do ventinho chato. Então cruzei meus braços, na intenção de amenizar o frio, o que não adiantou.

A maioria dos postes estavam com suas lâmpadas queimadas, e a rua com pouca iluminação era um perfeito cenário de filme de terror, me deixando com uma pontada de medo e mil paranóias na cabeça. E se já não bastasse isso, eu passei por dois prédios, e entre eles havia um beco, que pelo que sei encurtaria o caminho, sendo uma espécie de atalho. Eu até já havia passado por ali, mas durante o dia, e o beco não tinha nenhum tipo de iluminação, dava apenas para ver o final do mesmo que dava em outra rua, um pouco mais iluminada. Minha vontade era de ligar para Noah e aceitar sua companhia, mas agora já estava aqui, e não podia deixar Sabina na mão.

Respirei fundo, e quando estava prestes a dar o primeiro passo ouvi um barulho que mais pareciam passos, olhei rapidamente para os lados, e não havia ninguém ali, além disso os passos haviam se silenciado.

ㅡ Deve ser apenas coisa da sua cabeça, Any. Você está com um pouco de medo, e por isso está ouvindo alguns barulhos. Apenas relaxe - eu repetia baixinho para mim mesma, tentando acreditar naquilo, que talvez fosse mesmo verdade. ㅡ Quer saber? Foda-se!

Em um ato de coragem, liguei a lanterna do meu celular e comecei a andar rapidamente naquele corredor escuro. O cheiro de materiais orgânicos que vinha das lixeiras era extremamente forte, mas no momento eu nem ligava muito para isso. A adrenalina que percorria meu corpo fazia com que eu ignorasse tudo ao meu redor, ou quase tudo.

Ouvi mais alguns barulhos atrás de mim, e no momento eu sentia que havia alguém me perseguindo. Comecei a andar cada vez mais rápido, o corredor escuro parecia não ter mais fim. E quando finalmente cheguei no final do mesmo, esbarrei em um corpo um pouco mais alto que o meu. Dei um pulo assustada para trás, e o loiro a minha frente me olhou apavorado, provavelmente confuso com o que estava acontecendo. Olhei para todos os lados, inclusive para o beco, checando se não tinha mais ninguém além de nós dois e não havia ninguém atrás de mim, tudo foi apenas fruto da minha imaginação. De imediato meus ombros relaxaram, e passei a recuperar o fôlego que eu perdi fugindo de algo que nem sequer existia e estava em minha cabeça.

ㅡ Você está bem? - O loiro que até então eu não sabia nem o nome, perguntou.

Assenti com a cabeça, sem dizer uma única palavra. Meu coração ainda estava acelerado, e eu ainda estava assustada, ou nervosa, talvez as duas coisas. Assim que me acalmei o suficiente para que pudesse falar algo, perguntei:

ㅡ O que faz sozinho a essa hora?

Eu estava curiosa, e um pouco desconfiada. Não sei nem porque estava falando com um estranho. Agora que já estava mais calma pude reparar mais em como ele era. Ele era loiro, com os olhos claros, azuis como o oceano, o garoto vestia uma jaqueta vermelha, com uma blusa preta por baixo, e uma calça jeans com alguns rasgões. Até que ele era bem bonito. Por que é que eu estou reparando no corpo e no jeito que um desconhecido se veste?

Sai de meus devaneios assim que escutei sua risada, que fizeram se formar pequenas covinhas em suas bochechas.

ㅡ Eu ia te perguntar o mesmo, Senhorita. E a propósito, me chamo Josh - estendeu uma mão para me cumprimentar, ainda com um sorrisinho no rosto.

ㅡ Ahn... Prazer, Josh. Me chamo Any - apertei sua mão, mas não com muita força.

ㅡ Um nome muito bonito - disse com um tom um pouco galanteador.

Ele estava tentando flertar?

ㅡ Então... até mais, Josh.

Quando comecei a dar alguns passos o garoto segurou meu braço, mas não com muita firmeza, mesmo assim franzir o cenho. E assim que olhei para sua mão em meu braço ele a soltou, com um olhar que parecia pedir desculpas.

ㅡ Eu acho que posso te acompanhar, já está tarde, e sabemos que não é seguro para uma moça andar sozinha essa hora da noite. Todos sabemos que existem diversos babacas por aí.

Concordei com a cabeça, eu não o conhecia mas ele tinha razão, e eu estava com medo de andar sozinha por aí justamente pelo que havia acontecido (ou não) a alguns minutos atrás. Mas eu também deveria lembrar que ele era um desconhecido e eu não deveria confiar em desconhecidos, mas mesmo assim me deixei levar pela intuição.

ㅡ Vamos, minha casa é por ali - apontei com o indicador.

ㅡ Vamos - assentiu, com um pequeno sorriso.

Andamos lado a lado, sem muitas palavras, até que ele resolveu puxar assunto, ou apenas me ajudar mesmo.

ㅡ Está com frio?

Apontou seu olhar para meus braços que novamente estavam cruzados por conta do frio. Antes que eu respondesse, ele tirou sua jaqueta vermelha e colocou sobre meus ombros. Apenas agradeci com um sorriso.

ㅡ Então Josh, ainda não me respondeu o que estava fazendo na rua essa hora da noite - sorri tentando o convencer de me contar.

ㅡ Você também não respondeu - ele sorriu, um pouco convencido por ter vencido essa "batalha", então resolvi me render e responder.

ㅡ Eu estava em uma festa de uma amiga.

ㅡ Eu também estava em uma festa. Na casa da Sabina, certo?

Assenti com a cabeça, confirmando. Como eu não o vi lá?

ㅡ Eu não te vi lá.

ㅡ Pois é, eu sempre costumo ficar mais isolado nos cantos onde ninguém possa me ver - deu de ombros, sorrindo.

ㅡ Entendo.

E ali o assunto morreu, apenas por alguns segundos até o garoto iniciar mais uma conversa, perguntando minha idade. Ambos temos dezenove anos. De repente estávamos falando sobre qual era nosso doce favorito, entre muitos outros assuntos aleatórios.

Em poucos minutos já estávamos em frente à minha casa, parados, sorrindo por conta de nossos assuntos anteriores, dessa vez sobre ensino médio e todas as marcas que acabamos fazendo.

ㅡ Bom... acho que é hora de eu entrar, amanhã tenho alguns compromissos cedo - ficamos em silêncio, e eu na verdade esperando ele se despedir e ir embora, e pelo jeito acabei desistindo de esperar. ㅡ Boa noite, Josh.

Nos abraçamos rapidamente, e subi as escadas que levavam até a porta de entrada. Olhei uma última vez para o garoto que estava parado com as mãos no bolso, sorrindo para mim e devolvi o sorriso, antes de entrar e trancar a porta.

Liguei algumas luzes da casa e caminhei até meu quarto, indo direto para minha cama. Me sentei na ponta da cama, tirando meus sapatos e quando tirei o casaco, percebi que não havia devolvido sua jaqueta do loiro. E o pior é que nem pedi seu número de telefone. Mas se ele quiser a jaqueta de volta virá buscar, ou talvez não. Decidi que no dia seguinte iria pedir o número dele pra Sabina, ela deveria o conhecer.

Me deitei, cobrindo meu corpo com um cobertor. A luz da lua era a única coisa que iluminava meu quarto, e em poucos minutos eu apaguei sem nem perceber.

Red JacketOnde histórias criam vida. Descubra agora