Capítulo 19.

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Any Gabrielly

Aos poucos a escuridão foi tomando o local, anunciando que a noite havia chegado.

A noite, lar da escuridão, escuridão que me engoliu e me trouxe para cá. Agora a escuridão era meu lar, era meu refúgio, era também onde os meus piores pesadelos se encontravam, escondidos, preparados para me assombrar durante uma noite inteira.

Aconchegada nas lembranças de Noah que insistiam em girar em minha cabeça e, eu sei que no fundo, eu não queria que essas lembranças fossem embora, pois eram as únicas coisas em que eu podia me agarrar nesse momento. E nesse momento eu tinha apenas aquelas lembranças e o silêncio que me consolava.

Me agarrei aquele silêncio, junto do cobertor que estava estendido sobre a cama, sujo como a mesma, porém a única coisa que poderia me aquecer, já que além do frio que fazia, tudo em meu interior era escuridão e frio, todos meus sentimentos congelados, deixando livre desse gelo apenas a raiva e a tristeza que eu sentia pela morte do meu melhor amigo.

Não só o frio e a raiva me incomodavam, mas também a fome. Eu estava o dia todo sem colocar nada na boca, já que mais cedo havia jogado minha comida no chão, mas não me arrependo, nem mesmo tendo que pagar, ficando o resto do dia com fome.

O que me restava agora? Apenas esse lugar sujo no meio do nada? Seria meu destino ficar aqui para sempre? Por que isso foi acontecer comigo? O que eu fiz para merecer isso? Não acho que haja algum motivo que faça alguém merecer passar por isso. É muita crueldade deixar alguém nesse estado. Além de todo o estrago físico, o estrago emocional causado por esta situação é ainda maior. Eu estou cada dia pior, e sinto que logo vou ficar louca.

Enquanto me aquecia com o cobertor, prestava a atenção nos passos e ruídos que vinham do andar de cima e que foram sumindo aos poucos. Isso era sinal de que estava ficando tarde e Josh logo iria dormir. Só eu mesma sabia o enorme desejo de que ele adormecesse e nunca mais acordasse. Mas como diz aquele ditado: Vaso ruim não quebra. E no caso desse vaso, para que se quebrasse, eu mesma teria que o arremessar contra o chão.

Por mais alguns longos minutos o silêncio tomava posse de toda a casa. Sem vestígios de Josh acordado, o vento apresentava uma bela melodia, junto dos galhos das árvores que se debatiam uns contra os outros.

A noite estava apenas começando.

Com minha mão presa em uma corrente grossa que se prendia a cabeceira da cama, movimentei meu pulso para frente e para trás repetidamente de maneira bruta, causando um barulho extremamente irritante por conta do choque entre as correntes e a cabeceira, ambas de ferro. O rangido que era causado irritava até mesmo a mim mesma, mas eu não iria parar. Eu iria passar o tempo que fosse preciso fazendo aquilo, pois estava disposta a lhe infernizar, e aquilo não chegaria nem aos pés da dor que me atormenta.

Meu braço já estava dolorido e meu pulso vermelho, mas isso era o que menos me importava. Continuei puxando meu pulso para frente, talvez aquilo também ajudasse a quebrar as correntes, mesmo que isso fosse quase impossível.

Parei por curtos segundos apenas para escutar os rangidos de madeira, talvez fosse a cama. Estava dando certo. Então, continuei com aquilo.

Os rangidos haviam sumido. Posso imaginar ele no momento tentando voltar ao seu sono, colocando até mesmo um travesseiro em cima de sua cabeça, tentando abafar os barulhos e, por fim, como realmente foi feito, um resmungo irritado.

E eu continuava com aquilo, mesmo cansada e com dor, eu passei longos minutos que foram se transformando em horas. Algumas vezes eu gritava, pedia por socorro, mesmo que amordaçada não adiantava de nada. E novamente barulhos surgiam do andar de cima, era Josh, cada vez mais incomodado com os barulhos que eu estava fazendo.

Berrei contra o tecido que estava em minha boca e que silenciava meus gritos.

Aquilo continuou por mais tempo, e mesmo que ele viesse me impedir de continuar, eu sabia que estava incomodado.

Novamente fiz aquilo, mas agora ouvi passos pesados no assoalho, vindo até a porta do porão e então a abrindo com brutalidade, descendo as escadas rapidamente. O garoto vestia apenas uma bermuda de cor preta, revelando todo o resto de seu corpo. E após toda essa analise, levei meu olhar ao seu rosto, que tinha uma feição furiosa.

Sua mão agarrou minha mandíbula com certa força, aproximando meu rosto do seu.

一 Socorro! - Gritei, sabendo que não adiantaria de nada pois minha voz estava sendo abafada pelo tecido que me amordaçava.

一 Eu estou perdendo minha paciência com você, então acho melhor parar de gracinha!

Seu tom de voz demonstrava irritação, mas ainda assim continuava baixo.

Sua mão tocou o tecido que se encontrava em minha boca e o tirou dali, deixando o mesmo pendurado em meu pescoço.

一 Eu te odeio!

Berrei.

Sua feição se contraiu ainda mais, demonstrando mais irritação.

一 Você me odeia sim, mas não tanto quanto se odeia! Esse ódio que te consome sempre existiu, e eu não sou o único culpado, apenas ajudei que você o libertasse.

Ele dizia, rangido os dentes, com seu rosto muito próximo do meu. Seu olhar carregado de raiva se encontrava com o meu que estava tomado pelo mesmo sentimento.

Eu sabia que o que ele havia dito tinha um tanto de verdades, mas eu o odiava tanto a ponto de jamais admitir isso.

一 Você não sabe nada sobre mim! Eu te odeio! - Gritei, furiosa.

Ele novamente me amordaçou.

一 Eu sei muito mais do que você imagina.

Ele deu as costas para mim e se afastou, novamente subindo as escadas e trancando a porta.

Por impulso, coloquei o peso de meu corpo para frente, puxando a corrente que me prendia e então causando mais barulhos do confronto entre os dois metais, das correntes e da cabeceira.

O que acharam?
A música que aparece no capítulo se chama Afterlife e é da Hailee Steinfeld, vale muito a pena dar uma conferida no clipe original, tem uma pegada dark mas muito lindo que acho que vocês iriam gostar.
Criem suas teorias com essa música e com toda a história até agora.

Red JacketOnde histórias criam vida. Descubra agora