Any Gabrielly
Minhas mãos estavam trêmulas, meu corpo mole, e as lágrimas escorriam como a água que caí de cachoeiras, em grande quantidade.
Eu gritava por Noah, descontrolada, enquanto era arrastada com certa dificuldade por Josh até o porão. Comecei a me debater, tentando escapar de seus braços. Eu precisava sair dali e pedir por ajuda, precisava que descobrissem o monstro que ele é.
Infelizmente, como em todas as outras vezes, eu falhei. Eu falhei minha vida inteira tentando me encaixar, tentando impressionar as pessoas que gosto e tentando ser alguém melhor. E é graças a todas essas falhas que meu amigo está morto. E eu não sei se conseguirei viver com essa dor e culpa.
Meu corpo havia sido jogado novamente naquela cama suja em que por muitos dias eu dormi, e novamente meu braço estava acorrentado naquela cabeceira. Eu era novamente sua prisioneira.
No momento sair dali já não era mais minha prioridade, eu não sabia se tinha alguma prioridade. A única prioridade que eu tinha se foi pelos ares.
Um sentimento de culpa e arrependimento pairava sob minha cabeça, e isso apenas aumentava a dor que eu estava sentindo.
Em meio aos meus vários devaneios acabei adormecido sem nem mesmo perceber.
Um som de pneu esmagando cascalho me tirou do meu sono. Acordei desorientada, sem lembrar do UE havia acontecido. Precisei de alguns segundos para lembrar do que havia acontecido e então novamente as lágrimas vieram a tona. O aperto em meu peito era torturante. Mas eu não queria que ele sumisse, era mais fácil sentir a dor e ter no que me agarrar do que simplesmente lutar contra e acabar enlouquecendo nesse lugar.
Voltei a focar no barulho que havia acabado de escutar que, pela minha intuição era de um carro que havia acabado de chegar.
Quem será? Josh não parece ter amigos, e se tivesse creio que não traria pra cá. Eu acho. Talvez já tivessem descoberto o assassinato de Noah e então vieram atrás de Josh. Mas, pensando bem, acho que não. Haveria mais barulho, a porta não rangeria como de costume pois já teria sido arrombada por um dos policiais.
Os passos no andar de cima eram lentos, mas não de alguém que não conhecia o local e estava sendo cauteloso, eram apenas passos preguiçosos. Era Josh. O assassino que arrancou meu amigo de mim. Tirou sua vida. Uma vida em que ele poderia ter explorado seus mais profundos mistérios e encontrado a felicidade no que o fizesse bem.
Pela raiva, tristeza, revolta e instinto eu comecei a gritar, pedir por socorro, mesmo sabendo que aquilo não adiantaria de nada. Eu iria infernizar a vida desse idiota, e não me importava de qual seriam as consequências à serem enfrentadas.
一 Socorro! Alguém me ajuda!
Berrei o mais alto que pude, repetindo essas frases durante mais vezes, cada vez mais alto. Algumas vezes eu mudava a ordem ou a frase.
一 Me tira daqui!
Gritei repetidas vezes.
E isso se repetiu durante mais ou menos uns trinta minutos, pelo menos eu acho, não tinha como ter certeza.
A porta que ficava no topo das escadas daquele porão foi aberta de forma violenta, batendo contra parede, e Josh desceu os degraus em uma velocidade impressionante, porém, seus gestos e expressões mostraram o quão desnorteado e ao mesmo tempo irritado ele estava.
一 Dá pra calar a boca?
Berrou na mesma altura que eu, mas eu continuei, queria testar seus limites.
一 Socorro! Alguém me ajuda!
Minha voz ecoava naquele comôdo. Josh, que estava extremamente incomodado com o barulho levou as duas mãos aos seus ouvidos, fechando os olhos. Acredito que aquilo era uma forma de tentar se acalmar.
一 Por favor, me ajudem!
Gritei novamente. Eu podia sentir a ardência em minha garganta, mas não iria parar tão cedo, comente quando estivesse sem voz.
O garoto, em um ato de irritação, arrancou a blusa que usava e a girou várias vezes, deixando o mais fina possível e, mesmo com muita resistência, conseguiu me amordaçar. Tentei gritar mas o som era abafado pelo tecido, tal qual me dava nojo em saber que estava em minha boca. Porém, por rápidos segundos, acabei voltando minha atenção para o seu abdômen que agora se encontrava descoberto. Voltei para a minha concentração onde pneu único objetivo era irrita-lo, e também onde esse objetivo havia ido por água abaixo quando acabei me distraindo com seu corpo muito bem definido e acabei abaixando a guarda, o deixando me amordaçar mais facilmente.
Josh, agora com uma expressão aliviada, saiu dali, voltando para o andar de cima.
E assim passei o dia, olhando para. parede com aquele pedaço de pano em minha boca, que já estava me machucando.
Em meio ao silêncio, me veio diversas lembranças de Noah e meus amigos, momentos bons, ruins, o dia em que encontrei com Josh no beco escuro, minha discussão com Noah, as festas em que eu frequentava com Sabina e o dia em que tudo isso foi tirado de mim, o dia em que Josh, o garoto que parecia tão gentil, me sequestrou. Até ai nada havia me abalado tanto, mas quando lembrei do episódio horrível que presenciei, a morte de Noah, as lágrimas voltaram a rolar. Além de extremamente doloroso, era assustador a naturalidade como Josh fez aquilo. Como alguém poderia assassinar outra pessoa com tamanha tranquilidade? Como alguém chega à esse ponto?
Todas aquelas lembranças e minhas lágrimas foram interrompidas pela porta do porão que novamente foi aberta. Era Josh, o monstro que me mantém aprisionada e que mata meus amigos. Ele estava segurando uma bandeja com um prato de comida e um copo de água, só assim me fazendo perceber que já era noite. Eu poderia aproveitar que estava faminta e que não era o sanduíche velho, mas a minha raiva era maior que qualquer outro sentimento.
O garoto, em silêncio, largou a bandeja sobre a cama e se aproximou de mim, tirando a camiseta de minha boca, mas sem desamarrar, deixando-a pendurada em meu pescoço. Ele segurou o garfo com a comida e tentou levar à minha boca, digo tentou pois não abri minha boca. Ele suspirou, cansado, tentando insistir, mas sem resultado. Quando largou o talher no prato e segurou a bandeja, dei um chute na mesma, fazendo virar tudo no chão. Então novamente comecei a berrar por ajuda.
一 Socorro!
Josh, com uma expressão nada boa, veio até mim e voltou colocar a camiseta em minha boca, dessa vez, apertando um pouco mais.
Irritado, ele limpou toda a bagunça, e em silêncio voltou para o andar de cima, me deixando ali, sozinha novamente.
O que acharam desse capítulo? (música no início do capítulo aleatória)
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Red Jacket
FanfictionOnde Any resolve voltar para casa pelo caminho mais curto, um beco escuro. Nesse trajeto acabou por encontrar Josh, um completo desconhecido. Quem diria que esse desconhecido poderia mudar sua vida da maneira mais fria e assustadora possível? Cover:...