Capítulo 20

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Any Gabrielly

Eu já perdi as contas de quanto tempo estou nesse lugar, mas vou arriscar um mês. E quanto tempo irei continuar aqui? Será que algum dia irei sair daqui? Sinceramente, acho que não. Devo estar pagando os pecados de todas as minhas vidas passadas.

Já se passaram alguns dias desde a morte de Noah e eu ainda não superei, se é que dá para superar algo assim. Meu estômago embrulha só de olhar nos olhos de Josh que se encontram tranquilos com toda aquela situação enquanto lembro de Noah sendo morto. E novamente as lágrimas começam a cair.

Como alguém não desconfiou de nada? Como ainda não descobriram o caso de Noah?

De todo modo, prefiro que Sabina não desconfie de nada e não se meta nisso, eu não suportaria perder mais uma amiga, ainda mais Sabina. Eu faria de tudo para defender minha melhor amiga, um ser humano tão puro, verdadeiro e compreensível, mas mesmo com todas essas qualidades eu não fui capaz de lhe contar a verdade sobre quem eu sou e o que eu fiz. O mesmo eu fiz com Noah, e ele se foi.

Sequei as lágrimas que deslizavam minha bochecha assim que ouvi um barulho de chaves na tranca da porta. Josh adentrou o comôdo como de costume com uma bandeja onde carregava o típico sanduíche horrível e uma garrafinha com água. Depois de dias negando sua comida e fazendo de tudo para lhe contrariar eu havia resolvido me comportar e comer, pois aquilo só estava me prejudicando ainda mais e de qualquer jeito eu não sairia mais dali.

Ainda em silêncio, Josh se sentou próximo aos meus pés e esticou seu corpo, colocando a bandeja ao meu lado. Lhe encarei por curtos segundos e em seguida dei toda minha atenção ao sanduíche ao meu lado, mas eu não estava sentindo fome, ao contrário, estava com náuseas. Neguei com a cabeça.

一 Voltou a fazer birra? Eu não estou com a mínima paciência. 一 Seu tom era mesmo impaciente.

一 Só não estou com fome. Me leva no banheiro, por favor.

Meu tom de voz era baixo, calmo, minha cabeça estava abaixada com meu olhar preso no lençol que uma vez foi branco e agora se encontrava sujo.

一 Tudo bem - concordou, balançando a cabeça de forma positiva.

Ele se pôs em pé e veio ao meu lado, onde desprendeu minha mão de uma das correntes e a prendeu em algemas que carregava consigo toda vez que descia para o porão. Eu não encontrava energia alguma para lutar contra, por isso, como nos outros dias eu apenas lhe obedeci.

Fui levada até o banheiro e, antes que eu pedisse, Josh se retirou, me deixando a sós para que pudesse fazer minhas necessidades com o mínimo de privacidade. Aquilo era um sequestro, mas era evidente que ele não queria que eu pensasse assim, algumas vezes tentava transformar tudo em algo que lembrasse minha vida fora daqui, queria fazer eu me sentir em casa, ele queria que essa fosse minha casa. Ele é completamente maluco.

Após minhas necessidades, lavei minha mãos e encarei por um longo período de tempo meu reflexo nos cacos de vidro que ainda se encontravam grudados na parede, mesmo depois da maior parte do espelho ter se partido quando empurrei o rosto de Josh contra o mesmo.

Ao sentir a água gelada entrar em contato com minha pele, lembrei de como era poder tomar um banho, já que fazia um bom tempo que eu não fazia isso. O banheiro do porão só possuía uma pia e privada, e Josh jamais arriscaria me deixar tomar um banho no andar de cima, depois de tudo que fiz.

A caminho do lado de fora do pequeno banheiro, tudo girou e senti minhas pernas enfraqueceram, quando pensei que iria tocar o chão, fui agarrada pelos braços de Josh que me seguraram com firmeza.

一 Any! Você está bem? - Perguntou, e com um gesto de cabeça se repreendeu. 一 Claramente não. Eu te ajudo.

Ainda com tudo girando, senti seus braços me colocarem em seu colo e então fui levada até a cama, onde fui colocada com certo cuidado pelo garoto.

Logo havia passado, era apenas uma tontura, mas ele permanecia sentado aos meus pés, com um semblante preocupado. Se eu não conhecesse o monstro que ele é, até diria que ele está preocupado.

一 Essas birras para não comer estão fazendo mal a você mesma, não à mim. - Ele apontou para a bandeja so meu lado. 一 Anda Any, vai acabar adoecendo.

Ri em um tom irônico, negando com a cabeça.

一 Como se você se importasse.

一 Quem disse que não me importo?

O silêncio tomou imediatamente o local, pois agora ninguém fazia questão de dizer nada.

Seu olhar me encarava e em seguida desviava para a bandeja com comida, indicando que eu comesse. Não resisti e assim o fiz, deixando algumas mordidas no sanduíche, que de nada me agradava, pois eu não estava sentindo o mínimo de fome.

Além de comer tudo como ele havia pedido, quase ordenado, bebi toda a água que havia na garrafinha pois com sede eu estava.

一 Tenho algumas coisas à fazer, mais tarde eu volto para trazer seu jantar. Não faça nenhuma besteira.

Ele se afastou, até já estar fora do porão, trancando a porta.

De início não entendi o que ele queria dizer com "Não faça nenhuma besteira" e levei alguns segundos para perceber que ele não havia prendido minhas mãos com as correntes, apenas com as algumas, ou seja, eu poderia andar livremente. Agora entendi que ele queria dizer que eu não tentasse nada que fosse me arrepender, e dessa vez iria lhe obedecer para que ninguém saísse machucado.

Levantei da cama, sentindo um Sr de liberdade, e mesmo que pareça bobo, andei pelo comôdo de um lado para o outro, saltitando e girando algumas vezes, pois mesmo que ainda fosse pouco, fosse o mínimo de liberdade, para mim era muito já que passei tanto tempo presa.

Passei o dia fazendo isso, andando, indo ao banheiro todas as vezes que eu desejava, e também em uma janela pequena, tampada por um pedaço de madeira, onde havia algumas frestas por onde passavam os raios de sol, foi por ali que eu espiei a paisagem lá fora. A última vez que saí para fora uma grande tragédia aconteceu, e ao lembrar novamente as lágrimas tomaram conta de meu rosto. Saber que nunca mais veria Noah era uma dor imensurável, afinal, ele, assim como Heyoon, Sina, Krystian e Sabina eram minha família, pessoas que me acolheram sem nem saber sobre minhas verdadeiras origens.

Por alguns segundos até pensei em fugir por aquela pequena janela, e se eu quisesse eu poderia, mas do que adiantaria? Eu não estaria segura lá fora, Josh me encontraria ou faria algo para meus amigos assim como fez para Noah. O melhor era ficar e manter meus amigos seguros.

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