Any Gabrielly
Após longos minutos no banho, fazendo toda a minha higiene, menos a bucal, pois minha escova de dentes se encontrava no banheiro do porão, resolvi não abusar da quantidade de tempo debaixo do chuveiro.
Peguei uma toalha que estava pendurada, a mesma que usei ontem a noite, enrolei em meu corpo e com outra toalha que se encontrava pendurada também, sequei meu cabelo.
Abri a porta do banheiro, só então percebendo que desde ontem a percentagem de liberdade que eu tinha aumentou uma boa quantia.
Josh não estava por ali, provavelmente estaria na cozinha. Vasculhei o quarto com meu olhar e parei na cama, onde havia uma camiseta de cor branca e uma calça de moletom cinza que não parecia ser sua. A calça serviu perfeitamente, mas a camiseta parecia mais uma de suas que ficavam grandes para mim.
Já vestida, tentei ordenar meus cachos para então ir até a cozinha, onde encontrei Josh. Meu olhar foi levado a mesa, onde havia algumas frutas, suco, café e sanduíches. Eu estava faminta, e essa foi uma das melhores coisas do dia de hoje. Fazia um bom tempo que eu não tinha um café da manhã desses.
一 Sente-se, fique a vontade - fez um gesto com a mão para que eu me sentasse, e assim o fiz.
Josh se sentou também e se serviu, apontando para que eu fizesse o mesmo. Dei uma mordida em meu sanduíche, enquanto encarava a mesa, sem coragem alguma para encarar Josh. Não sei quanto tempo iria durar, mas tão cedo eu não conseguiria lhe olhar nos olhos. Ainda não entendi como chegamos ao ponto de irmos parar na mesma cama.
一 Se arrependeu?
O encarei, finalmente.
一 Prefiro não falar sobre isso, não agora.
Voltei a me alimentar e a evitar lhe olhar nos olhos.
一 Então se arrependeu.
一 Eu não disse isso, só é estranho.
一 Entendo. Mas pense que era o que deveria acontecer, afinal, sabemos que fomos feitos um para o outro.
O que mais me assustou naquela fala foi o fato de ele não ter usado ironia. Pela primeira vez senti falta de seu sarcasmo. Era doentio como ele falava aquilo com a maior tranquilidade, como se fosse a verdade, mas era apenas fruto de sua mente. Ele forçou o destino a se tornar como era de seu desejo.
Uma lembrança veio a minha mente e fez com que eu deixasse esse pensamento de lado, pelo menos agora. A lembrança era da noite passada, quando comigo em cima da bancada Josh lançou tudo o que havia nela ao chão. Meu olhar se voltou para o assoalho embaixo da bancada, já estava tudo limpo.
Terminei meu sanduíche e meu suco. Peguei meu prato e copo e fui até a pia, começando a lavar o que sujei. Sequei e guardei o copo e prato. Pensei em voltar para o porão, mas não sabia se era o correto a se fazer no momento. Acostumei com aquilo, o que é errado, eu sei. No momento eu precisava do porão, que por passar horas trancada lá dentro era onde me fazia pensar melhor.
Neste mesmo momento, Josh se levantou, largando o que havia ocupado para tomar café sobre a pia, guardando alguns frios na geladeira. Lavei seu prato e copo, guardando os mesmos em seus devidos lugares.
一 Vou precisar sair.
Ele não precisou dizer mais nada, entendi o recado.
一 Claro.
Dei a volta ao redor da bancada e fui para o porão. Josh me seguiu, para assim que eu estivesse dentro do comôdo ele pudesse trancar.
Por um lado, é claro que eu me incomodava de estar ali trancada, afinal, estou presa aqui. Mas por outro, é muito melhor estar aqui, pelo menos nesse momento, ao ter que estar perto dele e lembrar do que fizemos. Não me arrependo, não totalmente, pois eu queria isso, não vou ser hipócrita, mas era errado por muitos motivos, o mais evidente era que ele era meu sequestrador.
Iniciei uma caminhada até a cama e ali me joguei, encarando o teto repleto de teias de aranha. Era onde eu me encontrava, em uma teia de aranha, presa, me enrolando cada vez mais, e Josh era a aranha, era quem estava tecendo a teia para me prender e era quem iria me ferir no final de tudo. Por mais que tentasse, eu não conseguia sair dali. Eu precisava de uma chuva forte ou alguém que desmanchasse aquela teia, mas eu estava sozinha.
Josh havia armado cada detalhe, e o pior é que ele acreditava nas suas ilusões de que o mundo nos juntou e de que fomos feito um para o outro, quando na verdade ele fez com que seus desejos se tornassem reais. Ele não possuía emoções, ele as finge, mas eu sei que não tem. Talvez ele queira ter, mas não consegue, é como se ele tivesse se desligado de tudo. Ou talvez ele estivesse desligado desde sempre. Não tem como saber. Mas se tem algo que sei é que ele não é como as paredes do porão, que apesar de toda a escuridão e sujeira elas ainda carregam sua essência que se limpas podem ser vistas por todos.
Como eu poderia estar sentindo atração por alguém que só me causou dor? Eu só poderia ser masoquista para mesmo sendo ferida ainda assim gostar disso.
Tudo a minha volta me sufocava, o fato de eu ter que decidir de que lado eu estava, talvez nem houvesse um lado. Saber que eu estava prestes a morrer e mesmo assim não fazia nada me deixava louca. Era como se eu estivesse em uma espécie de transe e nesse momento meu lado consciente tentasse me acordar, mas no fundo eu não queria, talvez fosse sofrer menos.
O pior, ou em outra perspectiva seria o melhor, é que eu estava morrendo aos poucos, antes mesmo que Josh tentasse algo contra mim, pois ele havia lançado sete facas em minhas costas assim que matou Noah. Essas facas estavam me causando uma morte lenta e dolorosa.
Me sigam no Instagram: @kauanjahnn
Em um trecho da música que coloquei no capítulo fala sobre as facas nas costas da Any que citei ali no final do capítulo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Red Jacket
FanfictionOnde Any resolve voltar para casa pelo caminho mais curto, um beco escuro. Nesse trajeto acabou por encontrar Josh, um completo desconhecido. Quem diria que esse desconhecido poderia mudar sua vida da maneira mais fria e assustadora possível? Cover:...