Capítulo 13

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Any Gabrielly

Pelas minhas contas, haviam se passado sete dias, uma semana desde o acontecido no beco escuro que me trouxe aqui. Há quatro dias Josh acordou no meio da madrugada e veio até o porão, parecia perdido, vulnerável, até trocamos algumas palavras e ele trouxe um cobertor para mim. Mas depois, nos dias seguintes ele não trocou uma palavra sequer comigo, não olhou na minha cara e nem me irritou com seu tom irônico enquanto me chamava de "querida". Josh apenas me trouxe água e o sanduíche horrível de sempre durante todos esses dias.

Eu conseguia ouvir seus passos e barulho de portas e armários se abrindo, e em seguida se fechando. Mas nada do som de sua voz.

Acabei chegando a seguinte conclusão: Por que chamam de louco quem fala sozinho? Josh prova que essa teoria está errada.

Um barulho de vidro se chocando com o chão e então se quebrando.

一 Merda! 一 Reclamou em um tom alto.

Pela primeira vez senti o aroma de comida sendo preparada nesse lugar. Era de costume que eu me alimentasse apenas de sanduíche e bebesse água, por isso, o cheiro da comida estava me causando água na boca. Parecia estar muito bom. Isso fez com que meu estômago fizesse barulhos, avisando que estava com fome. Tentei me conformar de que não poderia comer o mesmo que Josh, tentando pensar em outra coisa.

Permaneci em silêncio, sentada na cama, observando a escuridão do comôdo que era iluminado apenas pelo abajur que Josh trouxe.

Várias coisas surgiram em minha mente.

Como Sabina está? Será que ela sente a minha falta? Eu sinto a dela, até mesmo de acordar cedo para lhe acompanhar ao trabalho.

A lista mental que eu costumava fazer fazer não existe mais, afinal, por que fazer uma lista mental do que terei que fazer durante o dia se agora eu passo o dia todo trancada aqui?

Passos se aproximavam da porta, o que atrapalhou minha concentração e fez eu me ajeitar na cama.

A porta se abriu e aquele corpo desceu com calma os degraus da escada.

一 O jantar esta pronto 一 disse, enquanto caminhava em minha direção.

Acabei por arquear uma sobrancelha, confusa.

Antes que eu perguntasse algo, ele já estava soltando a corrente de meu pulso.

一 Acho melhor não tentar nada, querida.

Respondi com um aceno de cabeça. Levei um tempo para me levantar, pois estava massageando meu pulso, já que a tanto tempo estava presa por aquelas correntes. Levantei, e com ele praticamente colado em mim, fui acompanhada até as escadas. Respirei fundo, enfim chegando ao fim das escadas, atravessando o arco da porta. Em minha frente ainda havia um corredor a ser atravessado. Por alguns segundos, senti um pouco de liberdade percorrer minhas veias, mas ao sentir o calor de sua aproximação, toda aquela fantasia de liberdade havia ido embora.

Caminhei com Josh praticamente em cima de mim, assegurando que eu não tentaria nada, de fato, eu não me preparei para uma situação dessa, eu nem esperava que isso acontecesse.

A mesa estava arrumada, uma mesa pequena de quatro lugares com um dois pratos, um em frente ao outro.

Josh, em um ato de cavalheirismo, puxou a cadeira para que eu me sentasse, e assim o fiz.

一 Preparei lasanha, espero que goste.

Caminhou até o forno e o abriu, pegando um pano de prato para poder segurar a travessa de vidro. Trouxe a travessa até a mesa e ali a deixou.

一 Por que está fazendo isso? 一 Perguntei.

一 O que? - Arqueou uma sobrancelha.

一 Um jantar, sendo legal.

Ele achou graça.

一 Se quiser, pode voltar para o porão e eu levo um sanduíche para você.

Foi irônico. Eu revirei os olhos.

Josh serviu um pouco de arroz e um pedaço da lasanha em meu prato.

一 Obrigado 一 disse quase em um sussurro.

Josh serviu o mesmo que para mim em seu prato e sentou em seu lugar. Dei uma primeira garfada na comida e experimentei. Se estivesse envenenado, pelo menos eu iria morrer de barriga cheia.

Minha vontade era engolir tudo de uma vez, eu estava faminta. Fazia tanto tempo que eu não comia algo tão bom.

Josh sorriu, parecendo gostar de minha expressão de aprovação. Tentei lhe encarar por mais alguns segundos, mas logo desviei meu olhar.

一 Gostou? 一 Perguntou, com uma expressão curiosa.

Assenti com a cabeça.

一 Você não era tão tímida assim.

Levou o garfo com comida até a sua boca e mastigou o alimentou, sorrindo apenas com os lábios.

一 Já que tocou no assunto, por que estou aqui? Como me encontrou?

Despejei todas aquelas perguntas. Após mastigar, ele respondeu.

一 Após o jantar responderei as suas perguntas.

O silencio voltou a tomar o lugar. Me servi uma segunda vez, eu estava realmente com fome. Enquanto comia, observei cada detalhe, eu não havia planejado nada para uma ocasião como essa. Um molho de chaves estava pendurado em um prego próximo a porta, era minha chance. Observei a mesa e em seguida Josh, que estava distraído.

Em um rápido ato que aconteceu por meu instinto, joguei o suco que havia em meu copo no seu rosto, e a faca que eu segurava para cortar os pedaços da lasanha cravei na palma de sua mão que estava depositada sobre a mesa.

Josh berrou de dor. Eu levantei rapidamente, estava ganhando tempo enquanto ele tentava tirar a faca da mão. Corri até a porta, onde na parede peguei o molho de chaves e com minha mão tremendo testava cada uma das chaves para ver qual era a certa. Meu tempo estava acabando, eu estava sofrendo um conflito em mim entre o medo, adrenalina, raiva, alegria por estar prestes a sair dali. Mas tudo isso se foi quando senti suas mãos agarrarem meus braços, me virarem de frente ao garoto e empurrarem meu corpo contra a porta. Sua mão ensanguentada percorreu um breve caminho até meu pescoço e o apertou com certa força.

一 Você não imagina a raiva que estou sentindo, sua sorte é que não bato em garotas.

Ele disse entredentes. Sua expressão não era boa, ele estava enfurecido. Eu estava com medo, muito medo, mas eu precisava ser forte e lutar se quisesse sair dali.

一 Mas eu bato em garotos!

Levei uma mão até a sua que segurava meu pescoço e apertei com certa força o local onde eu havia machucado com a faca a poucos minutos. Junto disso, acertei sua parte intima com meu joelho.

Josh gemeu de dor, tirando sua mão de meu pescoço e levou até sua parte íntima. O empurrei para longe e voltei a me concentrar no molho de chaves. Novamente fui puxada por ele, mas dessa vez jogada ao chão. Meu rosto que encarava o assoalho sujo com seu sangue, junto de meu corpo foi virado para encarar seu rosto.

一 Você não deveria ter feito isso, querida.

Um sorriso diabólico brotou em seu rosto.

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