Capítulo 32.

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Any Gabrielly

Mais um dia como outro qualquer, na verdade, apenas como os últimos dias tem sido. Josh tem me tratado bem, até demais, e as vezes isso me preocupa, mas tento não focar tanto nisso, toda vez que me preocupo ou tento fazer algo para me proteger acabo só me ferrando ainda mais.

Neste momento, estou arrumando a mesa, enquanto Josh prepara o jantar. Tudo está em silêncio, enquanto apenas os ruídos dos vento que move os galhos das árvores uns contra os outros cantarola pela vasta escuridão da noite.

Josh largou a tigela com macarrão e molho de almôndegas sobre a mesa. Fez um sinal para que eu me sentasse e o fiz. Ele se sentou.

Nenhuma brecha para que se iniciasse uma conversa, nada. Josh está assim desde o fim da tarde. Isso me assusta, pois pode ser mais um de seus surtos. Espero que não seja o último, pois também seria a última vez que eu tentaria me defender.

Suspirei, levando o garfo com o macarrão enrolado no metal até a boca. Josh fez o mesmo.

Levantei o olhar para encarar sua face, mas assim que percebeu que eu o encarava, seus olhos azuis se fixaram aos meus, e algo me dizia que isso não era um bom sinal. Abaixei rapidamente a cabeça, voltando a encarar meu prato cheio de macarrão e almôndegas. O melhor que eu faria agora era aproveitar aquela refeição, pois a qualquer momento ele pode surtar e me trancar no porão novamente, e minha refeição voltar a ser pão velho com presunto.

Durante todo o jantar permanecemos em silêncio. Tentei dizer algo, mas sempre que a voz ameaçava sair, eu a prendia por pensar que não era um bom momento para conversar. Ele deixou a entender que não era um bom momento.

O ajudei com a limpeza da cozinha, ainda em um completo e tedioso silêncio. Eu precisava me comunicar. Pelo menos quando ficava trancada no porão eu podia conversar sozinha. Agora sinto que não posso abrir a boca.

Josh se afastou, indo até a sala, sentando de costas para mim em uma poltrona marrom.

Na intenção de lhe agradar e melhorar seu dia, fui até ele, me posicionando atrás de sua poltrona. Levei minhas mãos aos seus ombros, acariciando os mesmos e então descendo as carícias até seu peito. Levei meu rosto até a curva entre seu pescoço e ombro.

ㅡ Vá para o porão ㅡ disse, em tom rude.

Toda a magia que eu havia criado para aquele momento se desfez, tentei até dizer algo.

ㅡ Mas... ㅡ desisti.

ㅡ Amanhã você irá limpar a cozinha e sala, nada de subir para o andar dos quartos. ㅡ Seu tom ainda era rude.

Confirmei com a cabeça, mesmo que ele não pudesse ver.

ㅡ Tudo bem ㅡ disse baixinho.

Andei lentamente até o porão, entrei e tranquei a porta, permanecendo atrás da mesma por longos segundos, segurando com certa força o metal frio da maçaneta que tinha um forte cheiro se ferrugem.

As lágrimas ameaçavam cair, por mais que eu tentasse segurar, não consegui.

Novamente vários momentos de minha vida rodaram minha cabeça. Os momentos mais horríveis, momentos torturantes que me faziam querer gritar.

Me sentei na escada de madeira velha e apoiei o ombro nos joelhos, então apoiando o rosto em minhas mãos, deixando que as lágrimas se libertassem.

Em que eu me transformei? Em sua prisioneira? Sua amante? Sua empregada? Mais uma de suas garotas mortas? Mais uma obsessão sua? O que eu era? Quem eu era?

Agarrei com certa força meus cachos escuros, apertando os olhos enquanto as lágrimas deslizavam a pele da minha bochecha.

Levantei do degrau, descendo o restante da escada até chegar lá embaixo. Fui até a parede suja e encostei minha testa ali. Levei minhas mãos até a cintura, ergui a camiseta e cravei as unhas, uma mão em cada lado. Não doía, não no momento. Era como se eu estivesse anestesiada. Me fazia ignorar a dor emocional, me ajudava a controlar. Aprendi isso no tempo que estou aqui. Preciso me machucar por fora para aliviar a dor que sinto dentro de mim.

Quando parei de forças as unhas contra a pele, levei as mãos a altura de meu rosto para que pudesse enxergar. Na ponta de minhas unhas havia um pouco de sangue. Isso me aliviou de alguma forma.

Voltei a me sentar, agora no chão gelado. Abracei minhas pernas e continuei a chorar, mas baixinho para que Josh não escutasse. Eu fazia isso todas as noites. Era uma forma de colocar tudo para fora, não deixar absorver e não esquecer quem eu realmente era.

A que ponto eu cheguei?

E o que Josh faz comigo? Por que ele me deixa confusa? Ele consegue me manipular, e mesmo eu sabendo disso não consigo me livrar. Nunca conseguirei me libertar dele, dessa vida.

Eu ainda era eu? Será que não havia esquecido de mim? Será que estava adiantando chorar e me machucar para lembrar de quem eu sou? Eu não sei, não sei mesmo. Espero algum dia encontrar todas as respostas para minhas perguntas.

As lágrimas começaram a secar, os olhos passaram a pesar e a visão se embaçar a cada vez que eu piscava, até meu olho se fechar por completo e eu voltar a ser livre, pelo menos em meus sonhos.

De repente, eu estava em um campo enorme, um campo coberto por verde, onde havia apenas eu. Eu comecei a correr desesperadamente em direção ao nada, apenas para frente, tentando encontrar algum caminho, ou alguém. Eu nunca encontrava o fim, mas foi em um piscar de olhos e os fios castanhos de Noah se chocavam aos seus olhos por conta do vento. Um sorriso de orelha a orelha brotou em seus lábios e seus braços de abriram para mim. Foi então quando apressei meus passos, correndo ainda mais rápido. Nossos corpos sofreram um forte impacto quando abracei fortemente sua cintura e suas mãos tocaram minhas costas.

Está tudo bem disse baixinho.

Minha cabeça estava sobre seu peito, enquanto uma de suas mãos acariciava meus cachos negros.

Senti respingos em meu rosto, que passaram a ser mais fortes. Toquei meu rosto e em seguida olhei para minha mao coberta de sangue. Assustada, inclinei meu rosto para ver Noah e me deparei com o garoto degolado, seu pescoço jorrava sangue para todo lado. Seus olhos assustados pedindo por ajuda enquanto se engasgava com o próprio sangue. O garoto caiu de joelhos em minha frente, por fim caído de bruços ao meus pés. Minhas mãos trêmulas e meus olhos arregalados mostravam meu estado de choque. Um grito alto rasgava minha garganta.

Acordei assustada, caída sobre o chão frio. Encarei a escuridão ao meu redor. Meu peito se movia para cima e para baixo com certa rapidez, minha respiração era ofegante. Me apoiei na parede para levantar. Andei até a cama e ali me deitei em posição fetal, voltando a chorar, lembrando do horrível pesadelo que tive. Dormir ultimamente era minha salvação, eu sempre sonhava estar liberta, e esse não parecia ser diferente, mas eu me enganei.


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