Pov Laura
Aqui vai um segredo sobre mim: tenho uma hábil experiência em fugir de tudo e de qualquer coisa com uma eficiência impressionante. Não é preciso que alguém me magoe duas vezes para que eu aprenda a lição, até porque não vou mesmo estar lá para dar essa chance a quem quer que seja. Não pense que sou incapaz de perdoar, não é isso. Eu sei perdoar sim, mas isso não quer dizer que eu queira ver ou conviver com quem me machuca. Na verdade, isso é praticamente impossível. Quando partem meu coração da maneira como ele foi partido naquela igreja, não há volta.
Não demorou nem dois minutos para um taxista de bom coração parar o carro na avenida e destravar a porta para que eu entrasse. Ele me deu uns minutos antes de perguntar meu destino, mas notei que me observava pelo retrovisor. Eu não o culpava. Ele não devia ver todos os dias a Noiva do Chucky em pessoa dentro de seu táxi.
- Para onde, querida? - A profundidade de sua voz me assustou, ele era um senhor de idade muito avançada, com com poucos cabelos brancos na cabeça, mas ainda muito bonito para a idade. Imaginei que aquele homem tivesse uma voz mais fraca, claro, porque eu realmente não tinha muitas outras coisas em que pensar, não é?
- Avenida Giovanni Gronchi, por favor. - Estava tão exausta emocionante que até falar era cansativo.
Ficamos em silêncio por quase metade do caminho, e foi suficiente para que meu mecanismo de autodefesa desse as caras. Precisava arrumar minhas malas. Os prós e os contras de mudar radicalmente de vida de novo, não chegavam a me incomodar. Um: eu perderia meu emprego. Grande coisa, quem precisa comer? Dois: perderia a privacidade do meu apartamento. Grande coisa, eu nunca fui muito tímida mesmo! Três: perderia os passeios à noite na Avenida Paulista, as caminhadas do Parque Villa Lobos, a beleza das luzes de natal da Avenida Sumaré... Sabe-se! Era só desapegar. Enquanto tivesse o Google Maps, não morreria de saudades. Mas comecei a me dedicar exclusivamente a pensar para onde eu iria... Eu tinha poucas opções e nenhuma delas era muito animadora.
- Não fique triste, menina. - disse o taxista, fazendo uma pequena pausa, certamente para saber se eu tinha saco para ouvir.
- Vamos lá, o que poderia ser pior do que seu noivo trocar você pela sua melhor amiga no altar? - continua, tio, sou toda ouvidos.
- Se não foi, não era para ser.
- Assim que a gente leva o golpe é difícil pensar desse modo.
Engrenagens funcionando, será que eu tinha feito alguma coisa para isso acontecer? Será que eu fui uma péssima noiva? O tiozinho seria um ótimo ouvinte, afinal, ele que não se arrependesse. Joguei-me entre o espaço dos bancos da frente e despejei:
- Será que a culpa é minha? Eu tenho que ter feito alguma merda para ele me trocar pela minha melhor amiga no dia do casamento, não é? Eu sou tão feia assim? Pelo amor de Deus, como aquele filho da p...
Ele me cortou.
- No momento, você não é a mulher mais bonita que eu já vi. - disse ele, rindo um pouco. Claro, porque rir das desgraças dos outros era sempre divertido. - Toma, pega. - disse me entregando um lenço branco de pano. -Não foi culpa sua, menina.
- Como o senhor pode saber? - Choraminguei.
- Porque somente um homem sem caráter faria o que esse rapaz fez a você, e nada do que você pudesse ter feito mudaria quem ele é. Pelo jeito, ele já nasceu sem compaixão, menina, e se quer saber a minha opinião, foi melhor assim. Você ainda é nova, deve ser bonita sem estar com o nariz escorrendo e os olhos pretos, e um dia vai achar alguém que vai aguentar firme lá em cima daquele altar e não vai fugir porque é mais conveniente. Ninguém humano de verdade magoaria uma moça vestida de branco no seu grande dia.
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The Girl With Red Hair
RomansaLaura Buitrago é uma linda advogada bem-sucedida. Desde que assistiu a uma cerimônia de casamento pela primeira vez, ainda criança, seu sonho é apenas um: percorrer o tapete vermelho da igreja, vestida de noiva. Porém, contrariando todas as suas exp...