Confessions

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Ela gritou tanto comigo ao telefone, que nem tive tempo de me explicar depois de pedir educadamente à recepcionista do motel que me passasse o endereço. Sofia desligou na minha cara antes. Será que ela não tinha nenhuma colega de faculdade que tinha virado psiquiatra? Viria bem a calhar.

Ela só sabia gritar comigo o tempo inteiro. Em qual intervalo de tempo eu tinha me apaixonado por ela? Foi tudo culpa daquelas mãos macias e quentinhas que ficaram perfeitas coladas nas minhas, eu tinha quase certeza.

Eu pensava nos prós e nos contras de me apaixonar por ela, quando avistei o seu carro no final da rua, inconfundível. Sofia vinha rápido o suficiente para fazer qualquer um acreditar que fora chamada para apagar um incêndio.

Ela estacionou e desceu. Quando eu estava pronta para abrir a porta do passageiro, ela me perguntou com a veia saltando no pescoço (não sei como ela não explodiu):

- Cadê ele?

- Foi embora - eu disse simplesmente, como se não fosse nada de mais, o que pareceu agravar a situação.

- Entra - mandou, abrindo a porta para mim e fechando-a em seguida com toda força. Só pela sua postura e por ela ter passado as mãos nos cabelos enquanto dava a volta no carro, deduzi que o caminho para casa seria longo. Porém eu me enganei. Ela ficou em silêncio e mal olhou na minha direção.

Assim que entramos em casa e eu conferi se estávamos sozinhas, e resolvi tirar a pulga de trás da minha orelha:

- O que foi que eu fiz?

Ela já estava sumindo para dentro do corredor, mas voltou e parou na minha frente, a um palmo de distância. Se eu tropeçasse, assim sem querer, sabe, cairia com a minha boca na dela, mas a ideia desapareceu assim que ela começou a falar.

- O que foi que você fez? - rugiu. Eu me senti na frente de um leão. Tenho certeza de que se alguém tivesse filmado a cena, meu cabelo teria aparecido voando. - Você quer que eu enumere TUDO o que você já fez?

- Não - respondi. A lista seria longa. - Só quero saber o que eu fiz agora. Por que você está tão brava?

- Quer saber por que o fato de buscá-la na porta do motel, sabendo que você estava com outro cara, me tira do sério, Laura? - Do jeito que ela gritava, eu e todo o 7° andar queríamos saber. - O filho da mãe ainda a largou na rua como qualquer uma. Eu não posso acreditar que você seja tão BURRA! - berrou, andando de um lado para outro com os punhos cerrados.

- Eu não sou burra - me defendi, magoada. Talvez só um pouquinho.

- Como não? Eu prefiro pensar nessa hipótese do que em uma pior.

- Do que você está falando, afinal? - perguntei. Ela vivia no mesmo planeta que eu? Certeza? Do que diabos ela estava falando? E lá ia a mão pelo cabelo outra vez. Ela me deu as costas.

- Você é linda demais, especial demais, para que eu pense que você se rebaixou tanto - confessou por fim. - Você sabia que o cara era um babaca, sabia que ele deu em cima da Renata e mesmo assim você foi pra cama com ele.

Engasguei. O quê? Eu? Pra cama? Com alguém? Já fazia tanto tempo, que eu nem me lembrava mais como era a sensação, minha filha!

- Eu... eu... - Não consegui falar, dava para perceber, né? Sofia se virou novamente para mim com uma decepção aparente no olhar.

- Eu deveria ter imaginado. - E levantou a mão em direção aos meus cabelos, mas deixando-as cair antes. - Eu deveria ter percebido o quanto você estava carente e que ele se aproveitaria disso.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora