- Tem certeza de que ainda quer fazer isso? - perguntou Renata pela décima vez, enquanto pegava uma roupa para mim no guarda-roupa.
- Tenho - respondi, largando o pente em cima da cama. Ela me entregou um vestido preto com bolinhas brancas, um chapéu e óculos de sol.
- Ligue assim que chegar em São Paulo, quando chegar à igreja também, e não esquece de me ligar quando sair de lá - instruiu, guardando o pente que deixei jogado. - Ah, quer saber, para o carro de meia em meia hora e me manda uma droga de mensagem para dizer se você está bem.
- Eu mando - respondi sorrindo. Mas meu sorriso tinha um tempo contado de vida. - Agora vai ver se o perímetro está limpo, não quero dar de cara com sua irmã no corredor.
Ela saiu de fininho pelo quarto e voltou depois de alguns momentos, gesticulando para eu andar logo. Passei pelo corredor e pela sala. Dei um beijo em Renata e saí do apartamento.
Seriam quase nove horas de viagem e eu não pretendia parar nem se minha bexiga estourasse. Eu já tinha saído de casa tarde, se eu não me apressasse chegaria assim que a cerimônia começasse. Isso sem levar em conta o trânsito de São Paulo. Concentrei meus pensamentos no que faria. O plano era simples: me esconder em algum lugar, até uma árvore serviria, e olhar Katy entrando na igreja. Vê-la vestida de noiva era o suficiente para mim.
Fiz a viagem em oito horas, mas cortando pela cidade, demorei quase uma hora e dez minutos para chegar à igreja. Estacionei o carro a duas quadras de distância e respirei fundo. Meu celular acabou ficando fora de área quase o caminho inteiro, então acabei desligando para economizar bateria, pois nem eu nem Renata pensamos na hipótese de ela acabar no meio da missão. Antes de sair do carro, porém, resolvi cumprir minha promessa e ligar o aparelho para avisar Renata que eu estava bem, só que uma enxurrada de alertas de mensagem chegou no mesmo instante. E nenhuma delas era promissora.
Reniboo:
Ferrouuuuuu! Elas descobriram!
ABORTAR MISSÃO!
Pelo amor de Deus, não conversamos sobre o celular desligado?
Cadê você?
Você contou para ela.
Sua bêbada burra, VOCÊ CONTOU DO CASAMENTO!Merda. Será que eu realmente contei para Sofia ontem? Por que fui encher a cara? Era bem típico eu estragar tudo. Embora meu histórico de amizade fosse péssimo, eu duvidava que Renata tivesse aberto o bico. Eu, por outro lado, me achava muito capaz de ter chorado no ombro de Sofia ontem. Como eu era patética. Mas agora que já estava aqui não perderia a viagem. Mandei uma mensagem para Renata, dizendo que estava bem e já tinha chegado, e saí do carro para a noite fria de São Paulo. Quando cheguei, as portas da igreja já estavam fechadas, como imaginei que estariam, mas avistei o carro da noiva na esquina. Era minha chance. O único problema era que não havia nada nem ninguém para me servir de esconderijo, então acabei fazendo uma corridinha até a porta lateral da igreja e entrando em um salão anexo, com a esperança de não ser vista. Acabou que dali eu tinha uma ótima visão da entrada e, acima de tudo, a salinha me esconderia dos olhos alheios, por ser bem atrás de onde os bancos começavam. Dei uma espiada no noivo, que já estava no altar, e meu coração acelerou. Ele estava lindo num smoking branco, tinha o olhar apreensivo e sorria para as pessoas da primeira fila. Seus pais eu supunha. Que, aliás, nunca foram com a minha cara, então obviamente não deveria ter se preocupado com seu filhinho arruinando minha vida.
A marcha nupcial começou a tocar e meus olhos marejaram. Era agora, eu não tinha mais para onde fugir. Se eu saísse, ela me veria, então aguentei firme atrás da porta, olhando pela abertura, com as pernas bambas. De onde eu estava, tinha a visão do lado esquerdo da igreja, o lado por onde ela entraria.
A espera estava me matando, eu não queria ver mais nada, queria apenas minha casa e minha cama. Quando me lembrei que nem casa eu tinha por culpa deles, a primeira lágrima escorreu pelo meu rosto, e Katy fez sua grande entrada. Eu não podia negar, ela estava linda. Seus cabelos loiros estavam soltos e repletos de cachos, e seu vestido era de uma tonalidade bege, dando-lhe um ar clássico. Ele era apertado no busto e solto na cintura... Oh, meu Deus! Sua barriga, ela estava... Apertei bem os olhos, fazendo as lágrimas rolarem soltas pelo meu rosto e pingarem no decote do meu vestido. Tapei minha boca com a mão para não gritar e dei continuidade à minha tradição: olhei para o noivo. Ele sorria para ela, era o bastante. Virei-me para ir embora e vi Jade parada atrás de mim.
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The Girl With Red Hair
Storie d'amoreLaura Buitrago é uma linda advogada bem-sucedida. Desde que assistiu a uma cerimônia de casamento pela primeira vez, ainda criança, seu sonho é apenas um: percorrer o tapete vermelho da igreja, vestida de noiva. Porém, contrariando todas as suas exp...