A new beginning

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Pov Laura

A porta do quarto de hóspedes na casa da vovó foi aberta aos trancos. Nem me dignei a virar para encarar minha mãe, continuei na cama de solteiro em posição fetal, como estava desde o dia em que havia chegado, há exatas setenta e duas horas, vinte minutos e... hã... oito... nove... dez segundos. Minha mãe podia ser uma ótima pessoa, mas parece que esqueceu de entrar na fila da paciência quando Deus, ou sabe-se lá quem, estava distribuindo qualidades antes de enviá-la a este mundo.

- Chega, Laura! - rugiu, enquanto abria as cortinas com violência e deixava um sol escaldante me fritar. - Você pode passar a vida inteira imersa em autopiedade para vida, você escolhe.

- Autopiedade, por favor.

Maldita luz do sol, estava tão forte que nem o travesseiro em cima da minha cabeça fazia a sensação cegante ter fim.

- NÃO! - berrou, puxando as cobertas. - Você não pode escolher droga nenhuma! Levanta dessa cama! - mandou. Tirei o travesseiro do rosto para poder olhá-la, ela estava apontando o dedo na minha cara, para enfatizar que falava sério. - Ou eu mesma tiro você daí.

- Oh! - fingi estar boquiaberta.

- É melhor você não testar a minha paciência, garota!

Até ontem ela estava com dó de mim, mas a piedade da minha mãe realmente não costumava durar muito. A questão é que eu simplesmente não tinha nenhuma vontade de sair da cama tão cedo e estava pronta para entrar em confronto pelo poder do edredom, quando ouvi passos de salto alto conhecidos no corredor.

- Quer fazer o favor de deixar a menina em paz?

Viva, vovó! Meus pais haviam se mudado havia poucos anos para a casa dela, para que ela não tivesse que ficar sozinha, mas quem conhece nossa família sabe muito bem que, se alguém cuida de alguém ali, é minha avó.

- Ela tem que reagir, mãe. Ela não come ou toma banho há três dias! - disse minha mãe, exasperada, para minha avó. - Eu não a coloquei no mundo para virar uma porquinha imunda que tem pena de si mesma.

Nossa, quanto amor.

- Gritar com ela não vai ajudar em nada, Soraida. - E virando-se para mim: - Querida, escute a mamãe, sim? Você realmente está precisando de um banho.

- Só porque você pediu com jeitinho, vovó. - Eu adorava provocar minha mãe. Seu rostinho já estava cor de tomate maduro, mas a brincadeira só terminava quando chegava ao estágio roxo berinjela, aí eu sabia que apanharia logo, logo se não corresse para longe.

Entrei no banheiro da suíte e liguei o chuveiro, mas não cheguei a entrar debaixo d'água. Eu queria ouvir a conversa murmurada que as duas tinham pelas minhas costas. Fiquei bem quietinha e encostei o ouvido na porta.

- Ah, mamãe, olha o estado dela, não come, não dorme, não sai desse quarto. Eu a ouvi chorar todas as noites, a noite inteira, desde que chegou. - Minha mãe também estava a ponto de chorar. Eu andava tão imersa nos meus próprios problemas que não tinha percebido que meu estado nada amigável também influenciava minha família.

- Querida, isso vai passar. Acredite, já vi isso antes. - Minha avó riu. - Não se lembra quando aquele garoto cheio de espinhas ficou com aquela vizinha da esquina enquanto vocês namoravam, Soraida? Você passou meses sem tomar sorvete de chocolate porque se lembrava dele.

- Ah, mãe, faça-me o favor, não é a mesma coisa. Laura é diferente de mim, nunca namorou sério, nunca se envolveu com ninguém. Foi deixada no altar! Pelo amor de Deus, se eu estivesse no lugar dela teria pulado de um prédio.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora