The sea, the stars and her

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Eu tenho um sério problema quando digo "não" a alguém. Não sei se é minha expressão pouco confiável ou o tom de dúvida na minha voz, mas o fato é que Renata realmente me arrastou para o shopping e me fez gastar uma pequena fortuna em algumas roupas e em um novo corte de cabelo, que na verdade não fez diferença alguma. Só um salão extremamente chique tem o dom de cortar um fio do seu cabelo e te cobrar o equivalente à dívida externa de um país de terceiro mundo por isso. Fiquei tão irritada com a sessão de tortura desnecessária, que em recusei a jantar fora e aproveitar a noite de terça-feira em algum bar da vida.

Assim que abri a porta do apartamento, eu o encontrei vazio e às escuras. E eu pensando que morar com elas seria difícil. Eu praticamente morava sozinha, pois elas nunca estavam em casa.

Catcher veio trotando na minha direção com a língua de fora e, pela primeira vez em semanas, me dei conta do quanto o abandonei à própria sorte enquanto continuava à margem dos meus problemas. Eu não me lembrava quando fora a última vez em que o levei para um passeio. Resolvi trocar de roupa e levá-lo para uma caminhada na praia. Quem sabe uma água de coco e uma cadelinha para ele paquerar podiam reparar minha falta, porque a relação que ele desenvolvia com o gato era muito preocupante. Se não levássemos em conta que ele tinha um piti histérico toda vez que a palavra "gato" era dita, ele estava se dando bem com o novo amigo.

Fui em direção ao meu quarto e percebi que a porta de Sofia estava aberta. Havia uma certa claridade lá dentro e resolvi conferir se ela não havia pegado no sono com a televisão ligada, ou algo assim, mas minha presença foi percebida imediatamente.

- Oi - disse ela, sorrindo. - Onde você estava?

Minha vontade de dizer que não era da conta dela foi grande, porque aquele sorrisinho que ela me mostrou era de puro deboche.

- Com a sua irmã - respondi a contragosto. - Agora vou levar o cachorro para passear, tenho sua permissão, mestre?

- Depende. Vai ser só uma voltinha na esquina? - perguntou, ficando séria de repente.

- Não, vou levá-lo à praia.

- Não vai, não - respondeu, ainda mais séria.

- Como é que é? - Viu só? Ela tinha o dom de me irritar.

- Já está escuro.

- E daí?

- Como você é teimosa, garota, não é seguro andar por aí depois que escurece, principalmente na praia.

- Eu não estou indo sozinha, estou indo com a droga de um cachorro - respondi irritada.

- Que é mais manso que a Renata.

Dei as costas para ela e fui para o quarto me trocar. Nem minhas irmãs pegavam tanto no meu pé ultimamente quanto essa garota, quem ela pensava que era? Troquei de roupa, peguei uma canga de praia e minha carteira, enfiei tudo na bolsa e fui atrás de Catcher. Assim que cheguei à sala, Sofia já estava calçando o tênis.

- Aonde você pensa que vai? - A pergunta era só para confirmar, porque eu já fazia ideia de onde ela pensava que ia.

- Vou com você - disse se levantando.

- Não vai mesmo.

Coloquei a coleira no cachorro e o puxei para fora do apartamento. Chamei o elevador e pensei, só pensei, que tinha me livrado dela.

- Vou sim - rebateu, tateando os bolsos. - Droga, esqueci a carteira, me espera aqui, entendeu?

- Claro, mestre.

Mas assim que ela entrou no apartamento, fugi com Catcher pelas escadas. Sai em disparada pelo prédio e só parei de correr quando já tinha aberto boa distância. Eu sei que parecia uma garotinha mimada e egoísta, mas não me importava. Se ela realmente quisesse me acompanhar porque era sua vontade, eu ficaria agradecida pela companhia, mas ela apenas me tratava como se eu fosse uma criança burra que não conseguia fazer nada direito. Além do mais, a maneira como ela achava que tinha alguma autoridade sobre mim me tirava do sério, sem contar que depois do episódio do banho, eu não me sentia mais tão à vontade com ela. Ela havia contado para os pais! Que tipo de pessoa conta isso para os pais? Mas não era só isso. O que mais me incomodava é que eu tinha esquecido tudo o que aconteceu depois que ela me deixou na cama. Será que eu realmente tinha dormido ou apenas não me lembrava dos fatos? Isso me assustava, porque eu era conhecida por abri-la mesmo antes que alguém me perguntasse algo. Se eu fosse sequestrada, tudo que o criminoso precisaria fazer para eu dar minhas senhas do banco era me dar um "bom dia". Então vai saber que tipo de besteiras eu poderia ter falado depois de apagar?

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora